Alto da Balança, Parreão, Damas: entenda nomes curiosos de 36 bairros de Fortaleza

Parte das localidades da Capital cearense recebeu influência de eventos históricos, como a Segunda Guerra Mundial.

Como um lugar recebe um nome? Em Fortaleza, os 121 bairros passaram por processos distintos de batismo. Há aqueles que homenageiam personalidades históricas, os que herdam termos indígenas, e outros com denominações religiosas, como Fátima, De Lourdes, São Bento e São Gerardo.

Contudo, também há aqueles que não cabem nessas categorias. Há locais em homenagem a características de seus terrenos, a fatos históricos com ou sem relação com a Capital cearense e , sobretudo, frutos de propaganda em uma cidade que estava crescendo ainda no início do século XX.

Para detalhar esses casos, a reportagem consultou livros da Coleção Pajeú, lançada pela Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor); arquivos do próprio Diário do Nordeste; artigos acadêmicos produzidos no Ceará, e a memória de alguns dos habitantes.

Confira a lista, em ordem alfabética:

Aerolândia

Criado oficialmente em 1946, o bairro foi bastante influenciado pelo aparato aeronáutico instalado no início do século XX, em Fortaleza. Antes parte do Alto da Balança, a região cresceu na década de 1930 com a vinda de trabalhadores para a construção do Campo de Aviação do Alto da Balança, primeiro aeroporto da Capital, e, anos depois, da Base Aérea de Fortaleza, como conta o escritor Gylmar Chaves. Até hoje, ruas do local têm nomes de aviadores e heróis de guerra.

Alto da Balança

Fato curioso: a Secretaria da Fazenda Municipal mantinha uma balança gigante na entrada da rodovia que hoje é a BR-116 para a pesagem de mercadorias que chegavam à cidade. O bairro foi reconhecido em 1961.

Barra do Ceará

Na geografia, uma barra é um banco de areia que se forma nos locais de contato das águas de rios com o mar. Em Fortaleza, o bairro homenageia o rio que corta a região e é considerado o berço histórico do Ceará, por ter sido o local onde o português Pero Coelho de Sousa iniciou a colonização do território, em 1603.

Benfica

Benfica, além de um bairro de Fortaleza, também é uma freguesia (bairro) de Lisboa, em Portugal, como conta a escritora Arlene Holanda. No fim do século XIX, este foi o nome escolhido pelo comerciante português João Antônio do Amaral para sua chácara em Fortaleza, como provável homenagem à sua terra natal. Outra versão resgatada pela autora é que o bairro seria uma área escolhida pela elite fortalezense para "bem ficar".

Bom Futuro

Na década de 1930, este era o nome de um sítio localizado na região do Montese, de propriedade de Sindulfo Serafim Ferreira Chaves e Dulcinéia Gondim Chaves. Em 1939, eles doaram um terreno à Arquidiocese de Fortaleza para a construção da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, existente até hoje.

Bom Jardim

Conforme o escritor José Mapurunga, a origem do Bom Jardim remonta ao loteamento de uma área rural no início da década de 1960. Os terrenos foram adquiridos pela imobiliária de João Gentil, que começou a vendê-los com nomes comerciais como Granja Bom Jardim, Parque Santa Cecília e Parque Santa Rosa. Outra versão apurada pelo autor é que o nome deriva de um grande jardim na sede da fazenda da família Carioca, que habitava a região.

Bonsucesso

Outro loteamento adquirido e vendido pela família Gentil, em meados da década de 1950, tinha mais de 1.200 lotes

Cajazeiras

Como o próprio nome sugere, moradores contam que, no início do século XIX, a região fazia parte de um sítio repleto da árvore que dá cajá. Registros com o nome Cajazeiras existem desde a década de 1940.

Cidade 2000

Foi fundada na década de 1970 como um conjunto habitacional planejado, que antes fazia parte do Papicu, como residência para pessoas que trabalhavam no Centro e na Aldeota. À época da concepção, o ano 2000 era mencionado sinônimo de modernidade e avanço, daí o batismo.

Cidade dos Funcionários

O bairro surgiu na década de 1950 como iniciativa do Governo do Estado, que adquiriu terrenos na região de Messejana e os loteou. No início da operação, a compra só poderia ser efetuada por funcionários públicos estaduais. 

