Internações por bronquiolite cresceram 62% no Ceará em 2023; veja sintomas e prevenção

Bebês prematuros são mais vulneráveis à hospitalizações e mortes pela infecção transmitida pelo ar ou por contato direto

A bronquiolite, uma inflamação pulmonar causada geralmente pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), levou mais cearenses à hospitalização no último ano: foram 5.585 pacientes internados – 62,2% a mais do que em 2022, quando foram 3.443. A doença causa falta de ar e ameaça sobretudo bebês, em especial, os prematuros.

O cenário da infecção respiratória no Brasil, com balanço de internações e perspectivas para 2024, foi debatido durante o lançamento da campanha “Bye, bye, bronquiolite”, nessa quinta-feira (14), em São Paulo, com a presença do Diário do Nordeste.

A iniciativa é promovida pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela biofarmacêutica AstraZeneca. Com dados do Ministério da Saúde, infectologistas evidenciam a relevância dos cuidados com os bebês para evitar a infecção por meio de medidas de higiene e de distanciamento, além do uso de anticorpos.

Rosana Richtmann, infectologista no Instituto Emílio Ribas, explica que a reação inflamatória causa uma descamação das células nos bronquíolos, que é a parte final dos brônquios, nos pulmões. Isso prejudica a oxigenação e os bebês podem ficar “roxinhos e com muita secreção”. 

"O vírus pode causar problemas agudos, como pneumonia e bronquiolite (de imediato), mas também problemas a médio prazo, como o chiado, e a longo prazo, na criança asmática", frisa sobre os riscos da infecção.

O Vírus Sincicial Respiratório, inclusive, foi o principal responsável pelo aumento da demanda de hospitais pediátricos no Ceará no início de 2023. Em abril, por exemplo, a taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e de enfermarias ultrapassou os 90%.

A situação pode ter sido ocasionada por dois fatores. Primeiro, porque a bronquiolite é mais comum no período chuvoso, entre fevereiro e maio, nos municípios cearenses. Depois, devido a maior transmissão com o retorno dos bebês e crianças às escolas e encontros familiares depois do isolamento na pandemia.

“Com todo mundo em casa e usando máscaras, essas barreiras funcionaram. Tivemos praticamente 2 anos em que as crianças pequenas não tiveram contato com esses vírus”, contextualiza Rosana. Em 2023, a lógica inverteu e mais pequenos foram acometidos pela infecção.

Isso “bagunçou” o comportamento tradicional da doença que começou a se manifestar também mais cedo, mas depois da explosão de casos do último ano, a perspectiva dos especialistas é de que o VSR volte a circular como antes.

Quais são os riscos da bronquiolite?

A bronquiolite pode afetar todas as faixas etárias, mas causa preocupação no público de até 2 anos e, mais ainda, os menores de 6 meses. A doença pode ser muito mais comum do que os dados disponíveis, já que não é de notificação compulsória, e a mostra dos casos ficam com os registros das internações.

Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, conta que muitas vezes a doença é confundida com algo mais simples. “Inicia com um quadro leve, parecendo um resfriado, com febre baixa, mas vai progredindo para a dificuldade respiratória com ápice no 5º dia. Geralmente, levam 2 semanas para a recuperação.

Mas é esse prejuízo à respiração que leva muitos bebês à internação com risco de vida. Os sinais de alerta são a “dificuldade respiratória, a criança que não consegue mamar, que fica muito abatida, sonolenta, com febre alta e persistente”, como lista o médico.

O prematuro tem características que o tornam mais vulnerável, principalmente, às questões respiratórias. Quanto mais prematuro, menor a quantidade de anticorpos recebidos. São imaturos na pele, na respiração e no sistema imunológico
Renato Kfouri
Presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria

A atenção aos prematuros, aliás, levou ao Supremo Tribunal Federal, em outubro de 2022, a determinar que a licença maternidade de 120 dias comece a valer apenas com a alta hospitalar do bebê ou da mãe, o que acontecer por último.

Sintomas da bronquiolite:

  • Febre;
  • Dor de garganta;
  • Dor de cabeça;
  • Secreção nasal;
  • Tosse persistente;
  • Dificuldade para respirar;
  • Chiado no peito;
  • Lábios e unhas arroxeados.

Os especialistas apontam que 75% dos casos de bronquiolite em bebês de até 2 anos acontecem pela contaminação pelo VSR.

"A transmissão é através do contato direto, um metro e meio, ou indireto. Se eu estiver com a mão contaminada, o vírus sobrevive por horas e acaba tendo a transmissão pela mucosa da boca", acrescenta Rosana Richtmann.

Como prevenir ou tratar a bronquiolite

A prevenção da bronquiolite é feita com a lavagem das mãos, uso de máscaras, distanciamento dos bebês das pessoas com sintomas gripais. Ainda não existe uma vacina específica contra o Vírus Sincicial Respiratório aprovada para as crianças – somente para idosos.

Contudo, a vacinação contra a gripe e contra a Covid fortalece o sistema imunológico e protege os bebês de casos graves das doenças respiratórias. Confira dicas de prevenção do VSR, causador da bronquiolite:

  • Higienizar as mãos com sabonetes ou álcool em gel;
  • Evitar aglomerações com crianças e bebês;
  • Isolar o contato com pessoas gripadas;
  • Manter o aleitamento materno durante os primeiros dois anos de vida.

“Hoje temos uma estratégia de prevenção que não é só lavar as mãos e usar máscara, mas  temos um anticorpo específico para proteger esses bebês”, acrescenta Renato sobre o anticorpo Palivizumabe.

A substância não é uma vacina, mas induz a imunização dos pacientes em situação de vulnerabilidade. O Palivizumabe é indicado para prematuros, portadores de doenças cardíacas e pulmonares nos 2 primeiros anos de vida, independente da idade gestacional.

Confira as respostas sobre a doença

Como se pega bronquiolite?

A bronquiolite é uma inflamação pulmonar decorrente de uma contaminação por vírus. Cerca de 75% dos casos da doença em bebês estão ligados ao Vírus Sincicial Respiratório, mas outros tipos como o rinovírus e o coronavírus também podem causar bronquiolite. A transmissão pode ser por contato direto ou indireto com pessoas contaminadas.

Como evitar bronquiolite?

A transmissão da bronquiolite pode ser evitada com a lavagem das mãos, higienização dos ambientes, distanciamento de aglomerações e de pessoas com sintomas gripais. No caso dos recém nascidos, também se orienta evitar as visitas domiciliares.

Bronquiolite mata?

A bronquiolite pode levar a casos graves de dificuldades respiratórias e ocasionar a morte, principalmente, de bebês.

Qual a diferença entre bronquite e bronquiolite?

A bronquiolite é uma inflamação dos bronquíolos, que é a parte final dos brônquios, e atinge principalmente os bebês menores de dois anos, conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Já a bronquite é caracterizada pela inflamação dos brônquios, e pode ter origem viral ou bacteriana.

Quais os sintomas de bronquiolite em bebês?

Os sintomas da bronquiolite são febre, dor de garganta, dor de cabeça, secreção nasal, tosse persistente, dificuldade para respirar, chiado no peito, lábios e unhas arroxeados.