Cozinha solidária pede doações para manter atividades: “é o porto seguro das periferias”

A cozinha do Instituto S.O.S Periferia já distribuiu 44 mil refeições gratuitas desde o surgimento, em 2020; aumento de preço dos alimentos ameaça a continuidade do projeto

A fome não espera. Nem mesmo a abertura do comércio, os planos de retomada da economia ou mesmo os trâmites de liberação do auxílio emergencial. Em um cenário em que 32% da população cearense vive com até 178 reais e cerca de 549 mil pessoas estão desempregadas no Estado, a cozinha solidária do Instituto S.O.S Periferia trabalha para garantir alimento gratuito às pessoas de baixa renda da periferia de Fortaleza. 

É o porto seguro das periferias, isso eu tenho certeza. S.O.S é uma palavra de esperança para quem está esperando a quentinha no fim do dia”, relata a cozinheira Maria Albetisa Rodrigues de Sousa, 30 anos. A moradora do bairro Parque São José e mãe de cinco filhos foi uma das cozinheiras e beneficiárias do projeto

O projeto da cozinha surgiu em março do ano passado e já distribuiu 44 mil refeições, aponta o cofundador do Instituto, Lucas Alves, 23 anos. Ainda em 2020, a iniciativa conseguia atender cerca de 29 comunidades localizadas no Grande Bom Jardim e arredores, com 32 mil quentinhas distribuídas

A gente quer levar o mínimo de dignidade para aqueles que são esquecidos pela sociedade. Acho que alimentar o outro é um ato político, é um direito do indivíduo e esse direito nos últimos tempos tem sido violado, a gente viu que Brasil voltou ao mapa da fome. 
Lucas Alves
Estudante de gastronomia

Neste ano, com o aumento de preço dos alimentos, precisaram reduzir o serviço para 13 comunidades. Apesar das dificuldades para custear o gás, a água e a comida, ainda fizeram a entrega de 12 mil refeições

Além do Bom Jardim, o projeto também distribuiu em bairros como Canindezinho, Parque São José, Parque Santa Rosa e Siqueira. 

Acolhimento da cozinha social 

Após a morte do marido, em agosto de 2019, Albetisa ficou desempregada por quase oito meses. Nesse período, enquanto vivia o processo do luto e a dificuldade de encontrar emprego, conseguiu manter a alimentação de seus cinco filhos por meio da doação de amigos e familiares. 

Mas chegou um momento em que a pessoa não tinha nem para si, imagina para dividir. Teve uma vez que passei uns 3 dias sem alimento. No desespero extremo, sem saber o que fazer, peguei os meninos e mandei para a casa da avó para não passar por essa situação.
Maria Albetisa
Beneficiária da cozinha

Foi ao ser chamada para trabalhar como voluntária na cozinha solidária que encontrou amor e acolhimento. “Mudou a minha vida, tudo. Foi um momento em que deu vontade de chorar”, compartilha. 

Impactos na vida da cozinheira 

Albetisa passou a não só receber doações de cestas básicas do projeto, como também ter a garantia da comida no prato ao fim de cada dia. “Você é voluntário, mas recebe muita coisa em troca. Você não está cobrando, mas tem retornos inacreditáveis”, aponta.

Na cozinha, Albetisa fazia um pouco de tudo. Cortava verdura, cozinhava, lavava a louça. Agora, trabalha em uma lanchonete no período da noite, após ter sido recomendada por integrantes do S.O.S Periferia. 

A minha vida mudou através do projeto, fazendo comida, vendo uma pessoa feliz ao receber uma quentinha. Me motivou a querer viver mais. Foi uma terapia na minha vida. 
Maria Albetisa
Cozinheira

Dificuldades para manter o projeto

Apesar de todos os impactos sociais que a cozinha solidária gera às pessoas em situação de vulnerabilidade, Lucas Alves relata que o aumento de preço dos alimentos e a queda das doações têm ameaçado a continuidade da ação. 

Com isso, as 13 comunidades atualmente contempladas pela distribuição das quentinhas poderão ficar sem essa refeição. O aumento do custo da proteína é um dos que mais impactam o projeto, como a compra da carne, frango, peixe e até mesmo o ovo.

Em um dia de refeição, nós pagávamos 400 reais em proteína, agora não fazemos a mesma quantidade com menos de 700 reais. O preço da carne está surreal. Nós não conseguimos manter. É esse custo que pode fechar a cozinha. 
Lucas Alves
Cofundador do Instituto S.O.S Periferia

O projeto, criado em parceria com a organização Auê do Amor, desejar seguir com a atuação. Começando a atender cerca de 100 mulheres na comunidade do jatobá, localizada entre Fortaleza e Maracanaú, a ação também realizava a distribuição de cestas básicas

Apesar da comunidade já apresentar desigualdades sociais, Lucas percebe que a pandemia as intensificou. Por isso, Lucas acredita que iniciativas de cozinhas gratuitas deveriam ter o apoio de órgãos públicos. “Com todas as ações municipais, estaduais e federais, a gente não vê a multiplicação de cozinhas apoiadas pela prefeitura. É central pensar as cozinhas gratuitas para aqueles que não tem condição”, finaliza.  

Para doar

O Instituto S.O.S Periferia aceita vários tipos de doação, desde produtos de limpeza, higiene, roupas usadas até pacotes de alimentos ou dinheiro. No caso de doações acima de 15 quilos de arroz, feijão, macarrão ou outro tipo de alimento, o projeto faz a retirada no local

Mais Informações

Instagram: @sos.periferia 

Para doar: 

  • Pix: 058.716.503.09 ou 85 996357677
  • Nubank: banco - 260 | agência - 0001 | Conta Corrente - 12743213-5 | CPF - 058.716.503-09 | nome - Lucas Pinto Alves
  • Banco do Brasil: banco - 001 | agência - 3474-6 | Conta Corrente - 57558-5 | CPF - 058.716.503-09 | nome - Lucas Pinto Alves