Quando se tem alguma deficiência física ou mobilidade reduzida, circular pela cidade, a pé ou por meio de transporte, se torna uma verdadeira corrida de obstáculos. Encontrar estacionamentos adaptados, driblar escadas, batentes e bancadas, encarar pisos elevados e irregulares, calçadas altas etc. Essas são algumas das barreiras que os milhões de brasileiros com deficiência experimentam no dia a dia.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8,4% da população brasileira acima de 2 anos – o que representa 17,3 milhões de pessoas – tem algum tipo de deficiência. Quase metade dessa parcela (49,4%) é de idosos. Pensar numa mobilidade urbana acessível para essa fatia da população é um dos grandes desafios das metrópoles em desenvolvimento.
“Um dos principais pontos para se ter uma cidade acessível é proporcionar uma oferta de infraestrutura urbana acessível, englobando diferentes condições de mobilidade e percepção ambiental, visando garantir a completude da acessibilidade em logradouros públicos, praças e parques, bem como a melhoria da segurança em travessias”, observa a arquiteta e urbanista Raquel do Vale, mestranda e pesquisadora em Planejamento Urbano e Direito à Cidade, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade Federal do Ceará (UFC).
A profissional ressalta ainda a importância de eliminar barreiras, inclusive, atitudinais, ocasionadas por comportamentos que impeçam o direito de ir e vir, como carros estacionados em calçadas, pontos de lixos e materiais de construção civil, entre outros. “O direito de transitar pela cidade com segurança é manifesto a todas as pessoas, sendo este um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988. Nesse contexto, a mobilidade e uma acessibilidade urbana de qualidade são considerados fatores imprescindíveis para a garantia do direito de ir e vir e o acesso à cidade das pessoas com deficiência”, destaca.
A empresária e palestrante Lívia Vasconcelos enfrenta todos os dias os desafios de frequentar lugares que não são adaptados para pessoas com nanismo. “Quando a gente sai, eu gasto muito mais tempo fazendo as coisas, realizando as minhas tarefas, porque tenho que passar por vários obstáculos, várias situações constrangedoras por não estarem acessíveis para mim”.
Para a empresária, a questão é urgente e a luta das pessoas com deficiência é por uma mobilidade urbana sem barreiras e que garanta a independência no deslocamento delas. “Eu tenho o direito a ir a qualquer lugar que eu quiser. Está na constituição, está no meu direito. Então se eu quiser ir para o cinema, para um shopping, para um evento ou teatro, tem que estar tudo acessível a mim”, defende Livia Vasconcelos.
Melhorias
Na avaliação da arquiteta Raquel do Vale, a cidade de Fortaleza vem buscando a melhoria da acessibilidade, colocando a mobilidade ativa, por meio do caminhar e das bicicletas, como protagonista em diversas políticas públicas implementadas na cidade. “É perceptível uma preocupação na melhoria da implementação da infraestrutura de acessibilidade para o acesso das pessoas com deficiência ao transporte público em terminais de ônibus que passaram por grandes reformas, como o Terminal de Messejana e Antônio Bezerra e em corredores de transporte, como Av. Aguanambi, Av. Bezerra de Menezes, Av. Dom Luís e Av. Desembargador Moreira”, pontua.
Ela aponta com um grande marco para a mobilidade urbana na Capital a elaboração do Plano Municipal de Caminhabilidade. “É o único plano do Brasil que tem a mobilidade ativa por meio do caminhar como prioridade em 97 ações estratégicas que estão sendo implementadas em Fortaleza, entre elas, ações que proporcionam acessibilidade para pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida no acesso ao transporte público”, destaca.
Assim, como Fortaleza, várias cidades no Brasil e do Mundo estão em busca de uma mobilidade urbana acessível para todos os públicos, como ilustra Raquel do Vale. “Temos como exemplo a capital do Paraná, a cidade de Curitiba, que nas últimas décadas priorizou a acessibilidade e o transporte público. No mundo temos vários exemplos, como: Helsinque, na Finlândia, que teve como objetivo nos últimos anos ter mais pedestres na cidade e menos carros nas ruas. Essa é a lógica da capital finlandesa que, em seu planejamento para 2050, pretende criar uma rede de bairros mais densos, caminháveis e conectados entre si, com prioridade para o transporte ativo e coletivo. E Copenhague, na Dinamarca, onde o pedestre é uma prioridade na cidade para melhorar a mobilidade, equilibrando a distribuição do espaço e a construção de uma cidade mais justa para as pessoas”.
Projeto Mobilidade Urbana
Em busca de ampliar as vozes sobre o tema, o Sistema Verdes Mares (SVM) lançou o projeto Mobilidade Urbana 2022, com patrocínio da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALCE) e apoio da AMC. Por meio de uma série de programas veiculados na TV Diário, especialistas locais e de outras partes do Brasil trazem análises e perspectivas sobre o assunto. Todos os episódios estão disponíveis no canal do Youtube da emissora. Confira.