Dois exemplares de peixe-leão foram avistados, no último sábado (30), por um grupo de mergulhadores na Praia da Caponga, em Cascavel, Região Metropolitana de Fortaleza. Essa é a primeira vez que os animais são registrados no município. Eles foram encontrados próximo ao Canal de Uruaú, em Beberibe, a 30 metros de profundidade.
O gênero de peixe marinho venenoso representa uma ameaça para o ecossistema cearense e brasileiro, como esclarece o professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), e pesquisador do Programa Cientista-Chefe Meio Ambiente, Marcelo Soares.
"Ele se alimenta da fauna nativa, principalmente peixes, e não tem predadores naturais. Assim, a população cresce muito, se não houver controle por ação do governo. Portanto, modifica profundamente o ecossistema e também a pesca artesanal. Os dados iniciais apontam para riscos a 29 espécies de peixes brasileiros, fora a alteração do ecossistema em si."
Os primeiros registros do animal, nativo dos oceanos Índico e Pacífico, aconteceram no Litoral Oeste, como as praias de Camocim e de Jericoacoara, no início de março deste ano. Desde então, já aparece em metade dos municípios de praia, como Icapuí, Aracati, Iguape e Pecém.
O especialista projeta que, caso siga o ritmo atual, o peixe invadirá o restante do litoral do Estado até o fim deste ano. E, em dois ou três anos, estará presente em toda a costa brasileira.
Além de ser encontrado no mar, o peixe-leão também foi identificado na região de estuário (área de encontro entre um rio e o mar) do Rio Timonha, em Barroquinha, Região Norte do Estado. O avanço em água doce do invasor aumenta o risco para as espécies nativas, conforme o professor.
"O estuário é o berçário da vida marinha. A maternidade. Então ele vai se alimentar lá. Fora que no estuário existe o risco de acidentes com pescadores e marisqueiras (catadoras de moluscos). A água é mais turva e é difícil de ver ele."
Segundo Ministério do Meio Ambiente (MMA), é provável que esses animais tenham chegado aqui vindos naturalmente pelas águas do Caribe, onde também é um invasor, por meio de correntes marítimas. Entretanto, a possibilidade dessa introdução ter sido provocada também por aquaristas amadores ainda não está descartada.
Risco aos banhistas
Apesar de ser um gênero venenoso para humanos, o peixe-leão representa uma baixa ameaça para os banhistas, como explica Marcelo Soares.
"Ele não dá em praias arenosas. É um animal mais de ambiente rochoso ou artificial, como curral de pesca, marambaia etc. Além disso, ele não ataca. No Caribe, onde ele já se alastrou, é comum mergulhar e ver ele."
Segundo o especialista, o peixe representa um risco maior para os pescadores, já que eles entram no mar sem usar luvas e calçados, além da água ser turva e camuflar a presença dele no local.
Ações de combate ao peixe-leão
O MMA informou, em nota, que foram registradas a aparição de duas espécies desses animais, Pterois volitans e Pterois miles, na foz do rio Amazonas, Pará e Amapá, tendo percorrido o litoral nordestino e chegado ao arquipélago de Fernando de Noronha e ao Rio de Janeiro.
A pasta destacou que o peixe-leão é uma espécie recifal invasora no Oceano Atlântico, venenosa e capaz de causar prejuízos aos ambientes aquáticos, impactos sobre a biodiversidade e danos à saúde humana.
Ainda conforme o comunicado, o ministério está desenvolvendo, em articulação com outras instituições, um Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento aplicado ao peixe-leão, inclusive com o desenvolvimento de protocolos aplicáveis para as atividades locais de alerta, detecção e resposta rápida que assegurem ações eficazes e impeçam o avanço do processo de invasão.
A pasta disse também que, paralelamente, com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vem promovendo ampla campanha de informação para conter a nova invasão até que os novos esforços possam ser implementados no controle do animal.
O que fazer ao encontrar um peixe-leão
O professor indica que ao encontrar um animal do tipo o indivíduo deve evitar o manejo sem o material de segurança adequado (equipamento de mergulho, roupa, sapatos, luvas, arpão, bolsa para impedir contato com os espinhos etc).
O Labomar realiza o monitoramento das aparições do peixe no litoral cearense e, conforme o especialista, ao se deparar com um exemplar do animal a pessoa deve informar ao programa de pesquisa Cientista-Chefe através do número de WhatsApp (85) 3366.7059.
É possível acompanhar os locais em que foram registrados peixes-leões no Ceará através do site oficial da iniciativa.
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