Alcoólicos Anônimos Ceará chega aos 52 anos recuperando histórias

A Irmandade está presente em mais de 100 municípios cearenses, atuando com um total de 407 grupos.

Há exatos 52 anos, no antigo auditório do Centro de Saúde, na Praça José de Alencar, em Fortaleza, uma reunião aberta com 20 pessoas criava o Grupo Central Fortaleza - ainda em funcionamento, agora, na Avenida Duque de Caxias. A data marca o início oficial do Alcoólicos Anônimos (A.A.) no Estado, que se expandiu e está presente em mais de 100 municípios cearenses, atuando com 407 grupos. Durante este período, a Irmandade vem ajudando e transformando a vida de dependentes químicos e famílias de quem busca o auxílio.

Os participantes prezam pelo anonimato, mas, em suas histórias de vida, que ganham público nas reuniões de A.A. espalhadas pelo Ceará, é possível perceber a importância do grupo para quem teve a vida transformada. “Em 1978, com 15 anos, frequentava as festinhas de amigos e tomei meu primeiro gole. Há uma tendência das pessoas que podem se tornar alcoólatras em mudar o comportamento após o primeiro gole. Durante 16 anos tentei beber de forma controlada, mas não consegui”, relata um dos participantes.

Hoje, com 58 anos, ele é uma das lideranças no Ceará.

O A.A. transformou não só sua vida, mas de sua família como um todo. Tendo o pai com histórico de alcoolismo, internado “12 vezes como louco” - como conta, as reuniões se tornaram realidade em sua história ainda em 1977, quando o pai ingressou em um grupo. E foi justamente do patriarca que veio o incentivo, anos depois, para buscar a mudança. "É interessante como o A.A. encara esse problema, dá sugestões. Eu também comecei a analisar minha vida", enfatiza.

“Até os meus 30 anos não tinha conseguido realizar nada. A gente costuma dizer que o alcoólatra é como um furacão, que destrói tudo por onde passa. Então, em 13 de junho de 1993, fui numa reunião, no Iguape (Aquiraz). É difícil, tirar o álcool do alcoólatra é como tirar uma chupeta da boca da criança. Mas fui seguindo os passos. Voltei à faculdade, me formei em Ciência da Religião, constituí família e me tornei uma outra pessoa. Destes 52 anos de A.A., já participo há 27”.

Permanência

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), da Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso nocivo de álcool pode causar mais de 200 doenças e lesões. Na faixa etária entre 20 e 39 anos, o consumo pode ser causa de cerca de 13,5% das mortes. Segundo a OPAS, embora não exista apenas um fator de risco, quanto mais vulnerável for o usuário, maior é a probabilidade de desenvolver problemas. Para tal, o A.A. orienta passosprincípios e conceitos no caminho da recuperação, sempre, trabalhando a conscientização do dependente químico, sem imposições.

“Não posso sair do grupo porque é a base da recuperação, onde compartilhamos as nossas histórias e dizemos como estamos hoje. Temos o dever de dizer isso porque só quem pode se identificar é o próprio indivíduo. Então, não tenho o direito de sair do grupo por responsabilidade e minha própria sobriedade”, explica a liderança.

Com a vida transformada, hoje, ele está na organização do maior evento de A.A. no Brasil: a Convenção Nacional, que será realizada, no Ceará, em 2024, no Centro de Eventos. “Desde 2000, também estou no grupo Messejana, às segundas, quartas e sábados. Mas atendemos todos os dias”, indica o representante. 

Divulgação

Para o coordenador a nível local do A.A. Ceará, que solicitou anonimato, o trabalho de divulgação é uma das portas de entrada de novos integrantes. “Recebemos através dos grupos, preparados para receber quem deseja conhecer o modo de vida que apresentamos. É um programa de muita liberdade. Vamos ouvir os problemas e oferecer a nossa proposta. São 12 passos de Alcoólicos Anônimos, mais 12 princípios que dizem como os grupos funcionam e como nos colocamos diante da sociedade”, explica.

