Cuca faz pronunciamento sobre condenação por estupro após estreia no Athletico-PR

A declaração aconteceu após a vitória do Athletico-PR por 6 a 0 sobre o Londrina

O técnico Cuca falou, pela primeira vez, sobre a condenação e anulação do caso de estupro contra uma menor de idade, que aconteceu em 1987, na Suíça, pelo Tribunal Regional de Berna-Mittelland. Ele chegou a ser condenado, na época, contudo, no início desse ano, a Justiça do país europeu acatou a argumentação da defesa do treinador de que Cuca foi condenado sem representação legal e anulou o processo.

A declaração aconteceu após a vitória do Athletico-PR por 6 a 0 sobre o Londrina pelo jogo de volta das quartas de final do Campeonato Paranaense, no último domingo (10). A partida também foi a estreia do treinador no comando técnico do clube paranaense.

Segundo o técnico, que assinou com o Furacão em março deste ano após ficar quase um ano sem treinar nenhum clube, o texto lido na coletiva de imprensa foi escrito por ele com a ajuda da esposa e das filhas.

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“Hoje eu sei que isso não é só sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo e mesmo assim pude seguir minha vida. Uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir com a vida dela sem permanecer machucada. O impacto dura pra sempre.

Eu pude levar minha vida contornando a história porque o mundo do futebol e dos homens em que vivo não tinha me cobrado nada.

Mas o mundo está mudando, acho que para melhor, e por isso estou me dando conta de que não adianta eu entender o que é ser um grande treinador, pai, avô e esposo se eu não entender que o mundo é feito de outras coisas além do futebol, que eu faço parte disso também.

Eu enxergava, sim, os problemas, inclusive recorrentes aqui no nosso universo do futebol e dos homens. Mas me calei porque a sociedade permite que o homem se cale.

Aliás, permitia.

Agora eu entendo, mesmo sem ainda conseguir me aprofundar para falar do jeito que seria certo, eu entendo que não posso mais me recolher, ficar calado, porque silêncio soa como covardia.

Venho buscando ouvir mais, aprender, compreender. Não posso mudar o passado. Quantos de nós, homens, que agora me escutam, são capazes de olhar o passado e rever atitudes?

O mundo é um lugar muito diferente para homens e mulheres e quando a gente enxerga isso a gente pode até resistir, mas alguma coisa começa a mudar.

E esse é o primeiro passo. Depois, o sentimento é de real desejo de mudança. Só que as mudanças honestas e verdadeiras levam tempo, exigem dedicação, estudo, são dolorosas e desafiadoras.

Já entendo que a realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres. O mundo do futebol ainda é um mundo de muito preconceito.

Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres. Não estou falando isso como fala isolada para agradar alguém, ou da boca para fora. Se fosse assim, teria me manifestado antes. Falo isso de coração.

Quero e me comprometo a fazer parte da transformação. Vou fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar. Quero jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol.

Sucesso repentino é desafio. Muitos se perdem pelo caminho com fama e dinheiro. Somos levados a acreditar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres. Precisamos dar aos mais novos a oportunidade de não errarem como tantos de nós erramos.

É ali que podemos sensibilizar, colocar para pensar, orientar. Sucesso, dinheiro e fama não servem para nada se você se perder no caminho.

Eu pensei que eu estava livre da minha angústia quando solucionei meu problema com a anulação do processo e a indenização. Mas entendi que não acabou porque não dependia apenas da decisão judicial, mas que eu precisava entender o que a sociedade esperava de mim.

O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes. Podem me cobrar. Obrigado por me escutarem e boa noite”.