O Lar Torres de Melo, Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) localizada no bairro Jacarecanga, em Fortaleza, não registrou mais nenhum caso de Covid-19 desde que os 171 idosos da instituição foram vacinados contra a doença. Hoje, são 141 idosos recuperados. Além dos idosos, 144 colaboradores do local também receberam o imunizante.
“Foi Deus que iluminou todos nós. Agora, estamos firmes e fortes”. É assim que Dona Maria da Conceição Alexandre, de 81 anos, resume a experiência de receber a segunda dose do imunizante, o que aconteceu no próprio Lar.
Antes da vacinação, finalizada no último dia 14 de março, pelo menos 160 moradores da ILPI chegaram a testar positivo para o coronavírus e 12 faleceram em decorrência da doença.
“A gente se sentia aqui muito triste, mas agora estamos mais felizes e satisfeitos", declara a idosa, que vive no Lar Torres de Melo há cerca de 11 anos junto à irmã Francisca Alexandre do Nascimento, de 79 anos. Ambas perderam um “grande amigo” para a Covid-19.
“Meu namorado, que eu conheci há quase quatro anos aqui dentro, faleceu e eu não tive nem o direito de ver ele”, queixa-se Dona Francisca, acrescentando ainda a falta que sente dos seus antigos passeios.
“Eu ia para o Centro, na casa de uma amiguinha, conversava com ela, mas agora não posso sair de jeito nenhum. Mas eu tenho fé que essa doença vai embora porque é muito bom viver”.
José de Jesus Gomes, 70, também comemora a imunização de todos dentro do Lar, local onde vive há dois anos. “Estou me sentindo muito feliz porque a saúde chegou pra gente, graças a Deus”.
Segundo José de Jesus, a pandemia de Covid-19 foi uma situação inesperada, jamais vista por ao longo de toda sua vida. “Só Deus mesmo para resolver esse novo problema. Que cheguem logo mais vacinas pra que todo mundo fique bem”.
Cuidados mantidos
Gerente de saúde da instituição, Acácia Torres de Melo Moura celebra a imunização de todos da casa, mas endossa que os cuidados continuam os mesmos. Visitas e atividades de voluntários continuam suspensas, mantendo apenas as chamadas de vídeo para que, assim, os idosos possam continuar a ter contato com os familiares. As atividades em grupos são realizadas com número reduzido de pessoas e o uso de máscaras e álcool em gel ainda são obrigatórios.
“A gente tem muito o que agradecer”, reforça Acácia sobre o atual cenário. Ela relembra os momentos difíceis vividos durante a primeira onda da pandemia, quando 12 idosos faleceram de Covid-19 e outros sete morreram com suspeita de infecção pelo vírus.
“O alívio pelo fato de estarem todos vacinados é uma coisa que eles falam muito. Eles estão muito gratos, estão se sentindo muito aliviados e mais seguros”. Conforme a gerente de saúde, os idosos vivem a esperança de que a vacina chegue para todos e, assim, possam voltar a receber visitas de familiares ou sair da instituição para os passeios.
Grupo prioritário para a vacina
As pessoas com 60 anos ou mais vivendo em instituições de longa permanência fizeram parte de um dos primeiros grupos prioritários a receber a vacinação no Ceará. De acordo com o Plano de Vacinação da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), 100% da meta de imunização desse grupo foi concluída, totalizando 2.074 idosos institucionalizados.
“Todo mundo que vive em abrigo passou por um processo muito mais complexo do que quem estava passando por isso nas próprias residências. O isolamento aconteceu desde o primeiro dia”, relata a coordenadora do serviço social do Lar Torres de Melo, Adriana Lacerda.
A profissional explica que a diferença nas rotinas foi brusca. Antes, os idosos tinham aulas de teatro, eventos festivos, encontros com amigos e familiares, e inúmeras atividades coletivas que alegravam os dias no Lar. “Como eles ficaram isolados mais de um ano, para eles é um confinamento”.
Apresentar as tecnologias para os idosos também foi outro desafio a ser superado pela equipe da casa. “A videoconferência não é uma coisa da realidade deles”, conta Adriana, lembrando que administrar as questões emocionais de todos foi uma tarefa complexa.
Apesar de estarem mais felizes e esperançosos, muitos idodos ainda precisam ser informados sobre porquê não podem sair ou encontrar seus entes queridos. “A pandemia lá fora não tem a mesma resposta que tem aqui dentro. A gente explica para eles que a vacina é um imunizante individual, mas tem que ter efeito coletivo. Quanto mais gente vacinado, menor a incidência da doença”.