Campeã no paratletismo, Fah Fonseca avalia desafios da carreira esportiva com a maternidade

Aos 34 anos, a paratleta está na primeira gestação e sonha com os Jogos Olímpicos de 2024

A vida é recomeço. No paradoxo temporal, as intempéries surgem para exigir mudança, ou um novo passo. E tudo nasce da maternidade, da geração. Para muitos, ser mãe é essa estrutura, mas a missão parte também do autoconhecimento e, no esporte, do desafio de associar o plano à carreira.

Neste 9 de maio, Dia das Mães, o Diário do Nordeste conversou com a paratleta cearense e representante da Seleção Brasileira Fah Fonseca, agora na primeira gestação aos 34 anos.

Com uma trajetória de superação, desde o nascimento, com uma má-formação congênita rara, até a não possibilidade de andar na adolescência, a busca pela felicidade chegou na dedicação: hoje são 24 quebras de recordes nacionais e internacionais.

No processo, um dos sacrifícios foi silenciar o desejo de ter um filho. E o movimento, enfim, se iniciou. A caminhada pela representatividade ganha tons de administrar a nova fase e retornar em alto nível na busca por uma vaga nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.

Confira entrevista completa:

Você é um atleta de alto rendimento, com uma rotina de treinos intensa. Então como foi a descoberta da gravidez?

“Por mais que eu sempre tivesse esse sonho, foi um susto porque eu tive que silenciar o sonho para conquistar a minha carreira esportiva, para ser quem eu sou hoje e conquistar todos os sonhos que estavam atrelados ao esporte. O susto passou, principalmente quando escutei os primeiros batimentos. Hoje eu vivo para agradecer e só consigo ficar muito feliz".

Como ficou a rotina agora com a descoberta da gravidez?

"Eu tive de parar por dois meses. Antes de saber (da gravidez), estava sem treinar porque tinha umas lesões e me afastei, então ocorreu a gravidez. A minha médica está ciente e pediu para eu voltar a treinar com três meses, não na cadeira de corrida por conta da posição, mas vou continuar com o fortalecimento muscular e com cuidado para seguir em movimento".

Os Jogos Olímpicos de Tóquio ocorrem esse ano e você é uma das principais paratletas brasileiras. Como foi adiar o sonho olímpico?

"A primeira competição que teve paraolímpica no ano passado foi no Japão, e doeu bastante, eu amo tudo o que eles são, mas o meu sonho não é ir de quatro em quatro anos, o meu sonho do esporte dura dia após dia, e mesmo que eu não consiga ir esse ano, mesmo que eu não consiga ir em Paris, em 2024, o meu amor pelo esporte vai continuar existindo".

Acredita na sequência da vida esportiva em alto nível após a recuperação e a maternidade?

"O esporte é o meu sonho, foi isso que me trouxe a vida, antes eu não era ninguém, e o esporte me deu vida, então se antes eu achava que esse amor me dava vida, tenho certeza que terá um significado ainda maior continuar o que eu faço. Antes eu queria dar orgulho pra mim mesma, para minha família, hoje eu tenho a necessidade de dar ao meu filho. Que meu filho também veja esse exemplo. Se antes eu achava que tinha uma fé inabalável fazendo o esporte, hoje eu acredito que ela caminha comigo, nada mais justo do que voltar a praticar o que eu tanto amo e necessito”.

Durante essa pausa esportiva, como ficaram os patrocinadores? Há algum auxílio para você?

“Esse foi um dos meus medos, de como eu ia continuar vivendo depois. Conversei com alguns apoiadores, eu não tenho patrocínio, e eles aceitaram isso, principalmente com a entrega de suplementos. Sempre achei que o atleta tinha de deixar o sonho da carreira esportiva por conta da gravidez, mas estou sendo muito acolhida. O Fortaleza Esporte Clube também continua comigo”.

Há muitas mulheres que suspendem a carreira esportiva para vivenciar a gravidez e depois retornam ao alto nível. Você já projeta esse cenário?

“São nesses casos que estou me agarrando. Os meus incentivos e motivos serão muito mais significados para seguir em frente porque não me vejo fazendo outra coisa senão treinando e correndo. Hoje o meu sentimento é que eu não quero parar, nem que seja para ficar no lazer”.

Nessa data especial, em que você já se sente mãe, está sendo diferente esse ano?

“Cada dia que passa eu sinto um amor e é inexplicável. Muita gente falava disso e eu não conseguia entender. Hoje eu sinto isso, e não vai ser como eu queria, queria ficar com a minha mãe e a família, mas vamos deixar que isso ocorra no devido tempo. Infelizmente é chato, estou há dois meses sem sair de casa, sem visita. É difícil, mas é por uma boa causa e sou muito feliz”.