Após mobilizar centenas de pessoas que buscam cura para enfermidades na cidade de Cruz, interior do Ceará, uma criança de 7 anos passou a ser acompanhada pela Diocese de Sobral, institutição representante da Igreja Católica naquela Região, conforme comunicado oficial publicado nesta sexta-feira (23). O menino frequenta a catequese de iniciação à vida cristã.
Há algumas semanas, filas de pessoas em busca de milagres começaram a se formar na casa da criança, quando a notícia de que ele estaria "curando" doentes se espalhou pela região.
"A Igreja nunca negou a existência de milagres e acredita que o Espírito Santo age como quer e através de diversos meios", diz o informativo assinado pelo Bispo Dom José Luiz Gomes de Vasconcelos.
O menino apontado como "curandeiro" ganhou maior visibilidade em março deste ano, quando começou a atender diversas pessoas com problemas de saúde. Em agosto, uma mulher disse ter ficado boa da visão após a reza da criança e a fila para contato com a criança cresceu expressivamente.
Foi por causa da repercussão dos casos na imprensa e entre os fiéis que a Igreja Católica emitiu um parecer sobre o "menino curandeiro". A Diocese de Sobral, no entanto, ponderou que existem critérios rígidos para reconhecer um milagre oficialmente.
Segundo o comunicado emitido, isso é feito com base em 7 tópicos do documento "De servorum beatificatione et beatorum canonizatione", do livro IV, capítulo VII, 2-1734), do Papa Bento XVI. Confira:
- A doença deve ter características de gravidade, com prognóstico negativo
- O diagnóstico real da doença deve ser certo e preciso
- A doença deve ser apenas orgânica
- Nenhum tratamento pode ter favorecido o processo de cicatrização
- A cura deve ser repentina, inesperada e instantânea
- O retorno aonormal deve ser completo (e sem convalescença)
- A cura deve ser duradoura (sem recaídas)
A Igreja informou que a criança e os pais são católicos e o menino frequenta a catequese de iniciação à vida cristã. "A Diocese de Sobral está e vai continuar acompanhando o caso", concluiu.
Conselho Tutelar também acompanha o caso
O Conselho Tutelar da cidade visitou a família e encaminhou o pequeno para atendimento pelo sistema de assistência social.
Em conversa com o Diário do Nordeste por telefone uma fonte do órgão de proteção afirmou que o menino estava sofrendo “muita exposição e risco de violência psicológica, diante do atendimento de centenas de pessoas por dia”.
De acordo com o órgão, os pais “compreenderam a situação e, após a visita conselho, reduziram os dias e horários de atendimento” da criança às pessoas. “Não impomos isso, mas eles mesmos tomaram essa providência.”
O conselho destacou que a família foi advertida sob o artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê sanções a violações de direitos de menores por pais ou responsáveis.