Conheça o bispo mais antigo da Igreja Católica no Brasil, que é cearense e completa 100 anos hoje

Dom Edmilson da Cruz é reconhecido nacionalmente por trajetória de defesa dos direitos humanos; em 2010, ele recusou prêmio no Senado em protesto contra aumento salarial de parlamentares

Alcançar 100 anos de vida é uma conquista que merece ser festejada. Assim será para o cearense Dom Manuel Edmilson da Cruz, atualmente o bispo mais idoso da Igreja Católica no Brasil. Nesta quinta-feira (3), seu centésimo aniversário contará com uma celebração aberta ao público e presidida por Dom Gregório Paixão, arcebispo de Fortaleza.

Dom Edmilson é bispo emérito da Diocese de Limoeiro do Norte e hoje reside na Arquidiocese de Fortaleza. Segundo a entidade, ele se dedica “à oração, leitura e acolhimento, sempre com alegria” e “lucidez impressionante”.

O decano nasceu em 1924, em Acaraú, no Litoral Norte do Ceará. Iniciando sua trajetória no seminário aos 12 anos, foi ordenado padre em 1948, em Sobral, e bispo em 1966, por decisão do então Papa Paulo VI. Em seu “currículo”, ele foi:

  • Bispo Auxiliar de São Luís do Maranhão (MA), de 1966 a 1974
  • Vigário episcopal da forania de Brejo (MA), de 1966 a 1974
  • Bispo auxiliar de Fortaleza de 1974 a 1994
  • Bispo de Limoeiro do Norte de 1994 a 1998

Há 30 anos, em 1994, ele foi sequestrado junto com Dom Aloísio Lorscheider, à época cardeal arcebispo de Fortaleza, durante uma visita ao Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), em Aquiraz. O caso foi um divisor de águas na história do sistema prisional do Ceará

Por critério de idade, Dom Edmilson tornou-se bispo emérito em 6 de maio de 1998. O Código de Direito Canônico (CDC) define como “emérito” o bispo que perde “o ofício por limite de idade ou por renúncia aceite”. A Igreja Católica estabelece a idade de 75 anos para a apresentação do pedido de renúncia ao Papa. 

Mesmo afastados das funções de governo nas dioceses, os eméritos continuam participando de atividades pastorais e colaborando com outras missões religiosas.

Neste ano, Dom Edmilson foi um dos seis agraciados com a Medalha da Abolição, comenda concedida pelo Governo do Ceará em reconhecimento a personalidades que desenvolvem um trabalho relevante para o Estado e o Brasil. 

Contribuições à Igreja

Em sua trajetória, Dom Edmilson também exerceu as funções de diretor espiritual do Seminário de Filosofia; orientador educacional de um colégio de religiosas; conselheiro espiritual do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da regional Ceará e diretor espiritual da equipe de Nossa Senhora.

Segundo a Arquidiocese, “conhecido por sua vida simples e profética, Dom Edmilson desafiou poderosos, defendeu presos políticos e foi um incansável defensor dos marginalizados”.

Como bispo de Limoeiro do Norte, ele protegeu trabalhadores rurais, especialmente envolvidos na luta pela reforma agrária. Ele denunciava a exploração e as condições desumanas de trabalho no campo, apoiando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras organizações que buscavam justiça social.

Recusa a prêmio no Senado

Um dos exemplos mais marcantes de sua atuação ocorreu em dezembro de 2010, quando ele recusou a Comenda Dom Hélder Câmara, concedida anualmente pelo Senado Federal a personalidades que tenham oferecido contribuição relevante à defesa dos direitos humanos no Brasil.

O ato demonstrou seu desagrado frente ao aumento do salário dos parlamentares e membros do Executivo à época - de R$16,5 mil para R$26,7 mil - e foi visto como um protesto simbólico contra a corrupção, os privilégios políticos e a injustiça social no país.

“O aumento a ser ajustado deveria guardar sempre a mesma proporção que o aumento do salário mínimo e da aposentadoria. Isso não acontece. O que acontece é um atentado contra os direitos humanos do nosso povo”, declarou em plenário, aos 86 anos.

Segundo ele, a Comenda não representava a pessoa do cearense que foi Dom Helder Câmara. “Só me resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado. Uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, ao contribuinte para o bem de todos com o suor de seu rosto e a dignidade de seu trabalho”, declarou.

Durante o sacerdócio, Dom Edmilson foi próximo de comunidades mais vulneráveis, incentivando a formação de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que promovem a organização popular e a luta por melhores condições de vida, enxergando a fé como um instrumento para transformar a sociedade.

Além disso, ao longo da vida, ele denunciou publicamente diversas violações de direitos humanos, como a violência policial, a criminalização dos movimentos sociais e a discriminação contra os mais pobres e excluídos.

Celebração do centenário de Dom Edmilson

Quando: 3 de outubro, às 18h
Onde: Santuário Arquidiocesano de Adoração (Rua Clarindo de Queiroz, 1247 - Centro)