O jogador assinou contrato ontem com o Ceará, após esperar por um acordo com o Fortaleza, que não veio
Não se fala em outra coisa na cidade. O atacante Marcelo Nicácio foi contratado pelo Ceará. O jogador, apresentado à torcida do Fortaleza no dia 5 deste mês para as duas rodadas finais da Série C, sumiu do clube anteontem e ontem apareceu em Porangabuçu, treinando no Ceará, de contrato assinado.
Sem dúvida, uma polêmica daquelas. Mas o atacante se defende: "os problemas do Fortaleza fizeram nosso acordo não dar certo. E eu precisava jogar, o que não acontece há algum tempo. Já estava chateado por não ter sido regularizado, por entrar em campo, e surgiu uma nova oportunidade no Ceará. Fiz a coisa certa. Eu já tinha comprado apartamento aqui, e permanecer no Estado, em um clube com o Ceará, é um privilegio".
Com um contrato verbal com o Fortaleza, a negociação não evoluiu e o empresário do jogador o ofereceu ao Ceará.
O presidente alvinegro, que apresentou o atacante, esclareceu o acerto com Nicácio. "O atacante agradece a oportunidade de disputar uma Série A, que não fazia parte dos seus planos no momento. "Queríamos contar com o Nicácio faz tempo. Não foi a primeira vez que tentamos contratá-lo. Infelizmente não foi possível antes. Mas agora sim. No primeiro contato do seu empresário, perguntamos se o jogador não estava de contrato assinado outro clube. Como não tinha assinado nada e foi revelado o interesse de jogar no Ceará, as negociações iniciaram", declarou o dirigente.
E não foi mesmo a primeira investida do Ceará. Em 2008, Nicácio lembra o contato do Vovô. "Quando eu estava no América/RN o primeiro contato de uma equipe daqui foi do Ceará. Infelizmente não deu certo", lembrou o atacante.
Polêmica
A segunda tentativa foi a mais polêmica. Em 2009, Após conquistar o campeonato cearense com o Fortaleza - inclusive foi autor do gol do título contra o Ceará - Nicácio jogou a Série B pelo Tricolor, sagrando-se artilheiro com 17 gols, mas amargando o rebaixamento do clube para Série C.
Ao fim da temporada, o Ceará, que havia subido para a Série A, procurou o jogador. Nicácio disse não. E justificou. "Na ocasião, deixei claro que não acharia certo, após cair com o Fortaleza, defender o Ceará, que tinha subido. Por respeito ao Fortaleza, vi que não era o momento adequado. Mas nunca fechei as portas para o Ceará, o momento agora é diferente, já se passou muito tempo".
Mas ontem, o atacante disse "sim" ao Ceará e está feliz por jogar novamente uma Série A. O jogador admite que não esperava ainda este ano disputar o torneio de elite do futebol brasileiro. "Confesso que não esperava jogar a Série A este ano. Agradeço o Ceará pela oportunidade. Joguei a Série A pela última vez em 2003 e tenho que aproveitar. Espero dar muitas alegrias à torcida alvinegra".
Nicácio assinou por três meses com o Ceará, com vínculo encerrando em 31 de dezembro. Ele receberá entre R$ 80 mil e R$ 100 mil até o fim do contrato. O jogador já está regularizado e depende do técnico Dimas para entrar em campo no domingo, contra o Goiás.
E o local do jogo, Nicácio conhece bem: o Castelão, onde marcou muitos gols.
CONFLITO DE INTERESSES
Leão e Vovô sempre lutaram por ídolos
Historicamente, Fortaleza e Ceará sempre disputaram os mesmos jogadores. Sempre que um atleta se destacou em um dos clubes, de imediato passou a ser objeto de desejo do outro. Esse interesse pelo que é alheio já fez ambos ultrapassarem as barreiras da ética, em nome da popular "rasteira". O ex-presidente do Fortaleza, Silvio Carlos Vieira, lembra uma "rasteira" famosa do ano de 1987. O Leão do Pici havia contratado o atacante Mauro Portaluppi, irmão do técnico Renato Gaúcho. Mauro e o goleiro Zé Luís estavam hospedados no antigo Hotel Lord, no Centro. De madrugada, um emissário alvinegro foi lá e levou Mauro Portaluppi, que ao amanhecer o dia, foi apresentado no Ceará. Meses antes, o próprio Silvio Carlos fez uma visita noturna inesperada ao meia Zé Eduardo e o tirou do Alvinegro. Um troca-troca menos problemático aconteceu entre as duas equipes no início dos ano 80. O Fortaleza tinha um craque, Mazolinha, que acabou indo para o Ceará, em troca do zagueiro Pedro Basílio.
Osmar
O caso mais emblemático caso de um passar a perna no outro aconteceu tendo como protagonista o meio-campo Osmar. O atleta havia sido contratado pelo Fortaleza. Quando ficou encerrado o contrato dele com o Tricolor e as partes estavam negociando a renovação, o Ceará mostrou interesse. Começaram a fazer leilão pelo passe de Osmar, a tão ponto de os dirigentes da época assinarem um "acordo" para ninguém contratá-lo e até registraram em cartório. Quando o Fortaleza pensou que estava tudo resolvido, dirigentes alvinegros foram por trás e contrataram Osmar, que se transferiu e foi campeão.
Diz um ditado do futebol: "um raio não cai duas vezes no mesmo lugar". Mas, no Pici, caiu esse ano. O clube anunciou o zagueiro Erivélton, que passou uma semana se condicionando fisicamente no Pici. Resultado: como não tinha contrato, foi parar no maior rival. Com Nicácio se deu a mesma coisa.
VLADIMIR MARQUES
REPÓRTER