Embora o uso de máscaras tenha se tornado obrigatório neste ano, no Ceará, devido à pandemia do novo coronavírus, não é a primeira vez em que a tentativa de evitar o contágio por uma doença motivou o uso da máscara, por exemplo, em sala de aula. Em agosto de 1988, Fortaleza vivenciou um aumento de casos de meningite, o que fez com que alguns estudantes decidissem assistir aulas usando máscaras de proteção.
Na época, o Estado passava por uma alta no número de casos de meningite tipo B. Nos anos de 1985, 1986 e 1987, a Secretaria de Saúde do Ceará registrou respectivamente 39, 55 e 53 ocorrências da doença, segundo balanços divulgados pela pasta naquela década. No entanto, em 1988, foi contabilizado um total de 85 casos confirmados de meningite, o que representava um aumento de aproximadamente 60% se comparado ao ano anterior.
Em 1989, o número continuou a subir, chegando a 130. Durante uma entrevista em março do mesmo ano, o secretário de Saúde naquela época, Marco Penaforte, afirmou que a quantidade de casos já era esperada. "Não existe o tal surto", declarou em coletiva.
Foi pelo receio de ser contaminado que o empresário Pedro Fiúza, 40, então com oito anos de idade, decidiu utilizar a máscara em sala de aula, apesar de sua escola não ter registrado nenhum caso de meningite. Conforme entrevista concedida ao Diário do Nordeste, em 12 de agosto de 1988, ele explica que tinha "medo de que o bichinho entrasse em seu nariz ou boca e o deixasse doente", chegando a faltar aula por três meses.
Agora, quase 32 anos depois, Pedro revive uma realidade em que o uso da proteção facial se faz necessária. Sendo pai de três crianças - a mais velha com oito anos - o empresário percebe que os filhos lidam melhor com essa mudança durante a pandemia da Covid-19, colocando a máscara “como que no automático” logo ao acordar.
"É curioso ver que, na Pandemia de 2020, as crianças se adaptaram muito mais ao uso da máscara que os adultos. Para onde vão, é de máscara, e inclusive com uma reserva", compartilha.
“Ajuda psicológica”
O então diretor do colégio, José Lima de Carvalho, afirmou que as crianças encaravam o uso de máscara como necessário, adotando a mudança com naturalidade no cotidiano. Na época, a orientação não obrigava a utilização do EPI, mas elencou como opcional para cada família. "A máscara tornou-se uma ajuda psicológica, ela dá uma tranquilidade relativa aos pais, já que existe um clima de pavor em torno da doença”, disse em entrevista.
Com as informações do período, foi apontado que a via de transmissão do vírus não ocorria de forma aérea, e, por isso, “não tinha muito sentido usar máscara. Se quisesse de fato usar, não proibimos”, reforça José. Hoje já se sabe que a infecção pode ocorrer através do contato direto, “por meio de secreções respiratórias de pessoas infectadas, assintomáticas ou doentes”, segundo o Ministério da Saúde (MS).
O profissional, também médico, relembra que o uso de máscara se manteve principalmente durante o primeiro semestre, e passou a diminuir a partir de julho de 1988. O clima foi de medo pelas sequelas da doença, que pode causar impactos ao cérebro.
“Aconteceu muito medo, muito receio, muito temor. Na época, a classe média estava tão receosa como ficou no coronavírus”, finaliza.
Sintomas
Os principais sintomas da meningite incluem febre alta repentina, dor de cabeça e na nuca, rigidez no pescoço e vômito. Também podem ocorrer náuseas, convulsões, sonolência ou dificuldade para acordar, sensibilidade à luz, falta de apetite e manchas ou rachaduras na pele. Bebês recém-nascidos podem apresentar moleira elevada e inquietação.
De acordo com o Ministério da Saúde, todas as faixas etárias podem ser acometidas pela doença, mas o maior risco de adoecimento está entre crianças menores de cinco anos, e, especialmente, as menores de um ano de idade. Por isso, o Órgão indica que manter a caderneta de vacinação em dia é a forma mais eficaz para a prevenção.
O Programa Nacional de Imunização oferta quatro tipos de vacina - BCG, pentavalente, meningocócica C e pneumocócica v-10 - que protegem contra a doença.