Ceará perde Dimas, um dos responsáveis por edificar sua história

Suas passagens à frente do comando técnico foram marcantes

O Ceará Sporting definitivamente não vive um dos momentos mais felizes de sua gloriosa história. E para culminar com esse período de grandes dissabores, perde uma das maiores referências da sua trajetória.  Diria que, mais que o próprio Ceará, o futebol chora a despedida de Dimas Filgueiras Filho. O jogador que teve uma passagem relativamente discreta pelo Alvinegro de Porangabuçu, tornou-se um grandioso funcionário, dirigente, treinador, enfim, o chamado faz tudo do clube.

Ao abandonar as chuteiras em meados dos anos 70 do século passado, Dimas se torna supervisor, respaldado pelos ensinamentos passados por Ivonísio Mosca de Carvalho. Foram mais de cinco décadas em prol do Ceará. Dimas viu e participou efetivamente da transformação  do time que treinava na "Ilha das Cobras"  num gigante nordestino.

Suas passagens à frente do comando técnico foram marcantes. Muitas vezes, era "a última esperança". Quando o Vozão se via irremediavelmente batido, eis que surgia a figura de Dimas para salva-lo sabe-se lá como. E foram tantas jornadas "impossíveis" que reverteu com êxito e muita fé na sua protetora, Nossa Senhora de Fátima. Dimas assumiu todos os postos no Ceará.

Sempre atento

Quando criança, eu morava no Jardim América, próximo ao Carlos de Alencar Pinto, para mim, sempre será o Campo do Ceará. Nos dias de jogos, enquanto o Ceará estava no Castelão atuando, pulávamos e muro para bater uma pelada no Campo do Ceará. Era tudo muito tranquilo. Certa vez, no entanto, a nossa "folga" chegou ao fim. Quando disputávamos um jogo, um funcionário do Ceará apareceu de surpresa com um porrete na mão. Nunca vi tanto menino correndo com medo junto. O mencionado funcionário era o Dimas. Quase duas décadas depois, já como jornalista do Diário do Nordeste e responsável pela cobertura das atividades do Ceará, voltei a conviver com Dimas.

Desta feita, de forma menos atribulada. Contei essa história pra ele. A risada foi instantânea. E lembro essa narrativa para mostrar que Dimas foi um gigante na história desse clube. De "vigilante"', que nunca deixou de ser, até dirigente, quando ninguém mais queria assumir "a barca furada". E ele sempre dava um jeito de reverter as adversidades.

Com sua maneira pragmática e sua perspicácia, sabia tirar o máximo em campo de um jogador. Transformou atletas até então medianos em ídolos. Dimas chegou ao ponto de, nos anos 70, ir buscar jogadores na noitada, tirá-los literalmente dos cabarés, para, dois dias depois, torná-los heróis. E isso foi recorrente, na época do "futebol raiz". Neste 22 de dezembro, a torcida do Vozão chora a partida desse carioca que se tornou um alvinegro autêntico. O Ceará está de luto.

Sem nosso Dimas, a volta por cima será mais difícil. Mas a lição ele nos deixou. Resta segui-la.

Dedico esse texto para  a Vânia, dedicada esposa do Dimas e aos seus filhos.