O volume de chuvas no Ceará em fevereiro já atingiu o índice esperado para o mês inteiro. A média histórica para o mês é de 121,3 milímetros, mas o acumulado até o momento já chegou a 155,6 mm, um desvio positivo de 28,3%. Embora esses dados ainda possam ser atualizados à medida que mais precipitações ocorram, o mês já tem um volume considerável. E ao que esse cenário pode ser atribuído? Há algum fenômeno diferenciado influenciado a formação de chuvas do mês de fevereiro no Ceará?
Segundo a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Morgana Almeida, um conjunto de fatores ocorreram e seguem em curso, gerando “um padrão favorável à ocorrências de chuvas no Nordeste do Brasil”.
O primeiro ponto, segundo ela, é que nos últimos dias, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), um dos principais sistemas meteorológicos indutores de chuva em parte das regiões Norte e Nordeste, “está mais ativa e atuando sobre o norte da região Nordeste”. Esse já é um elemento que favorece o cenário “mais chuvoso”.
Além disso, ela menciona que a formação de áreas de instabilidades, sobretudo, no interior do Estado, “foram fortemente influenciadas pela convergência de ventos organizada por um sistema de baixa pressão”. Esse sistema, completa: “evoluiu de um ciclone para uma depressão tropical e depois para uma tempestade tropical”. Ele foi batizado de ciclone Akará.
Segundo a meteorologista, ainda que ocorrendo no oceano, “muito distante da costa brasileira”, argumenta, “contribuiu para o cenário descrito”. Essa tempestade tropical Akará criou um canal de umidade e isso provocou grande instabilidade no Norte e Nordeste.
Desse modo, diz ela: “a configuração do ciclone no oceano, mais distante da costa, foi um fator diferenciado nesse cenário de convergência". Principalmente para a organização das instabilidade no interior”.
El Niño enfraquecido?
Alinhado a esses fenômenos simultâneos, ela indica outros aspectos de larga escala que também têm incidido para o cenário de chuvas no Ceará, são eles:
- A atuação da Oscilação de Madden-Julian (MJO)
- O enfraquecimento das anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) na região do Nino 3.4 (área de maior influência sobre o Nordeste) e;
- As anomalias de TSM no oceano Atlântico tropical sul
Ou seja, dentre outros fatores, houve também um certo enfraquecimento do El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do Oceano Pacífico que influencia na ocorrência de chuvas no Nordeste brasileiro, aumentando o risco de seca na faixa norte das regiões Norte e Nordeste e de grandes volumes de chuva no Sul do País.
No início de fevereiro, o boletim do Inmet sobre monitoramento, previsões e os possíveis impactos do El Niño no Brasil em 2024, documento produzido em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastre (Cenad), indicou que apesar do El Niño, naquela altura, ainda estar classificado como forte, a intensidade do fenômeno deveria mudar de moderada para fraca nos próximos meses.
Segundo a previsão divulgada pelo Inmet nesta sexta-feira (23), a partir de domingo (25) e no decorrer da próxima semana, um conjunto de sistemas meteorológicos já mencionados como a própria ZCIT, alinhado a configuração dos ventos em baixos (fluxo convergente de umidade do oceano para o continente) e em altos (fluxo divergente e predominantemente de quadrante sul) níveis da atmosfera, deverá influenciar nas condições de tempo no Nordeste.
Esse padrão atmosférico pode gerar volumes de chuva acima de 100 milímetros desde o litoral norte da Bahia até o Ceará.
Prognóstico das chuvas
O prognóstico climático para o trimestre fevereiro, março e abril de 2024, divulgado pela Funceme em janeiro indicou que, em 2024, o Ceará tem:
- 45% de chances de chuvas abaixo da média;
- 40% de probabilidade para a categoria em torno da normalidade e;
- 15% para acima da média.