Da porta de entrada da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), são poucos minutos de caminhada até a pequena casa com portão gradeado, a um quarteirão e meio de distância, que abriga a Casa da Gestante, do Bebê e da Puérpera (CGBP), da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Desde abril de 2017, quando a unidade começou a funcionar, 693 mulheres foram atendidas.
O trajeto curto entre as construções não representa um desafio para Maria Kerlyanne Lima, 31, grávida há pouco mais de oito meses. As sete horas de viagem entre Fortaleza e sua cidade natal, Tianguá, também parecem ínfimas diante da saudade de sua primeira filha, Stefany Vitória, de sete anos. "Eu fui encaminhada da Meac pelo meu obstetra, porque eu moro muito longe da cidade, e por ser uma gravidez de alto risco por causa do meu problema de saúde, que é o lúpus", lembra Maria Kerlyanne.
A sugestão dada pelo médico foi ficar na Casa em observação, para evitar o risco de passar por complicações enquanto estivesse longe, e não ter o acompanhamento ideal. "Então, eu aceitei, mesmo sendo longe da minha família, da minha filha. Eu pensei na saúde da minha segunda filha, que está vindo", relata.
Apesar de saudável, a segunda gestação de Kerlyanne traz adversidades consequentes do diagnóstico de lúpus. "Na primeira, eu não sentia dores nem nada, não sabia do meu problema. Agora, tem algumas restrições devido ao cuidado que eu tenho que ter. O perigo da gestação é o bloqueio cardíaco, em mim a na minha bebê". Para ela, a rotina inclui seguir recomendações, como controle da alimentação pra evitar o diabetes e a pressão alta, e estabilizar as emoções, distanciando-se ao máximo do estresse.
Na CGBP, o apoio em prol do bem-estar das gestantes e seus bebês é garantido por enfermeiras obstetras diariamente, e um médico que realiza avaliações de segunda a sexta-feira, solicitando exames de imagem e laboratoriais.
Cuidado
"A Casa da Gestante acolhe, orienta, cuida e acompanha gestantes, puérperas, que são as mães que já tiveram bebês, e os próprios recém-nascidos que estão em condição mais estável, que só precisam ganhar peso ou estão aguardando um exame de imagem. Também acontece de uma mãe estar insegura em relação à amamentação, aí vem pra cá e fica até adquirir essa confiança", diz Ruth Martins, enfermeira obstetra da Meac e da CGBP. Segundo ela, as mulheres são encaminhadas à unidade quando estão em situação de risco, porém estabilizadas. "Elas precisam de vigilância e cuidado, mas não necessariamente dentro do ambiente hospitalar".
Em comparação ao ano anterior, para Ruth Martins, o aumento no número de mulheres atendidas na CGBP foi notável. De maio de 2018, quando a Casa completou um ano, desde a inauguração, até dezembro, 314 pacientes receberam cuidados no local.
"O número de mães vindas do interior é um pouquinho mais alto. Hoje, é quase metade Capital e metade Interior, mas este último ainda é um pouquinho maior", avalia.
Apesar da distância do lar, Kerlyanne reconhece que o aconchego e o tratamento proporcionados pelas enfermeiras obstetras compensam parte da saudade. "Aqui é minha segunda casa, com mordomias a mais, que eu não tenho normalmente", afirma. Para ela, a convivência diária com outras gestantes também lhe trouxe 'presentes'. "Aqui eu fiz amizades que vou levar pra vida toda".
Superlotação
As 15 camas e sete berços que compõem a infraestrutura da CGBP contribuem, de acordo com Ruth Martins, para o uso mais racional dos leitos hospitalares, tanto obstétrico quanto neonatal. "Quando a emergência da Maternidade-Escola está superlotada, a Casa, em algumas situações, recebe mulheres que são encaminhadas para cá, porque não tem onde acomodar lá", explica.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que o projeto construção de uma segunda unidade da CGBP, anexa ao Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana, já está em curso e que será lançada uma nova licitação do dia 16 de janeiro de 2019. A Pasta afirma que "a primeira licitação foi publicada no dia 14 de novembro de 2018, e teve como resultado fracassada".