Casos de síndrome gripal crescem no CE e UPAs atendem cerca de 2 mil pessoas na 1ª semana de abril

Aproximadamente um em cada três atendimentos (35%) ocorreu na UPA Canindezinho, que registrou 671 consultas médicas

Durante a 14ª semana epidemiológica (SE) de 2024 — período de 31 de março a 6 de abril —, cinco Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Fortaleza registraram 1,9 mil atendimentos médicos por síndromes gripais. Esse foi maior número de consultas realizadas pelas UPAs Canindezinho, Praia do Futuro, José Walter, Messejana e Conjunto Ceará desde o início do ano.

Nesse período, aproximadamente um em cada três atendimentos (35%) ocorreu na UPA Canindezinho, que registrou 671 consultas médicas, frente a 408 (21%) realizadas na UPA Praia do Futuro, que ficou em segundo lugar. Os dados foram coletados no painel Atendimentos por Síndrome Gripal — UPA, disponível na plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), na terça-feira (9).

Os números observados na semana epidemiológica 14 representam um aumento de 39% em relação à semana anterior (24 a 30 de março), quando houve 1.372 atendimentos. Neste ano, as unidades começaram a registrar mais de mil consultas semanais a partir da SE 9 (25 de fevereiro a 2 de março). Nas oito SE anteriores, essas UPAs tiveram uma média de 580 atendimentos semanais.

O painel Atendimentos por Síndrome Gripal — UPA, do IntegraSUS, reúne dados de 11 UPAs, mas nem todas estão com as informações atualizadas. No caso da UPA Autran Nunes, por exemplo, não há atualização desde 26 de outubro de 2023. Os dados mais recentes da UPA Bom Jardim, por outro lado, são de 28 de janeiro de 2024.

Dessa forma, considerando os três primeiros meses do ano e as dez UPAs com informações atualizadas, os atendimentos médicos por síndrome gripal tiveram aumentos seguidos. Em janeiro foram 2.910 consultas e em fevereiro, 3.461. No mês seguinte, o número chegou a 5.718 atendimentos.

Os sete primeiros dias de abril já registram 1.894 atendimentos — 33% do total realizado em todo o mês de março. Considerando o período de 1 a 7 daquele mês, foram 1.187 consultas por síndrome gripal.

CIRCULAÇÃO DOS VÍRUS RESPIRATÓRIOS NO CEARÁ

Até a semana epidemiológica 13 (dias 24 a 30 de março) o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) identificou 2.536 amostras positivas de vírus respiratórios em 2024. O Sars-Cov-2, causador da Covid-19, foi detectado em mais da metade das amostras (1.344 ou 53%).

Em seguida está o vírus Influenza A, em 31% das amostras (786). O Rinovírus/Enterovírus humano estava em 252 (9,9%), enquanto outros vírus de importância epidemiológica foram detectados em 154 (6,1%).

Essas informações são do informe operacional “Cenário epidemiológico dos vírus respiratórios”, da Sesa, com atualização no dia 2 de abril. O documento aponta que é percebida uma maior incidência do Sars-Cov-2 nas primeiras semanas do ano, refletindo circulação residual dos picos da Covid-19 registrados em meados de novembro e dezembro do ano passado.

A partir do período de 18 a 24 de fevereiro (SE 8), houve uma inversão e o vírus influenza A passou a ser predominante em comparação com os demais. “Cenário que está se consolidando nas últimas semanas epidemiológicas”, aponta o documento.

Em todo o Estado, foram confirmados dois óbitos por influenza em residentes de Fortaleza e quatro estão em investigação.

SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE NO CEARÁ

A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) tem como uma das principais características a baixa saturação — redução de oxigênio. Por precisar respirar mais vezes por minuto, o paciente apresenta desconforto respiratório. Entre os sintomas estão dor persistente no peito; saturação de oxigênio abaixo de 95% e coloração azulada nos lábios ou no rosto.

Em crianças, também pode ocorrer obstrução nasal, além de manifestações de síndrome gripal, como febre repentina, calafrios, dor de garganta e de cabeça, tosse, coriza e ausência de cheiro/sabor ou dificuldade em percebê-los.

Conforme o documento da Sesa, 2.268 casos de SRAG foram confirmados no Ceará em 2024, até 30 de março. Crianças e idosos com mais de 70 anos são os grupos etários em que foram registrados os maiores números de casos. Em crianças menores de um ano, a Secretaria aponta ser necessário ter atenção especial, uma vez que elas apresentam maior risco de gravidade da doença.

Em 36,4% dos casos de SRAG (826) o paciente apresentava fatores de risco ou comorbidade. A mais presente foi a doença cardiovascular crônica (26%), seguida por diabetes mellitus (22,7%), asma (15,6%) e doenças neurológicas crônicas (14,1%).

No período analisado, os casos de SRAG estavam concentrados na Capital, Fortaleza, e em municípios da Região Metropolitana, como Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Maracanaú. Em seguida estão as regiões Norte, Litoral Leste/Jaguaribe e Sul do Estado, com concentração dos casos de internação por quadros respiratórios.

SINTOMAS E PREVENÇÕES

Keny Colares, consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), explica que os principais das síndromes gripais são os sintomas respiratórios, como coriza, dor de garganta e tosse. É o que se costuma chamar de resfriado.

Quando há outros sintomas gerais, como moleza, indisposição, falta de apetite, dor de cabeça e dor no corpo, chama-se síndrome gripal. “Tende a ser uma doença mais forte, com uma chance um pouco maior de complicar”, afirma. Perda de olfato ou paladar também pode estar presente.

Colares aponta que a melhor forma de prevenir contra elas é a vacinação e que é fundamental estar com o calendário vacinal em dia. “Temos vacina para influenza, temos vacina para Covid-19 e existe a possibilidade de brevemente termos a vacina para o vírus sincicial respiratório, que são os três mais importantes e com mais chance de complicar”, acrescenta.

Ao identificar sintomas das síndromes gripais, ele indica fazer isolamento ou se afastar o máximo possível das demais pessoas, especialmente daquelas mais vulneráveis — crianças menores, gestantes, idosos, pessoas com doenças crônicas e pessoas com doenças do sistema imunológico. “Proteger essas pessoas é fundamental”, afirma. Para isso, é recomendado utilizar máscara.

Quanto mais vulnerável for a pessoa ou quanto mais graves forem os sintomas apresentados, mais cedo deve-se procurar um serviço de saúde, aponta Keny Colares. Isso porque há casos em que o tratamento com medicação antiviral é indicado, mas geralmente ele é iniciado nos primeiros dias de sintoma. “Quando a pessoa busca o atendimento mais tarde, às vezes ela já perdeu o benefício desse tratamento”, alerta.