Famosa brincadeira de infância, sem prancha, é geralmente o primeiro contato de um surfista com as ondas
Na aventura radical desse domingo vamos conhecer aquela que provavelmente foi a primeira expressão do surfe na história da humanidade, o bodysurf. Afinal de contas, quem já foi em uma praia e nunca pegou um "jacaré"? O jacaré que me transformou em surfista.
Um certo dia, em meados da década de 1990, eu estava na praia do Pecém com um tio que acabara de chegar de Maceió. Enquanto ele descansava na areia eu pegava jacaré nas marolas que quebravam na beirinha. Meu tio me chamou e perguntou se eu queria ganhar uma prancha. E foi assim que, graças a um 'jacaré', eu me tornei surfista. Histórias desse tipo acontecem diariamente, até porque pegar jacaré é uma das coisas mais intuitivas para um ser humano quando em contato com as ondas do mar. Contudo, para alguns, como Vinícius Mentges, nosso personagem de hoje, a paixão desencadeada pelo simples ato de pegar um jacaré, pode deixar uma marca tão profunda que mesmo o passar dos anos pode não ser capaz de apagar essa marca.
Segundo Vinícius me explicou, seu primeiro contato com o bodysurf foi no Rio de Janeiro, com apenas 6 anos, por influência do pai. Como por lá pegar jacaré é tão natural quanto fazer cooper no Calçadão de Copacabana, suas primeiras lições foram ensinadas por seu próprio pai: "essa era a principal diversão na minha infância. Inclusive ainda guardo muitos trabalhos do colégio do Dia dos Pais, em que eu falava que queria pegar mais de mil jacarés com ele", confidenciou.
Passatempo
Após alguns anos, depois de mudar-se pra Fortaleza, seu passa-tempo predileto era passar horas pegando jacaré. Era o que mais gostava de fazer. Até que em um belo dia, Vinícius viu um programa de TV em que alguns atletas pegavam onda de peito, mas de uma maneira diferente, pois, ao contrário daquela brincadeira de criança que o acompanhava desde a infância, eles brincavam em ondas bem grandes, inclusive fazendo manobras.
Nesse momento ele tomou uma decisão que mudaria completamente sua vida. "Na hora que vi aquelas imagens espetaculares senti que era aquilo o que eu tinha que fazer. Foi quando em 2009, aos 19 anos, eu comprei meu primeiro pé de pato e então não parei mais de praticar o bodysurf", contou.
Depois de mais ou menos dois anos, Vinícius percebeu que já estava na hora de dar o segundo passo e buscar uma evolução mais concreta no esporte que havia escolhido para se dedicar. Mas, para isso, era preciso viajar para buscar informações e aprender com quem realmente conhecia a técnica, já que aqui no Ceará, sempre surfava sozinho e não tinha outra pessoa com quem trocar ideias e experiências.
Foi quando ele entrou em contato com a ACSP (Associação Carioca de Surf de Peito), que o acolheu como a um filho pródigo. Depois desse contato Vinícius decidiu participar da 1ª Etapa do Circuito Brasileiro, em Macaé/ RJ, experiência que, segundo ele, não poderia ter sido melhor, superando e muito suas melhores expectativas.
De brincadeira para profissional
Não se passaram quatro meses e Vinicius Mentges já estava na 2ª Etapa do Circuito Brasileiro, em Vila Velha/ ES. Aí não foi somente ele que percebeu sua evolução. Seus novos amigos frequentemente o parabenizavam pela rápida assimilação das principais técnicas. E mesmo tendo competido apenas duas das três etapas do certame nacional, Vinícius terminou na 16ª colocação.
Foi quando participou pela primeira vez do brasileiro da modalidade que Vinícius teve contato com o 'handsurf', através da turma de Maceió. Em setembro do mesmo ano lá estava ele para competir num evento de 'handsurf', sem nunca ter pego uma onda com aquela espécie de microprancha.
Ele explica que não tinha prancha, mas isso não o impediu de seguir na carreira. "Só tinha um probleminha. Eu não tinha uma prancha de handsurf. Então fiz um negócio com um amigo lá mesmo, de Maceió e ele ficou de me mandar um".
"O tempo foi passando e nada. Até que um dia um amigo carioca, de Macaé, veio pra Fortaleza e nós fomos dar uma caída em seus handsurfs. Peguei altas ondas com a pranchinha dele e uma semana depois fui até Maceió buscar a minha. Isso foi em janeiro de 2013. De lá pra cá me transformei em um handsurfer nato, buscando evoluir a cada dia", declarou.
Neste ano, Vinícius planeja competir na Califórnia, mais precisamente em Newport Beach, no mês de agosto no campeonato mundial de bodysurf, que ocorrerá nos dias 16 e 17.
George Noronha
Especial para o jogada