Um inseto conhecido como besouro metálico (Euchroma gigantea), identificado em Fortaleza há cerca de 3 anos, se propaga pela cidade tendo derrubado, pelo menos, 10 árvores nos últimos meses. Por causa disso, o plantio de novas mudas da munguba (Pachira aquatica Aubl.) – planta mais vulnerável – foi suspenso pela Prefeitura.
O besouro metálico tem uma população crescente por causa do plantio de uma árvore nativa da Amazônia brasileira, a mungubeira. Como também não há uma substância para conter o invasor, e nem um predador natural no Ceará, a população do inseto aumenta com facilidade e já afeta até áreas protegidas como o Parque Adahil Barreto, como detalharam os especialistas ouvidos pela reportagem.
Quando chega às árvores, o besouro metálico deposita ovos nos troncos e as larvas degradam a madeira. Ao destruir a base das plantas, estruturas de até 10 metros de altura podem cair por completo e causar acidentes. Contudo, a espécie invasora não ameaça a saúde direta do ser humano.
Já as árvores mais vulneráveis, além da munguba, são a sumaúma e o baobá – as 3 espécies também não são nativas do Estado, mas estão disseminadas em Fortaleza. Os ambientalistas analisam o risco para espécies naturais do Ceará, como a paineira e o xixá.
As larvas podem atingir de 12 a 14 centímetros de comprimento e corroem a madeira próxima das raízes, como detalha o professor de agronomia na Universidade Federal do Ceará (UFC) Lamartine Oliveira.
“O inseto adulto tende a se alojar na copa e desce até a base da planta, próximo às raízes, deposita seus ovos. Ao eclodirem, as larvas migram para dentro da madeira e começam a se desenvolver abrindo diversas galerias", detalha.
As árvores afetadas apresentam sinais como uma desfolha mais intensa, a copa fica rala e com folhas pequenas e amareladas. Na base do tronco também começa a aparecer gomose, que é uma substância amarronzada ou avermelhada.
Outra característica é que há o desprendimento de casca e os pedaços soltos esfarelam com facilidade. Ainda não existe um levantamento oficial de quantas árvores foram derrubadas ou são afetadas pelo besouro metálico.
No momento, a Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (UrbFor) suspendeu o plantio de novas mudas de munguba após detectar a presença do besouro metálico em vistorias feitas por equipes técnicas.
“Até que se possa determinar uma forma eficaz de controle populacional dos insetos e preservação da saúde das árvores”, detalha a UrbFor sobre a medida em resposta ao Diário do Nordeste.
Como o besouro metálico chegou em Fortaleza?
Esse problema ambiental na capital cearense acontece devido à disseminação de espécies de plantas exóticas, como explica Leonardo Leitão, membro do movimento Pró-Árvore, que integra um grupo de pesquisa sobre o inseto.
“Temos que ver a raiz do problema: cultivar árvores exóticas em larga escala. A munguba é uma planta nativa da Amazônia brasileira, que não faz parte do nosso meio natural”, explica. Mas, afinal, como o inseto veio parar na capital cearense?
A hipótese é de que tenha vindo junto com as mudas da planta, que se tornaram comuns em Fortaleza pela facilidade no cultivo. Não é preciso muito cuidado para que a árvore se desenvolva bem. Por isso, foi plantada pela própria Prefeitura e pela população.
“É a mesma situação que vimos com o neem indiano por ser resistente, mas essas comodidades são traiçoeiras por ignorarem os aspectos ecológicos”, completa Leonardo.
No caso do besouro metálico, os primeiros registros foram feitos há 3 anos pela prefeitura especial de gestão ambiental da UFC durante o inventário da arborização do Campus do Porangabussu. “Inicialmente, observávamos esse inseto degradando apenas na mungubeira, mas passamos a observar em outras espécies”, lembra Lamartine Oliveira.
Como controlar o besouro metálico
A medida mais adequada para controlar a população do besouro metálico, de início, é evitar novos plantios de árvores exóticas, como mungubeira, sumaúma e baobá.
"Não existe nenhum método de controle, mas algumas pesquisas no Brasil tentam determinar alguma substância ou inseticida que possa ser pulverizado. O que é fundamental é tentar reduzir a população desse inseto”, contextualiza Lamartine.
Além disso, é preciso monitorar as árvores para diminuir o risco de colapso. Em nota, a UrbFor informou que há uma atividade diária de vistorias preventivas tanto de forma espontânea como sob demanda.
Quando detectada necessidade de serviços na árvore, seja para correção, manutenção, limpeza, tratamento de parasitas ou para desobstrução de semáforos, placas de trânsito e iluminação pública, os engenheiros agrônomos produzem um laudo técnico
Lamartine explica que em conjunto com o monitoramento é possível fazer o plantio de espécies nativas para que, quando atingirem uma altura adequada, as árvores exóticas sejam removidas.
"Mas a população de Fortaleza não pode sair derrubando árvores atacadas por essa praga sem autorização prévia, mesmo que seja numa propriedade privada”, orienta o professor.
Essa é uma recomendação frisada por Leonardo Leitão. “É muito importante que a população não tome nenhuma atitude do ponto de vista de cortar a árvore, deve-se comunicar a Prefeitura para tomar a decisão, se podar ou suprimir”. Os pesquisadores pedem que a população de Fortaleza registre e comunique o aparecimento do besouro metálico @percursoecológico.
A Secretaria do Meio Ambiente do Ceará, responsável por alguns espaços protegidos com o Parque Adahil Barreto, estabeleceu uma parceria com cientistas para acompanhar a situação das árvores.
"A UFC tem um termo de cooperação técnica com a Sema relacionado à valorização das espécies nativas e controle de espécies invasoras. Nesse processo, entra a proteção de árvores nas áreas de conservação", explica Lamartine.
"Eu tenho dado assessoria sobre essa problemática e estamos tentando articular uma capacitação para os gestores da Sema sobre avaliação de risco de árvores para identificar quais pragas podem trazer riscos para a permanência”, detalha sobre o trabalho realizado.
Situação de Belo Horizonte
Uma infestação de besouro metálico afetou Belo Horizonte, em Minas Gerais, e a Região Metropolitana, há cerca de 5 anos. Só em 2017 foram realizadas mais de 3 mil vistorias em árvores das espécies que são atacadas e a supressão de mais de 500 árvores.
Por lá, a munguba também foi amplamente utilizada para o plantio urbano devido às facilidades com a manutenção. Com a chegada do invasor, no entanto, a gestão precisou treinar os agentes de arborização.
“A situação ainda está em andamento, mas fizeram um corte radical de mais de mil árvores, porque antes eles plantavam uma do lado da outra e o inseto destrói todas as plantas”, detalha.
Serviço
O serviço de poda pode ser solicitado à UrbFor por meio do telefone 156 ou pela abertura de processo nas Centrais de Acolhimento nas 12 Regionais.
Em caso de queda de árvores em espaços públicos, a população pode solicitar o recolhimento por meio do número de WhatsApp (85) 98682-2269. O contato é exclusivo para o recebimento de demandas de árvores caídas.