O Ceará é o único Estado do Brasil com dois jovens embaixadores dentro da segunda edição do programa Cidadão Digital, que atua junto a adolescentes de escolas públicas de todo o país em discussões e atividades sobre privacidade, ciberbullying, autocuidado e desinformação, entre outros temas relacionados ao mundo digital.
Ao todo, são 14 embaixadores - escolhidos entre 963 inscritos -, a maioria universitários de diferentes formações. No Ceará, atuam Rogério Bié, de 20 anos, e Janaína Jenipapo, 25, primeira indígena selecionada pela iniciativa.
Estudante de licenciatura intercultural indígena, comunicadora e artesã, Janaína articula ações para além da aldeia Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza.
“Por enquanto, duas escolas indígenas já foram contempladas com atividades, onde debatemos assuntos sobre respeito e empatia e autocuidado on-line. Tenho como foco as escolas indígenas não só do Ceará, como as de outros Estados do País”, explica.
O trabalho é de formiguinha. Os embaixadores fazem o mapeamento de escolas, coletivos ou organizações que possam ter interesse no programa, entram em contato e apresentam propostas de atividades, adaptáveis à realidade de cada local.
instituições já foram mapeadas no Ceará, e 11 confirmaram parceria com o programa. Até o momento, foram realizadas 33 ações e atividades.
O estudante de jornalismo na Universidade Federal do Ceará (UFC), Rogério Bié, atuando no programa desde junho, já conhece um pouco do acesso à internet em várias regiões do Estado.
Natural de uma comunidade rural do município de Santa Quitéria, no Sertão de Crateús, e egresso da rede estadual de ensino, ele já entrou em contato com escolas não só de Fortaleza, mas de cidades como Araripe, Alto Santo, Horizonte, Baturité e Várzea Alegre.
A dificuldade que percebo é pela quantidade de alunos nas aulas. Por exemplo: algumas turmas têm 30 alunos, mas participam 13, 16, porque os outros não têm acesso à internet. Temos uma logística para que os outros alunos que não puderam participar recebam o conteúdo posteriormente.
O diagnóstico da qualidade da conexão influencia no planejamento das atividades, que podem ser síncronas, utilizando plataformas como o Google Meet, ou assíncronas, como o envio de materiais pelo Whatsapp.
Principais dúvidas e curiosidades
Janaína Jenipapo confirma que, no Ceará, muitas aldeias indígenas ainda são carentes de acesso à Internet, mas a parcela conectada sabe que os temas trabalhados pelo Cidadão Digital também estão presentes na realidade dela.
“Os temas que mais chamam atenção dos alunos são respeito, empatia e autocuidado online, por ser um assunto que fala das realidades indígenas. Um exemplo positivo é que muitos indígenas jovens estão usando Instagram e o TikTok para falar das lutas diárias, da existência e resistência de seu povo”, pensa a embaixadora.
Rogério Bié reforça que, embora sejam nativos digitais, os adolescentes abordados pelo programa ainda não tinham tanto conhecimento sobre privacidade na rede, criação de senhas seguras, mecanismos para evitar clonagem de conta e dicas sobre “pegadas digitais”.
São coisas que eles nunca ouviram falar mesmo mexendo no celular todo dia. Também conversamos sobre respeito e empatia, violência na rede e socioeducação de prevenção. Alguns se emocionam e falam como vão multiplicar o conteúdo. Não é só uma aula, é um processo participativo. Queremos que eles vejam que a internet é um espaço de direito e pode ter um uso ético, empático, autônomo e com qualidade.
Outra dúvida comum é sobre como denunciar crimes ou violência on-line e como buscar apoio. Uma das sugestões é a Central Nacional de Crimes Cibernéticos, da Safernet, que recebe denúncias anônimas de crimes e violações contra os Direitos Humanos na Internet e possui parcerias governamentais, policiais e judiciais.
Janaína também acredita no ensino de “melhores práticas para lidar com várias situações e com os nossos comportamentos online sem ter que passar dos limites”.
A proposta inicial do programa são ações remotas, mas como algumas escolas já estão voltando às aulas presenciais no Ceará, os embaixadores conversam com as direções sobre a possibilidade de atividades no modelo híbrido.
Como funciona o programa
O Cidadão Digital é desenvolvido por meio de parceria entre a Safernet Brasil e o Facebook. A meta é levar atividades sobre cidadania digital para 50 mil alunos e 8 mil educadores das cinco regiões do país até dezembro.
O currículo do programa aborda seis temas:
- privacidade e reputação online;
- criptografia;
- respeito e empatia nas redes;
- relacionamentos saudáveis online;
- autocuidado e saúde emocional;
- educação midiática.
Em 2020, o programa atingiu mais de 97 mil estudantes e 61 mil educadores, por meio de 660 atividades, em 18 estados e no Distrito Federal. Ao todo, foram mais de 922 horas de recursos diversos, como videoaulas, dinâmicas em aplicativos de mensagem, jogos, quizzes e exercícios em grupos de redes sociais.
Nesta segunda edição, os outros 12 embaixadores do programa são do Tocantins, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Amazonas, Rondônia, Mato Grosso, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Além da primeira embaixadora indígena, a Safernet também formou a primeira quilombola: a estudante de enfermagem Ana Thereza Farias, 22, que vem do quilombo de Umarizal, no Pará.
Escolas podem solicitar formação
O projeto pretende alcançar adolescentes de 13 a 17 anos, no ensino fundamental e no ensino médio público, e educadores que atuam no ensino público ou em projetos sociais.
Educadores, secretarias de educação municipais e estaduais e ONGs que desejem inscrever escolas e projetos sociais no Cidadão Digital podem realizar o cadastro no site do programa.
Os educadores também podem se inscrever para a formação dedicada aos profissionais da educação, também gratuita, de 25h, autoinstrucional e online, com emissão de certificado.