Em evolução, Monitor de Secas pode incluir países da América do Sul e ter detalhes por cidade

Melhora na análise inclui perspectiva de sensoriamento remoto para facilitar tomadas de decisão para mitigação de problemas

Criado em 2014, o Monitor de Secas realiza o acompanhamento contínuo do grau de severidade desse fenômeno no Brasil com base em indicadores e impactos causados em curto e/ou longo prazo. Agora, 10 anos depois, os órgãos de análise pretendem detalhar ainda mais as informações e incluir países estratégicos para a gestão da água em território nacional.

Especialistas de diversos Estados se reuniram para acompanhar a programação do Encontro 10 Anos do Monitor de Secas, em Fortaleza, nesta quarta-feira (21). O trabalho é coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e conta com o apoio de 60 instituições - entre elas, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que participou da concepção do projeto.

Por meio do Monitor, é possível comparar a evolução das secas nos 26 estados e no Distrito Federal. A última unidade da federação a aderir à ferramenta foi o Amapá, em janeiro deste ano. 

Conforme o monitoramento, o território brasileiro tem passado por seca em todos os meses desde julho de 2014, quando a análise teve início. Ao todo, já foram produzidos 120 mapas.

O Monitor de Secas junta dados meteorológicos, hidrológicos e agrícolas para retratar a seca nessas três dimensões.

Em entrevista à imprensa, a diretora-presidente da ANA, Veronica Sánchez, explicou que a ideia é ampliar a avaliação para países da bacia Amazônica que fazem fronteira com o Brasil. 

“Lá - Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela -, nascem os principais rios da bacia, que percorrem nosso território e deságuam no Atlântico. É muito importante que tenhamos as informações sobre a seca lá porque ela pode nos afetar aqui”, ressalta. 

Da mesma forma, outros países do continente sul-americano poderiam ser beneficiados na contramão, visto que outros rios nascem no Brasil e deságuam na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. “Para eles, nossa informação também é relevante”, diz Sánchez.

Segundo a diretora, a ANA já está em tratativa com a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e com a Bacia do Rio Prata, havendo “boa perspectiva de ampliar”.

“Agora, a gente depende de recursos para que esses países comprem ferramentas e tenham validadores locais para termos as informações”, projeta.

Veronica pensa que não há necessidade da criação de uma ferramenta extra para agregar os novos dados, pois a metodologia empregada pelo Monitor leva em conta a validação da rede de entidades parceiras sobre a veracidade dos dados divulgados.

Para que serve o Monitor de Secas?

O Monitor de Secas vem sendo utilizado para auxiliar o planejamento e a execução de políticas públicas de prevenção e minimização dos impactos da seca em todo o País, integrando o conhecimento técnico e científico para verificar condições como intensidade, evolução espacial e temporal e impactos sobre diferentes setores.

Para o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, ele pode ser atualizado e ainda mais aprimorado. “Hoje, nós temos quatro indicadores. A tendência é incluirmos novos indicadores, como modelagem e produtos de sensoriamento remoto, exatamente para enriquecer o detalhamento de seca ao nível de município, por exemplo”, acredita. 

Ele destaca que, nos últimos 10 anos, houve grande troca de experiências entre o Ceará e outras unidades da Federação sobre o uso das informações fornecidas pelo levantamento. Afinal, na prática, para que serviria o Monitor?

Uma das ideias partiu da Defesa Civil Nacional: municípios que são categorizados com severidade “moderada” ou “superior” no mapa são automaticamente incluídos no programa Carro-Pipa. Isso evita uma sobrecarga de análise para o órgão e facilita o processo para os Estados. 

“Esse é um aprendizado extra: como usar a informação”, comemora Eduardo. “Os próprios parceiros, hoje, do Monitor, acabam concebendo suas maneiras de uso da informação e se apropriando da ferramenta”. 

Análise da seca no Ceará

No último dia 20 de agosto, foi divulgado o mapa com a análise do mês de julho. Ele mostra que a maior parcela do Ceará se encontra sem seca relativa. Apenas uma pequena área no extremo sul do Cariri apresenta seca fraca.

Percentualmente, o valor com alguma área de seca no Estado cresceu de 0,7%, em junho, para os atuais 5,2%. Segundo o estudo, isso ocorreu “devido às anomalias negativas de precipitação”, ou seja, baixo volume de chuvas nos últimos meses.