Soraia Victor: os passos firmes da conselheira que não fica parada

Em entrevista à série Dona de Si, Soraia Victor conta como se tornou a primeira Conselheira do Tribunal de Contas do Estado

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Soraia Thomaz Dias Victor tem 60 anos de idade. É casada há 40 anos com Newton, com quem teve dois filhos: Rodrigo e Ticiana. É avó de dois netos lindos: Liz (5 anos) e Lucca (3 anos). 

Soraia é uma mulher que inspira ouras mulheres, que supera desafios. Aos 60 anos de idade, acaba de completar 100km de corrida até a cidade de Canindé, no Ceará.  

Passo a passo, a cearense foi conquistando também muitas etapas na sua vida com responsabilidade, compromisso, competência e dedicação. Em 2003, foi escolhida como a primeira Conselheira do Tribunal de Contas do Estado, uma cadeira de assentos masculinos que reverencia os elevados argumentos levados por Soraia que, hoje, usufrui da sua autoridade profissional. 

É sabendo por onde pisa que Soraia Victor é dona do seu destino e de Si. 

Quem é Soraia Victor?  

Soraia Victor é uma mulher de 60 anos, casada há mais de 40 anos com Newton Victor, de onde nasceram os filhos Rodrigo Victor e Ticiana Sobreira, já mãe dos nossos netos lindos, Liz Sobreira e Lucca Sobreira! Uma família que curte corrida de rua. E eu fui a precursora de todos eles! 

 

Qual a sua formação profissional?  

Comecei com a engenharia, profissão que sempre amei e cheguei a exercer por alguns anos, e atualmente trabalho com minha segunda graduação, Direito. Sempre entendi que você precisa se preparar bem para qualquer situação e isso inclui o trabalho. Você precisa ser bom no que se dispõe a fazer em qualquer área de sua vida. 

 Como iniciou sua carreira ?  

Comecei ainda muito novinha lecionando Inglês, aliás, outra paixão que tenho, e, depois, a vida foi me conduzindo para outros caminhos. Fui professora de Física ainda no Estado, passei a ser diretora de engenharia na Secretaria da Educação, fiz concurso para a Secretaria da Fazenda, fui Secretária da Administração e acabei sendo indicada para Conselheira do TCE, sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo.  

Como surgiu a oportunidade de trabalhar no serviço público?  

No serviço público comecei ainda em 1981, dando aula de Física para alunos do terceiro ano, que iriam prestar vestibular. Foi um desafio grande. Depois, gerenciar a área da engenharia, onde só tinham homens e seriam comandados por uma mulher, foi outro grande desafio. Paralelo a isso, comecei a fazer concurso e acabei passando para a Secretaria da Fazenda do Estado, que foi uma grande escola e aprendizado de vida. Certamente, isso foi responsável pela escolha pelo Governador para eu ser a Secretária de Administração e, daí, para o cargo de Conselheira. 

Como foi ser nomeada a 1ª Conselheira mulher do Tribunal de Contas do Estado do Ceará? 

Esse foi um desafio muito importante e tive que amadurecer rapidamente para conseguir fazer valer minhas opiniões e votos. Fui para fazer a diferença em todos os sentidos.  

  

Quais os desafios enfrentados, sendo uma mulher em um ambiente exclusivamente masculino?  

Ter opinião e defendê-las é sempre um desafio e, principalmente, porque todas as decisões do TCE são colegiadas, ou se dão nas câmaras (compostas por três conselheiros e existem duas) ou se dão no plenário (composta pelos sete conselheiros).

O que considera importante na carreira profissional?  

Eu sempre tive muito cuidado com a minha carreira profissional e sempre procurei estar atualizada e também ocupar os espaços que surgiam. Por exemplo, sou diretora da ATRICON (Associacao Nacional dos Membros dos Tribunais de Contas) para estar de alguma forma influenciando na melhoria dos Tribunais de Contas de todo Brasil. 

  

O que a mulher precisa para ter autoridade nos dias atuais?  

Estudar, estudar e estudar para conseguir bons argumentos. Eles, no início, são ignorados, mas vale a persistência e o aprimoramento sempre. Mulher não ganha no grito, ganha no argumento. 

Como foi esse trilhar até hoje?  

Vendo agora em perspectiva, tudo fica simples e parece que se encaixou, mas tive momentos de grande angústia e que precisava ter o sangue frio, paciência e capacidade de se reinventar!  
 

Quais são suas expectativas tanto profissionalmente como mulher, esposa, mãe e avó?  

Luto com unhas e dentes pela união da minha família e quero ver meus netinhos crescerem e serem pessoas do bem. Como profissional vou seguindo trilhando o caminho de defender o tesouro estadual e municipal, sempre com a perspectiva que se eu fizer bem o meu trabalho os recursos públicos chegarão para aqueles que de fato necessitam. 

Recentemente, você alcançou um objetivo pessoal que foi correr 100km em 13 horas e 39 minutos. Como foi o processo de preparação?  

Duríssimo, com muitas horas dedicadas ao treino tanto de corrida quanto de fortalecimento com personal. Esse dia 1° de maio representou todo o processo. Não existe almoço grátis! Tudo é possível, basta se dedicar! O mais interessante é que eu estava inscrita para fazer a Conrates na África do Sul, em 2020, mas a prova foi cancelada por conta da primeira onda da pandemia. Porém, não deixei de treinar, porque faria em 2021. Novamente foi cancelada em razão da segunda onda. Surgiu o Desafio de Canindé 100km. Faço todos os anos a romaria de Canindé, então me inscrevi. E mais outra prova cancelada! Decidi que faria os 100k sozinha. Na quinta-feira, um grupo de Atletas já com experiência de Ultra maratona (kamikaze) iam fazer os 100k na Cidade Alpha, largando à meia-noite de sexta para sábado. Me juntei a eles e deu certo! 

  

O que levou você a criar essa vontade de superar seus limites aos 60 anos? Quais foram seus motivos para correr?   

Gosto de longas distâncias. Nessas provas, você exercita as pernas, mas exercita também a paciência, a resiliência, a persistência e a vontade de romper limites. Nas provas curtas, você só foca na velocidade. 

Qual o sentimento de conquistar a sua meta pessoal?  

Sentimento de grande alegria, porque, de fato, os limites são impostos por nós mesmas. No momento em que você desafia a si mesma e pensa fora dos padrões e se dedica, colhe resultados como este. 

  

Qual o grande aprendizado nesse momento de pandemia?  

A pandemia trouxe uma série de desconfortos e limitações para a vida da maioria das pessoas, mas proporcionou uma busca acelerada de dar soluções a partir de casa. Eu mesma, na primeira onda da pandemia, fiz uma meia maratona (21km) dentro da área externa do prédio onde moro, não foi fácil, mas era o possível. Preferi não me acomodar e fazer o que gostava com as ferramentas e espaços possíveis.  

Ainda tem outros planos?  

Planos? Sempre! Para comemorar os 60 anos, nós tínhamos planejado algumas viagens interessantes e que em todas elas nós iríamos fazer uma prova de corrida. Vamos colocar novamente no radar se a vacinação da população avançar. Temos outras ultras que podem também ser pensadas.  

Qual o seu melhor conselho como Conselheira?  

Os tribunais de contas têm um papel constitucional de zelar pelos recursos públicos, mas nada como a população participar desse processo. Cada um que se beneficia ou tem conhecimento também pode fazer esse papel. Para isso, existem canais e ouvidorias! Faça a sua parte!