Projeto no sertão do CE treina 2,5 mil crianças de escola pública para reconhecerem sintomas de AVC

Pequenos entre cinco e nove anos aprendem como identificar doença e onde buscar ajuda médica

Você sabe reconhecer os sintomas de Acidente Vascular Cerebral (AVC)? Mais de 2.500 estudantes do Ceará, entre cinco e nove anos, estão com a resposta afiada após um treinamento ligado ao projeto “Fast Heroes” – heróis rápidos, no inglês. Neste mês, uma capacitação presencial foi realizada em Quixeramobim, no Sertão Central.

Essa iniciativa foi criada no Departamento de Educação e Políticas Sociais da Universidade da Macedônia, com apoio da companhia farmacêutica Boehringer Ingelheim, por meio da Iniciativa Angels – criada para aperfeiçoar o tratamento do AVC.

O programa Angels, inclusive, já realizou treinamentos para profissionais de saúde, fornecendo as ferramentas e protocolos mais recentes para uma resposta rápida ao AVC nos Hospitais Regionais do Cariri (HRC), do Sertão Central (HRSC) e o Regional Norte.

Na última sexta, a formação aconteceu na Escola de Ensino Fundamental Dona Maria de Araújo Carneiro, em Quixeramobim, com a participação de 20 professores e 480 alunos. A programação acontece em treinamentos de uma hora com a apresentação de três super-heróis:

  • Vovô Simão (Sorriso)
  • Vovô Bruno (Abraço)
  • Vovó Fiona (Fala)

Os vovôs simbolizam os sintomas do AVC ligados ao “sorriso torto”, a fraqueza no abraço e a dificuldade para a fala. Conforme o Ministério da Saúde, o AVC acontece quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia da área cerebral afetada.

É aí que entra o vilão da história, nomeado de “Coágulo”. Para combatê-lo, contudo, surge Tiago, o neto dos super-heróis, que deixa uma lição para as crianças ao identificar um AVC: ligar para o Samu 192.

Já são 36 escolas contempladas no Município e a ideia é estender para todas as escolas públicas do Ensino Fundamental I. Anteriormente, já haviam sido treinados 44 gestores escolares e 77 professores de forma virtual, de acordo com a Secretaria da Educação do Município.

“Esse trabalho específico com crianças tem um impacto social maior aqui na região, uma vez que essa geração treinada durante anos e, com a capacidade que as crianças têm, pode transformar a realidade no que se referente ao atendimento de pacientes com AVC", avalia Alan Cidrão, neurologista do HRSC.

A ideia é que os pequenos sejam capazes de acionar ajuda ao se deparar com pais, tios, avós ou qualquer paciente com a doença. O Hospital Regional do Sertão Central é o centro de referência para o atendimento ao AVC na região. 

"Essa iniciativa é importantíssima para a gente, porque nós sabemos que o tempo no atendimento ao paciente com AVC é fundamental. Sabendo da capacidade que as crianças têm de entender e divulgar a informação, é muito importante que a gente consiga treiná-los", completa Eucilene Kassya Barros de Oliveira, diretora clínica do HRSC.

Conhecimento sobre AVC

Aluizio Farias Neto, diretor do Samu Ceará da Base Quixeramobim, avalia que a iniciativa traz um movimento muito entusiasmante por enxergar as crianças como multiplicadores de informações relevantes para o salvamento.

"Nós tivemos um ganho enorme em relação à operacionalização do serviço, aumentou a conexão entre os serviços do município, tivemos a presença da UPA, o Hospital Regional, Samu, a Secretaria da Saúde do Estado”, avalia.

Kamila Fachola, líder da iniciativa Angels no Brasil, contextualiza que o Município está dentro de um programa chamado Cidade Angels onde é aperfeiçoada a linha de cuidado para atendimento dos pacientes com AVC.

"As crianças que recebem essa capacitação estão aptas a informar os pais e famílias, avós e vizinhos, sobre os sinais e sintomas de AVC. O reconhecimento disso é um dos principais problemas que nós temos hoje no Brasil, pois a população não consegue reconhecer a tempo quando está tendo um AVC", considera.

Os sinais de alerta para o AVC são:

  • Perda súbita de força ou formigamento de um lado do corpo (face e/ou membro superior, e/ou membro inferior)
  • Confusão mental
  • Dificuldade de falar ou compreender a fala
  • Perda de visão súbita em um ou ambos os olhos
  • Tontura
  • Perda de equilíbrio e/ou coordenação
  • Dor de cabeça intensa e sem causa aparente

Entre as doenças cardiovasculares, o AVC é a primeira maior causa de morte no Brasil e uma das principais causas de incapacidade no mundo. Cerca de sete a cada 10 pessoas ficam com sequelas do AVC.