Após receber amparo da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), a peixe-boi ‘Pintada’ foi reintroduzida ao mar de Icapuí, no último dia 6, e já viajou mais de 200km em seis dias, retornando próximo ao local onde recebeu cuidados durante anos, no Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM), em Caucaia.
De acordo com o zootecnista e técnico de monitoramento sênior da Aquasis, Pitágoras Viana Jr., depois de realizada a soltura do animal marinho, ele normalmente inicia um movimento exploratório do ambiente.
“Eu não acredito que ela sentiu alguma semelhança ou falta do ambiente, porque quando ela esteve aqui, em Caucaia, ela estava em piscinas. Então eu creio que é só um instinto [natural] que fez ela se deslocar no sentido oeste”, explica.
É normal isso acontecer, o animal tá explorando próximo da costa e isso dá uma segurança maior pra equipe. Apesar de não ser habitual pra espécie, ela ainda se sente segura em áreas mais rasas. Provavelmente ela vai continuar esse deslocamento até chegar em alguma área onde se sinta segura pra permanecer mais tempo”
Pintada, que tem seis anos de idade, foi resgatada pela equipe da Aquasis depois de encalhar na Praia de Melancias, em Icapuí, quando recém-nascida. “Esses animais são encontrados com um dia de vida até ou pouca coisa mais do que isso e, como ela tava com alguns ferimentos, ela foi de imediato trazida para o CRMM”, detalha o zootecnista.
No Centro de Reabilitação, “ela inicialmente fez quarentena e, a partir do seu desenvolvimento, de sua aptidão física e de sua sanidade, ela passou a interagir e a ficar junto de outros animais, mais ou menos da mesma faixa etária, em outros tanques maiores”, prossegue Viana.
A avaliação para a soltura acontece quando o peixe-boi já está aceitando alimentos sólidos naturais para ele, como o capim agulha, bem como quando ele possui condições físicas e comportamentais para o processo. Além disso, “quanto mais arisco das pessoas ele é, mais indicado pra soltura, [a fim de] evitar interação”, esclarece o técnico da Aquasis.
No caso da Pintada, ela já estava há seis meses em ambiente natural, no Cativeiro de Aclimatação, para uma melhor adaptação à natureza. O local cercado é mantido na praia de Icapuí, com uma plataforma flutuante.
Após o retorno ao mar ser considerado viável, a equipe acoplou nela um cinto com transmissores para a localização do animal. “Esse monitoramento é muito importante pra confirmar se ele tá bem adaptado, se ele tá frequentando área de alimentação, com acesso à água doce, se ele tá interagindo com nativos da mesma espécie, etc”, relata Pitágoras.
Acompanhar um animal reintroduzido na natureza é vital, primeiro porque depois de tantos anos em reabilitação e em cativeiro, apesar de todo o esforço da equipe pra que esse animal tenha a maior semelhança possível com o ambiente natural, ainda assim é um mamífero e eles têm características muito individualizadas de comportamento”
O especialista destaca que, geralmente, os peixes-boi ficam em monitoramento por no mínimo 1 ano, mas o tempo preciso pode ser variável, “vai depender da adaptação de cada animal”. Além disso, o material de monitoramento implantado neles é facilmente removível, evitando que os animais fiquem presos em algum local.
Logo após a soltura, Pintada permaneceu próxima a algumas praias no município de Icapuí. Na última sexta-feira (9), o GPS indicou que ela tava na praia de Pontal de Maceió, no município de Fortim. No sábado, foi localizada em Parajuru, em Beberibe. “De sábado pra cá, ela fez um deslocamento muito mais longo e estava, hoje (12), na Barra do Ceará e no Icaraí”, especifica o zootecnista.
O animal inicia um movimento exploratório lento, ele vai se afastando com alguma lentidão do cativeiro e conhecendo melhor a região. Isso dependendo da área que ele tá. No caso do cativeiro da Aquasis, em Icapuí, ele se afasta um pouco mais rápido, porque o cativeiro já é na praia”
Segundo Pitágoras, é possível ainda que o peixe-boi explore uma área muito maior. “Ela tá indo no sentido do Piauí, do Delta do Parnaíba, onde tem muito peixe-boi nativo. Então ela pode se estabelecer fora do Ceará ou não, vai depender de onde se sentir mais confortável”.
A Aquasis possui 16 peixes-boi em reabilitação. Destes, 14 estão na sede de Caucaia e dois em Icapuí. A previsão é de que os dois últimos, Mani e Tico, sejam soltos ainda em 2021, “abrindo espaço para novos processos de translocação dos animais restantes que se encontram no CRMM”, informa a instituição.