A avenida Beira Mar e toda a orla da Praia de Iracema formam uma das regiões mais frequentadas de Fortaleza. Parte desse cenário são os “espigões”, que se transformaram em áreas de lazer para cearenses e turistas – mas cuja manutenção não tem acompanhado o uso.
Numa extensão de quase 3km, três espigões são urbanizados e frequentados por pedestres na capital: um na Praia do Náutico, próximo à tradicional feira; outro na Av. Rui Barbosa, na altura do Ideal Clube; e o último na rua João Cordeiro, no Aterrinho da Praia de Iracema.
O primeiro, requalificado na gestão municipal passada, apresenta o melhor estado entre os três. Com piso intertravado e mobiliário intactos, o espaço é massivamente utilizado por famílias, atletas e até ciclistas.
Apesar da ausência de guarda-corpos separando a plataforma dos blocos de pedra no mar, a iluminação auxilia na segurança do local, patrulhado por policiais militares na ocasião em que a reportagem esteve lá.
Mais à frente, já no Espigão da Av. Rui Barbosa, os primeiros problemas aparecem. No local das grades de madeira antes instaladas lá, estão, hoje, buracos com resquícios da estrutura, enferrujados. Diferente de antes, não há mais iluminação ao longo da estrutura.
O pior cenário, porém, é presenciado no Espigão da rua João Cordeiro. No mais extenso entre os três equipamentos, a falta de manutenção é visível: os guarda-corpos e o piso estão danificados em diversos pontos, e os bancos têm estacas de madeira soltas, sem pintura.
O motoboy João Paulo Silva, 38, afirma que o local é um dos pontos preferidos para passear com a filha Maria, 6, mas reconhece que “precisa ficar de olho”. “Ela gosta de correr, e como tem vários cantos sem as grades, tenho medo. Não deveria estar assim, né? É perigoso e feio”, pontua.
Espigões e a “vida da cidade”
Os espigões cumprem, antes de tudo, uma função ambiental: diminuem a energia das ondas e protegem o litoral, permitindo a construção de aterros e calçadões, como explica Fábio Perdigão, pós-doutor em Geografia e coordenador do Laboratório de Gestão Integrada da Zona Costeira da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Urbanizá-los e dar a eles outros usos, contudo, tende a gerar mais impactos positivos, como complementa Fábio, pesquisador de gestão integrada da zona costeira e de impactos socioambientais do turismo litorâneo.
Não são estruturas bonitas do ponto de vista paisagístico: são montes de pedras. Existe a possibilidade de o poder público urbanizar e ocupar esse espaço de uma forma que a própria população frequente muito – e lugares bem frequentados tendem a ficar mais bem conservados.
O professor defende que ao configurar um espaço para uso da população e de turistas, a gestão municipal cria para si uma responsabilidade. “A manutenção tem que entrar nos planos da cidade: a eletricidade, a limpeza e a segurança”, lista.
Outra alternativa, ele cita, é estabelecer parcerias público-privadas, como ocorrerá com os espigões do Náutico e da Rui Barbosa, ambos concedidos neste mês à iniciativa privada pela Prefeitura de Fortaleza.
foi o valor da proposta vencedora da licitação, feita pelo Consórcio Píer Beira Mar. A empresa, que ainda vai apresentar o cronograma de obras à Prefeitura de Fortaleza, ocupará os espaços por 16 anos. Ao fim do prazo, as estruturas devem pertencer ao Município.
Para o Espigão do Náutico, está prevista a construção de um polo gastronômico e de “atrações típicas de parques temáticos”, como informou a prefeitura em nota ao Diário do Nordeste. Já no da Rui Barbosa, “haverá um corredor gastronômico, um restaurante e um centro comercial”.
O professor Fábio destaca que “o importante é que as soluções incorporem esses equipamentos de proteção ambiental à vida da cidade, que as pessoas frequentem” e que os potenciais, “como a vista bela da cidade”, sejam explorados.
Requalificação em 2024
Sobre o Espigão da João Cordeiro, a Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) respondeu, em nota, que “está contemplado nas obras de urbanização da Praia de Iracema”, previstas para o segundo semestre de 2024.
“O projeto prevê a recuperação do piso, novos mobiliários urbanos, guarda-corpo, reforço na iluminação, além da criação de arquibancadas para contemplação do pôr-do-sol”, complementa a Pasta.
Sobre o atual estado da estrutura, a Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) garantiu que “os três espigões são contemplados com ações de limpeza realizadas em toda a sua extensão”, mas não mencionou a periodicidade com que reparos estruturais são feitos.
Já a manutenção da iluminação no local, frisou a SCSP, “ocorre sob demanda, com solicitação do serviço por meio da Central 156, assim como no restante da cidade”. A Pasta reforça que “serviços públicos, como manutenção de equipamentos e limpeza”, também devem ser solicitados por meio da central.