Conjunto Esperança

Conforme a dissertação de Limária Araújo Mouta, o local abrigava a fazenda Esperança, de propriedade do advogado João Bastos Neto. Após o falecimento dele, a esposa, Julieta Bastos, vendeu o terreno para o Governo do Estado, que tinha planos de construir um conjunto habitacional, em 1980. Assim surgiu o Conjunto Esperança. 

Conjunto Palmeiras

O bairro começou a ser povoado em 1973, após uma série de despejos realizados na região litorânea da cidade, que estava sendo urbanizada, e do remanejamento de famílias de áreas de risco, principalmente do Lagamar. A região reservada pela Prefeitura não tinha infraestrutura urbana, mas áreas alagadas e plantas. Entre elas, se sobressaíam as palmeiras, que inclusive foram utilizadas para fazer telhados das residências, como conta Katiana Oliveira, da Associação de Moradores.

Cristo Redentor

Segundo a lei municipal 4.500/1975, homenageia a Paróquia Cristo Redentor, fundada em 1969, mas o termo também dava nome a um salão, a um centro comunitário, a um ginásio e a grupos de jovens. A área também tinha um morro de duna no qual se firmou um acordo com o prefeito Vicente Fialho para instalar uma estátua do Cristo Redentor, que nunca foi executada.

Damas

Entre os anos 1930 e 1950, a área abrigava chácaras de ricas famílias da Capital cearense, que tentavam se desvencilhar do agitado Centro em crescimento. Ou seja, era o local onde descansavam as “damas” da aristocracia da época. 

Floresta

Como o próprio nome sugere, o local antes de ser mais habitado e urbanizado tinha vasta arborização.

Granja Lisboa

Não apenas criadouro de aves, o termo “granja” também significa uma pequena propriedade rural. A Granja Lisboa surgiu do loteamento de áreas do Grande Bom Jardim, em meados dos anos 1980. 

Granja Portugal

Em 1962, a imobiliária da família Gentil comprou a fazenda Bom Jardim, então localizada no distrito de Parangaba, do comerciante José Augusto Torres Portugal. Dois anos mais tarde, ela seria transformada no loteamento Granja Portugal, com quase 2,9 mil lotes. A informação é da dissertação de Francisco Giovani Pimentel Moreira.

Jardim América

Referência aos Estados Unidos da América, o bairro surgiu de um sentimento pró-Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. O “marco zero” do local é a praça que recebeu o nome do presidente estadunidense Franklin Roosevelt, em 1945. Além disso, à época, o Governo do Estado também conseguiu ajuda financeira dos americanos para terraplanar a área, muito alagada (até então, o bairro era conhecido como Laguna). 

Jardim das Oliveiras

Embora sua ocupação tenha se iniciado nos anos 1910, ainda era chamado de bairro Santa Luzia do Cocó, em devoção à santa católica. Porém, na década de 1950, os sítios da região começaram a ser loteados. Um deles foi chamado de Jardim das Oliveiras, e o nome permaneceu. Para os cristãos, o termo remete ao local em Jerusalém onde Jesus e seus discípulos rezaram na noite anterior à crucificação. 

Jardim Guanabara

Foi criado pela lei Nº 3.772/1970, mas ela não descreve os motivos. Também há bairros com o mesmo nome no Rio de Janeiro, onde fica a histórica baía de Guanabara (descoberta pelos navegantes portugueses em 1501), e em Goiânia.

Jóquei Clube

O Jockey Club Cearense, primeiro hipódromo do Nordeste, foi construído em 1947, tendo sua primeira corrida dois anos depois. As corridas de cavalo costumavam reunir milhares de fortalezenses, e seu funcionamento ajudou no povoamento da região. O local foi vendido em 2008, e em seu terreno foram construídos o Hospital da Mulher, um shopping e outros empreendimentos. Hoje, o Jockey Club funciona em Aquiraz.

Lagoa Redonda

Conforme o documentário “Pássaros que cantam, árvores que acalantam: Lagoa Redonda, ontem e hoje”, o centro do bairro tinha uma lagoa arredondada, por isso foi chamada de "poço". Era utilizada para pesca, abastecimento de animais e hortas, lavagem de roupas e produção de tijolos. Hoje, está coberta por vegetação e cercada por propriedades privadas.

