Desde 2020, o mundo tem uma preocupação em comum: o coronavírus. Já naquele ano, pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) iniciaram a busca por uma vacina “da casa”, mas o imunizante segue sem previsão de chegar aos braços dos cearenses.
A vacina 2H120 Defense, contra a Covid-19, já passou por testes pré-clínicos, em hamsters e camundongos, e teve resultados promissores, segundo os pesquisadores. Os testes foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O Diário do Nordeste conversou com o reitor da Uece, o professor Hildebrando Soares, para saber: o que falta para a vacina cearense contra a Covid ser finalizada?
O reitor explica que há duas fases determinantes para que uma vacina desenvolvida chegue ao mercado: a pré-clínica, que envolve os estudos laboratoriais e testes iniciais; e a clínica, que tem o intuito de testar o imunizante em seres humanos.
“Fizemos dois testes pré-clínicos robustos, apoiados com recursos da Funcap (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, do Governo do Estado), e agora precisamos de parceria para dar um passo à frente”, aponta.
pessoas devem receber a vacina durante as três fases de teste exigidas, segundo estimativa dos pesquisadores da Uece.
Para iniciar os testes em humanos, um lote experimental da vacina precisa ser produzido e submetido à autorização da Anvisa. A Uece precisa, então, conseguir uma empresa parceira para produção industrial das doses.
Só após estabelecer essa parceria e obter investimento por parte dessa empresa é que a Universidade pode se preparar, financeira e estruturalmente, para fabricar o IFA - Ingrediente Farmacêutico Ativo, base de qualquer imunizante.
Vacina esbarra em falta de investimento
Em 2022, a Uece chegou a firmar um termo de cooperação com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para que esta “ajudasse no desenvolvimento do IFA”, como relembra Hildebrando. A parceira, porém, ainda não se consolidou, e o diálogo deve ser retomado em 2023.
Como alternativa, a Universidade buscou empresas privadas que tivessem interesse em investir na vacina cearense. “Mas o período eleitoral nos atrapalhou muito, houve um sentimento de instabilidade, a lógica de investimento e as prioridades recuaram”, frisa o reitor.
Todo investimento em pesquisa é de risco. É claro que as pesquisas indicam que os resultados da vacina são muito positivos, mas tem ainda uma fase clínica de aplicação a ser feita. E as empresas são muito conservadoras, querem muitas garantias, essa é a dificuldade da negociação.
O reitor reforça, ainda, que “a Uece não pode abrir mão daquilo que tem como ativo”, uma vez que o imunizante “é uma possibilidade grande de gerar dividendos à Universidade”, além de contribuir para proteção da população local contra o coronavírus.
Neste ano, pesquisadores da 2H120 Defense devem se reunir com representantes de uma empresa farmacêutica paulista para tentar viabilizar parceria e investimento.
Qual o papel do Governo do Estado
A provável pergunta que surge ao leitor é: por que esse recurso financeiro não vem do Estado? O reitor da Uece destaca que, além de estrutura, a fase clínica de testes exige montantes altos.
Além disso, Hildebrando destaca que o Governo do Estado garantiu duas ações estruturantes: o apoio à ciência e a preservação da equipe de pesquisadores.
Tivemos um investimento de pouco mais de R$ 1 milhão por meio da Funcap, o que mantém a equipe, garante insumos de experimentação e equipamentos, parte comprada até no mercado internacional.
Ele afirma que “se o Estado não tivesse ‘entrado’, não teríamos condições de ter chegado até aqui” no desenvolvimento da vacina, já que o material e a “mão de obra” são muito dispendiosos.
O Governo do Estado também viabilizou o termo de cooperação entre Uece e Fiocruz, documento que ainda está válido e será retomado em 2023. “Queremos, neste novo ano, estabelecer as parcerias para entregarmos a vacina pronta e segura.”