A Irmandade também conta com auxílio de parceiros profissionais que prestam auxílio especializado diante do problema do alcoolismo. “Tomamos emprestado algumas teorias da medicina, alguns princípios espirituais das religiões e a experiência de quem deixou de beber”, explica. 

“Não temos cargos de autoridade. Somos todos iguais perante a doença. Trabalhamos com base no espírito de serviço a partir do grupo. Temos, geralmente, em torno de seis pessoas que fazem a organização do funcionamento da reuniões: coordenador, tesoureiro, secretário, suplentes e todos nos serviços gerais. Além disso, temos o responsável por divulgar o grupo na comunidade. Uma pessoa que representa o grupo em reuniões periódicas com outros grupos no Estado para compartilhar a experiência”.

Além disso, anualmente, um representante local representa o A.A. Ceará em um fórum nacional.

Também existe uma outra Irmandade, criada a partir das esposas dos pioneiros fundadores do A.A, que auxilia familiares que sofrem com o alcoolismo dentro de casa. "O AL-Anon ajuda a tratar o familiar de uma forma objetiva e construtiva. São irmandades irmãs, mas cada um com sua própria autonomia. É importante porque eu, como alcóolico, entendo do meu alcoolismo, mas não de quem convive com ele. Com este serviço, as pessoas se modificam e se tornam muito felizes", explica o representante do A.A. Ceará.

Pandemia

Durante a pandemia de Covid-19, com a impossibilidade de reuniões presenciais, os grupos estão se reunindo virtualmente por meio de plataformas digitais. No Ceará, são pelo menos 10 salas virtuais em encontros com horários variados abertos ao público. O único requisito necessário para ser membro e participar dos encontros é o desejo de parar de beber. O A.A. não cobra taxas ou mensalidades, sendo uma entidade autossuficiente, que conta com a contribuição voluntária dos associados.

Durante a pandemia, os encontros podem ser acessados pelas áreas do Maciço Baturité, Brejo Santo, Litoral, Novo Tempo, Soares Moreno, Verdes Mares, Maracanaú, Pacajus, Sala dos Santos Dias e Sala CD 42.

Histórico

No ano de 1962, o médico cearense, Vinício M., se tornou o primeiro ‘membro solitário’ de A.A. com endereço no Ceará. Inscrito no Catálogo Mundial, o médico passou a receber visitas de AA’s estrangeiros e brasileiros em seu endereço, que virou ponto de referência para viajantes da Irmandade. Então, em 1967, juntamente com outra figura importante na história da fundação, Gladstone, passou a desenvolver a mensagem de A.A. na capital cearense.

No dia 27 de junho de 1968, há 52 anos, finalmente foi realizada, no antigo auditório do Centro de Saúde, na Praça José de Alencar, uma reunião pública com 20 pessoas. Nascia ali, o Grupo Central Fortaleza, que, hoje, funciona na avenida Duque de Caxias, 137, 2° Andar, Sala 207, no Centro. Em 15 de março de 1969, foi formado o Grupo Central Baturité, primeiro grupo de A.A. no interior do Ceará, dando início a expansão no território cearense.

Nos anos seguintes, surgiram outros grupos em diversas cidades do Interior e em Fortaleza. Em 6 de junho de 1974, mais um passo importante: foi instalado o Escritório de Serviços Locais no Ceará, que hoje funciona na Rua do Rosário, 94, Altos. O órgão, formado por sócios, tem como função assessorar os grupos presentes no Estado com a sociedade, com informações sobre locais e horários de reuniões, por exemplo.

Neste sábado (27), data em que se comemora os 52 anos de fundação no Estado, o A.A. Ceará celebra a data com um Fórum de Debates reunindo profissionais e amigos, com a participação de profissionais não alcoólicos, servidores da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil (JUNAAB) e profissionais atuantes no Estado em atividades que lidam com alcoolismo. O Fórum aconteceu de 10h às 13h, de forma virtual.

Serviço:

Telefone: (85) 3231.2437 | WhatsApp: (85) 98948.7733

E-mail: secretaria@area27ce.aa.org.br

Endereço: Rua do Rosário, 94 - Altos, Centro - Fortaleza, CE

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