Monte Castelo

Herança da Segunda Guerra Mundial, homenageia uma batalha na qual combatentes brasileiros e aliados americanos saíram vitoriosos contra tropas alemãs, na cidade de Monte Castello, na Itália. Os combates duraram do fim de 1944 ao início de 1945. O batismo do bairro ocorreu pelo então prefeito, Raimundo Alencar Araripe, junho de 1945,

Montese

O escritor Gylson Chaves explica que o bairro surgiu em 1946, também como homenagem à Força Expedicionária Brasileira (FEB) pela participação na Segunda Guerra e, em particular, pela batalha de Montese, na Itália, em abril de 1945. A ofensiva brasileira foi vitoriosa, apesar de numerosas baixas, e contribuiu para a rendição da Alemanha.

Panamericano

A região onde está o bairro Panamericano também corresponde ao loteamento de uma área que pertencia à família Gentil, após o fim da Segunda Guerra. Como o local ficava perto da base militar americana no Pici, recebeu esse nome. 

Parque Dois Irmãos

Mais um caso de nome comercial de loteamento, na década de 1970, como contam os próprios moradores. 

Parquelândia

O escritor Carlos Vazconcelos explica que o bairro também surge num processo de loteamento na década de 1950. Acredita-se que o nome Parquelândia, a “terra do parque” - já que “land”, em inglês, significa “terra” - tenha sido uma proposta comercial dos responsáveis pelo empreendimento. No fim das contas, pegou.

Parreão

Homenagem à família Parreão, dona de uma vacaria que fornecia e distribuía leite para vários lugares da cidade em lombo de burros. A região era pantanosa e abundante em capim para alimentar o gado.

Pedras

Embora sua criação date de agosto de 1945, já como parte de Fortaleza, só foi incluído oficialmente à Capital em 2017, após negociação com Itaitinga. Segundo moradores antigos, a nomenclatura tem relação com antigas pedreiras que funcionavam próximas à região.

Pici

A origem é controversa. A mais comum seria a abreviatura de “Post Command”, um posto de comando americano montado na área do bairro durante a Segunda Guerra. "P" e "C", em inglês, são pronunciadas como "pi" e "ci". Porém, pela gramática da língua, o correto seria “Command Post” (CP). Para o memorialista Nirez, a versão correta é que o nome vem do centenário Sítio do Pici, antiga propriedade do pai da escritora Rachel de Queiroz.

Praia do Futuro I e Praia do Futuro II

Para ele, também há duas versões. Uma fala de nome comercial: a Praia do Futuro surge como loteamento de propriedade do empresário Antônio Diogo, no início da década de 1960. Porém, o termo já havia sido usado pelo fotojornalista Luciano Carneiro no jornal Correio do Ceará, em março de 1949, se referindo à “praia por trás do farol de Mucuripe”. Piloto de avião, ele se encantou com a área e dedicou crônica ao lugar.

Salinas

Já na década de 1960, o sítio Antônio Diogo, próximo à foz do rio Cocó, abrigava a Salina Diogo, onde havia a exploração do sal. A área só recebe povoamento mais intenso quando a fábrica é desativada.

Serrinha

A ocupação remonta aos anos 1920, no entorno da Lagoa da Rosinha, em homenagem à sua antiga proprietária, Rosa de Oliveira Monteiro. No entorno da Lagoa, havia um serrote (elevação de terra), que deu origem ao nome. Com a construção do Aeroporto, a lagoa e o serrote sofreram várias alterações.

Vila União

Foi fundado pela Prefeitura de Fortaleza em 1940. As terras de Maria de Conceição Jacinto, então chamadas de Barro Preto, foram vendidas em 1938 para o advogado Manoel Sátiro, que as loteou. O nome dado por ele é uma homenagem à cidade de União - hoje, Jaguaruana -, onde nasceu.

Vila Velha

A dissertação de Janaína de Holanda Rodrigues recupera memórias de moradores que relatam que o coronel Antônio Joaquim de Carvalho (1866-1961), dono de várias propriedades na área, criou uma vila para seus funcionários. O proprietário faleceu, mas a Vila ficou. Com o tempo, sendo antiga, ganhou o apelido que a nomeia. Hoje, de tão grande, possui quatro etapas.