A cada 100 pares de calçados exportados, 33 saem de Sobral

Líder calçadista do País, a Grendene se instalou no Estado e tem contribuído para aquecer a economia

Escrito por Marcelino Júnior - Correspondente ,
Legenda: A Grendene em Sobral tem 14.100 funcionários, sendo 35% de outras cidades
Foto: FOTO: MARCELINO JÚNIOR

Sobral. Criada em 1971, no Rio Grande do Sul, a Grendene, maior empresa do ramo calçadista do País, tem uma longa história com a geração de emprego e renda no setor. No Ceará, a empresa se estabeleceu em Fortaleza, Crato e Sobral, na região Norte do Estado, onde ocupa uma área construída de 200 mil metros quadrados, com 14.100 funcionários, sendo 35% deles moradores de outras cidades da região. Por enquanto, não existe a possibilidade de novas contratações devido ao atual cenário de instabilidade política e social que ultrapassa as fronteiras brasileiras e interfere diretamente no que se refere a crescimento, explica Nelson Rossi, diretor industrial da empresa.

"Enfrentamos um cenário macroeconômico que requer atenção em todos os aspectos, que dificulta qualquer projeção. Ainda teremos um ano com muita dificuldade, por conta das incertezas políticas e econômicas que o País atravessa, além de um ano de eleições, aliado a uma perda significativa do poder de compra do público consumidor. Isso faz com que naturalmente nossos produtos sejam menos demandados", explica Rossi.

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O diretor garante que, apesar dos desafios, como a perda de competitividade do público consumidor, a empresa não tem reduzido seu quadro funcional, priorizando a permanência de seus colaboradores. "Não existe possibilidade de novas vagas, mas estamos fazendo um trabalho grande, no sentido de nos mantermos no nível em que chegamos, de desenvolvimento e empregabilidade", diz Rossi, que avalia o potencial da empresa como concorrente de peso na indústria de moda mundial, agregando qualidade, competitividade e inovação, em um mercado em constate busca por novidade, principalmente, no que se refere à balança interna e às exportações. "De cada 100 pares que o Brasil exporta, 33 deles saem de Sobral. O que reafirma nosso perfil de maior exportador brasileiro há 16 anos. Temos como clientes diretos 105 países, que consomem, em grande parte, o que o Brasil também consome", reforça o diretor industrial.

Incentivos

Entre os anos de 1987 e 1988, a empresa, buscando diversificar seus produtos e ampliar sua clientela, resolveu empreender, principalmente no que diz respeito à ampliação de seus recursos humanos, algo conseguido com a instalação da primeira unidade no Ceará.

Incentivos fiscais, estaduais e federais fecharam o pacote de atrativos para a troca da região Sul, pelo Nordeste do País, e consequentemente o município de Sobral, na região do semiárido cearense.

"Como temos uma pauta de exportação importante, a localização do Porto, antes no Mucuripe, e agora no Pecém, também atende à logística de saída dos nossos produtos além-mar, e da chegada de matéria-prima. Mas posso afirmar que, como o Grupo tem uma mão de obra intensiva, com algo em torno de 20.500 colaboradores, digo que aqui encontramos pessoas em busca da oportunidade de fazer sempre o melhor, o que nos garantiu uma evolução conjunta", pontua.

Desafios

Ainda segundo o diretor industrial, trabalhar com preços competitivos e manter os empregos, além da margem de lucro, atravessando o atual momento de adversidade econômica que o País vivencia, está entre os desafios da empresa para os anos futuros. Ainda mais quando se leva em consideração as novas relações de consumo que têm mudado o perfil de quem compra, como o acesso rápido a marcas e produtos pela internet, oferecendo uma gama maior de opções, por exemplo.

"Para prosperar, nos concentramos no atual cenário econômico e político; no incentivo ao crescimento das pessoas, assim como em manter uma atitude competitiva, no que diz respeito ao design dos produtos e a operacionalidade da empresa", pondera Rossi, lembrando que desenvolver seus recursos humanos faz parte do pacote de medidas seguidas à risca pela empresa.

Uma das pessoas que diz ter evoluído, ao longo de dez anos de trabalho, é Maria Cláudia da Silva. Ela, moradora do município de Massapê, a cerca de 19 quilômetros de Sobral, se prepara para ocupar a função de líder em seu setor. Cláudia se inspira em outros profissionais que também têm ascendido na empresa.

"Assim como eu me espelho na gerente do meu setor, outras jovens também me admiram pelo meu crescimento, que é resultado dos treinamentos e capacitação que a empresa oferece. E estar trabalhando, por tanto tempo, de carteira assinada, me dá mais segurança e poder de compra, ainda mais em tempos tão difíceis de desemprego. Tem gente aqui que sai, mas acaba querendo voltar, pois as dificuldades são grandes", diz a mulher, que ajuda a sustentar a família, sonhando em ocupar cargos mais elevados.

Academia de Líderes

Para preparar pessoas de atitude, como Maria Cláudia da Silva, que buscam ocupar cada vez mais os postos de trabalho dentro da empresa, a Grendene afunila esse perfil, por meio da "Universidade Corporativa", voltada à ampliação do treinamento do quadro de pessoal.

"No ano passado, o Grupo proporcionou cerca de 1,9 milhão de horas de treinamento e desenvolvimento de pessoas, com mais de 90 mil participantes, levando em consideração, claro, aqueles que participaram mais de uma vez em determinada atividade", explica André Luiz Pinto, gerente de Recursos Humanos, que reforça o aproveitamento interno, quando se leva em consideração a busca por mão de obra qualificada na região.

"Quando temos vagas em aberto, cerca de 90% são aproveitadas por nosso pessoal interno mesmo. Claro que, por conta das características dos nossos produtos, temos épocas de mais ou menos procura externa, entre os meses de agosto e setembro, mas isso depende muito da demanda de mercado", finaliza.

Apoio local

Hoje, Lucilene Alves Reinaldo ocupa o cargo de assessora administrativa da diretoria, posição conquistada com muito esforço e estudo, nesses 20 anos de casa. Ser proativa, além de outras características, segundo ela, tem pesado em seu crescimento, ainda mais em uma região marcada pela dificuldade de acesso, no passado, à educação.

"Há 20 anos, a empresa me deu, além da melhor qualidade financeira e de vida, a oportunidade de mudar meu futuro, por meio de uma boa formação educacional para mim e, consequentemente, para meus irmãos", lembra a funcionária, que almeja cargos mais elevados.

Mobilização

E segundo Herbert Rocha, relações públicas da Grendene, "essa valorização não é apenas interna, pois a chegada da empresa mobilizou toda a região Norte, inclusive no que se refere à construção da própria fábrica, hoje com oito unidades em um só espaço. Isso trouxe uma mudança enorme no setor de arquitetura, confiando em profissionais de Sobral para a execução desse empreendimento", avalia. "A interiorização da indústria desafoga a Capital e harmoniza o crescimento do setor no Estado, pois não é apenas uma questão de levar emprego e renda para esses locais, mas de equilíbrio econômico", finaliza.

A empresa, que tem capacidade anual de produção de 250 milhões de pares de calçados, já comercializou, nesse primeiro semestre do ano, 73 milhões de unidades, em sua maioria, para atender ao mercado interno (54 milhões de pares).

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