Arrecadação maior beneficia cidades cearenses
Empresas exercem impacto econômico e social nos municípios, favorecendo o desenvolvimento
Embora grande parte das indústrias em atividade no Ceará esteja concentrada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) é no Interior do Estado que o setor industrial se torna mais relevante, principalmente, para o desenvolvimento econômico e social dos municípios que recebem essas empresas. Além da geração de emprego e renda, que favorece diretamente os setores do comércio e serviços, a indústria estimula melhorias em infraestrutura básica e da qualificação de mão de obra dessas regiões.
Se até a década de 1970, indústrias intensivas de mão de obra como as dos setores têxtil e calçadista buscavam se instalar sobretudo na RMF, na década de 1980 grandes empresas nacionais começaram a instalar as primeiras unidades no Interior, transformando a realidade de municípios que antes dependiam sobretudo de pequenos comércios e da agropecuária. "Essa indústria leve, de calçados e confecção, é uma indústria que pode avançar com mais facilidade para cidades menores. E o treinamento de mão de obra é relativamente fácil e rápido", diz o economista e consultor Alcântara Macêdo.
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Macêdo destaca que além do forte papel econômico que essas empresas desempenham nesses municípios, há também um forte papel social, na medida em que a presença da indústria no Interior desacelera o processo de êxodo rural tanto para Fortaleza como para outras grandes cidades e estados.
Outro aspecto relevante relacionado a essas indústrias é o impacto positivo na arrecadação dos municípios, que aumentam sua receita e a capacidade de investimentos. "Os efeitos são percebidos mais claramente na arrecadação de impostos e na massa salarial, mas também, promovem variações positivas na renda, no consumo, e na prestação de serviços, e que assim promovem uma dinamização da economia local. Sem dúvida, a indústria pode ser considerada o motor do crescimento, em razão dos efeitos diretos, bem como dos 'transbordamentos' em demais setores e atividades, e em consequência, catalisam o processo de desenvolvimento econômico", diz o professor e economista Allisson Martins.
Martins também ressalta a melhoria na oferta de mão de obra especializada, o que acaba favorecendo a expansão, modernização e implantação de outras empresas para o Estado. No entanto, para que a atividade industrial possa se desenvolver no Estado, é indispensável que haja uma boa infraestrutura logística que ajude a reduzir os custos com o escoamento da produção.
Setor calçadista
Maior exportador de pares de calçados do Brasil, o Ceará se tornou nas últimas décadas uma referência nacional no setor. E com o crescimento do Porto do Pecém, a expectativa é de que essa indústria cresça ainda mais nos próximos anos, principalmente no Interior. "Hoje temos um porto que favorece essa ligação com o mercado internacional, que beneficia de maneira muito forte o setor de calçados", diz Macêdo. "A Grendene tem mais de 20 mil funcionários, a Dakota mais de 10 mil, e está havendo um grande fluxo dessas indústrias para o interior do Ceará", ele diz.
A Grendene, do Rio Grande do Sul, por exemplo, instalou sua primeira unidade fora daquele estado em 1990, em Fortaleza. Em 1993, a empresa instalou uma unidade em Sobral, que hoje abriga a matriz (sede social) e a maior planta da Grendene, com seis fábricas de calçados, uma fábrica de PVC e um Centro de distribuição. Em 1997, a companhia chegou ao Crato, com uma fábrica de calçados e de componentes em EVA.
"A gente tem que buscar essa indústria leve, que emprega muita gente", diz Macêdo. "A indústria do calçado já está bem adaptada ao Estado e é o setor da nossa economia que mais exporta, depois do aço, ultrapassando as exportações dos nossos produtos tradicionais como a castanha de caju e a lagosta", ele diz. No entanto, com a produção de aço no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, o economista diz que o setor metalmecânico deverá se beneficiar nos próximos anos. "Temos empresas geradoras de matéria prima, como a CSP (Companhia Siderúrgica do Pecém) que é voltada para o mercado externo, e a Silat (Siderúrgica Latino Americana) que produz para o mercado interno".
Apesar do potencial para desenvolver outras atividades industriais, Allisson Martins acredita que um dos principais desafios para a indústria do Ceará é a diversificação de atividades, principalmente em empreendimentos de alta tecnologia, de alto valor agregado, como as fábricas de smartphones e televisores, bens de capital e de elevado adensamento econômico, que promovem maior dinamização de um sistema econômico.