Dois submarinos destruídos desapareceram no litoral do CE com mais de 100 mortos há 80 anos

Assim como submarino que sumiu a caminho do Titanic, destroços podem estar no fundo do oceano

Há 80 anos, as atividades marinhas de dois submarinos produzidos na Alemanha tiveram fim ao norte da costa cearense, com apenas uma semana de diferença. Os Unterseeboots 507 e 164, ou simplesmente U-507 e U-164, foram atingidos e afundados por aviões americanos em embates durante a 2ª Guerra Mundial. Mais de 100 pessoas morreram.

Embora em condições diferentes, os casos lembram o desaparecimento do submarino Titan, desde o último domingo (18), que estava em expedição até o navio Titanic com cinco pessoas a bordo. A Guarda Costeira dos Estados Unidos informou nesta quinta (22) que foram encontrados destroços na área de buscas. 

Para conhecer a história dos dois submarinos afundados perto do Ceará, a reportagem consultou artigos e arquivos históricos de múltiplas fontes, como o Museu Virtual do Pecém, a Marinha do Brasil e o Comando de História e Patrimônio Naval dos Estados Unidos. 

"A informação que se tem é que eles continuam lá. Tem a posição do bombardeio, mas não temos a posição exata", explica o mergulhador Marcus Davis, pesquisador de naufrágios do Ceará, em conversa com o Diário do Nordeste. "Provavelmente, nunca foram retirados de lá".

O U-507, inclusive, foi responsável por levar o Brasil, até então um país neutro no conflito, a entrar na Guerra. O submarino promoveu uma série de ataques a navios brasileiros em 1942, em Sergipe e na Bahia, afundando seis deles e matando mais de 600 pessoas torpedeadas ou afogadas - incluindo mulheres e crianças.

O Unterseeboot 507 pertencia à Marinha de Guerra Alemã (Kriegsmarine) e tinha longo alcance. Ele foi lançado em 1941 e, durante 15 meses, afundou 19 navios mercantes e danificou outro.

Nesse tempo, teve apenas um comandante: Harro Schacht (1907-1943), um “Korvettenkapitän” (capitão de corveta), condecorado com a Cruz de Ferro de 1ª classe, em 1942, e com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, em 9 de janeiro de 1943, quatro dias antes de falecer.

Construindo carreira na Marinha, Harro recebeu o comando do U-507 em outubro de 1941. Durante as patrulhas no Atlântico Sul, tinha como missão interceptar a navegação de países Aliados, grupo formado por Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética. 

Com destino incerto, ele pediu autorização ao comando para operar livremente, recebendo resposta positiva horas depois.

Entre os dias 15 e 19 de agosto de 1942, Schacht afundou seis navios brasileiros: Aníbal Benévolo, Baependy, Araraquara, Arará, Itagiba e Jacira. Pressionado pela população em revolta, o Governo de Getúlio Vargas usou esses ataques como motivo para declarar guerra à Alemanha em 22 de agosto.

Início da revanche

Porém, ele não estava sozinho nas águas nordestinas. O submarino U-164 foi responsável pela destruição do navio mercante sueco Brageland ao norte do Ceará, na madrugada do dia 1º de janeiro de 1943. No entanto, a tripulação foi previamente ordenada a deixar o navio; 28 pessoas saíram em botes salva-vidas e conseguiram chegar à cidade de Tutóia, no Maranhão.

Em 3 de janeiro de 1943, foi a vez do U-507 entrar em ação derrubando o navio a vapor britânico Baron Dechmont, hoje conhecido como “Naufrágio do Pecém”, que repousa nas profundezas do mar.

Com a expansão da vigilância americana na costa do país, três dias depois, em 6 de janeiro, o U-164 foi atacado por bombas no litoral norte do Ceará e se tornou o primeiro dos 12 submersíveis do Eixo (grupo formado por Alemanha, Itália e Japão) a ser afundado no litoral brasileiro.

O ataque ocorreu pelo avião Catalina 83-P-2, sob o comando do tenente aviador William Render Ford, depois que o submarino foi avistado pelo engenheiro de voo Billy Goodell. Segundo o livro “Sighted Sub, Sank Same”, havia homens da tripulação no deck do submarino, aparentemente tomando banho e desavisados sobre o ataque iminente.

Dois desses homens correram para a escotilha, mas ela estava fechada. Com a explosão das quatro bombas, eles foram arremessados para o mar e se tornaram os únicos sobreviventes - depois, prisioneiros. O capitão de corveta Otto Fechner (1905-1943) e o restante tripulação, de cerca de 50 pessoas, faleceram na ocasião.

Fim do segundo carrasco

Apesar da perda do “colega”, o U-507 seguiu seu caminho e, no dia 8 de janeiro, afundou outro vapor britânico, o SS Yookwood, perto do Rio Grande do Norte. O capitão do navio e mais três pessoas foram levados como prisioneiros.

Cinco dias depois, o destacamento do tenente aviador Lloyd Ludwig, da Marinha Americana, que dava cobertura aérea a comboios aliados entre Natal e Belém, recebeu a informação de que um submarino estava seguindo um grupo no litoral norte do Ceará.

Então, na manhã de 13 de janeiro, os aviadores decolaram de Fortaleza em busca do U-507 a bordo de um avião Catalina PYB-10. Ao avistar a aeronave, o U-boot começou a submergir, mas os americanos soltaram quatro bombas chamadas de “cargas de profundidade”, levantando uma grande coluna d’água. 

Após o ataque, não foram vistos sobreviventes (havia 54 pessoas a bordo) ou destroços, levantando suspeitas sobre a eficiência do ataque. No entanto, o U-507 nunca reapareceu.

“Foi torpedeado e nunca encontrado, embora existam boatos que pode estar próximo à costa”, acredita o mergulhador e pesquisador Augusto César Bastos. “É provável que esteja em lugar bem profundo”.

Schacht e toda a tripulação do U-507 foram mortos no Atlântico Sul, incluindo os quatro prisioneiros britânicos. O capitão alemão recebeu uma promoção póstuma a Fregattenkapitän (capitão de fragata), em 1º de janeiro de 1944.