Carga se estraga, qualidade cai e os preços sobem

Diversos alimentos poderiam chegar à Ceasa e a pontos de venda de Fortaleza até 30% mais baratos

Escrito por Redação ,
Legenda: O tomate está entre os produtos mais perecíveis e que sofrem impacto quando são levados pelos caminhões
Foto: Foto: Alex costa

Tomate, cenoura, pimentão, laranja, pera, uva, maçã e batata-inglesa estão na extensa lista de alimentos que poderiam chegar em solo cearense até 30% mais baratos e com uma qualidade melhor. "Os custos operacionais das transportadoras estão sendo elevados constantemente em função das atuais condições da nossa malha viária", alerta o analista de mercado da Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), Odálio Girão.

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Segundo ele, o impacto é maior sobre a logística de frutas, legumes e verduras. Até mesmo parte dos hortifrúti transportados em caminhões frigoríficos ou em embalagens reforçadas chega danificada. "Precisamos lembrar que são alimentos vivos e mais perecíveis do que outros, como é o caso dos grãos. Geralmente, de 10% a 15% dessas cargas não são aproveitadas aqui na Ceasa, o que leva os atacadistas a negociarem os preços com o produtor. Mesmo assim, não conseguem se livrar dos prejuízos", diz.

Odálio informa que o atraso nas cargas que vêm de outros estados ao Ceará é recorrente, contribuindo ainda mais com os danos causados aos produtos. "A gente precisa entender que, além de estragar as mercadorias, uma rodovia com buracos também aumenta o tempo de viagem dos caminhões. Isso não é bom para nossa cadeia de abastecimento", acrescenta.

Tomate

Entre os itens mais perecíveis, Odálio cita o tomate, bastante sensível ao manuseio e a altas temperaturas. De acordo com ele, atualmente, os atacadistas compram o quilo por cerca R$ 2,50 na fonte, isso sem contar com o valor pago pelo frete. Na Ceasa, o item é vendido a R$ 4,80, um incremento de 92%.

"A situação é pior nas gôndolas dos supermercados de Fortaleza, onde o quilo do tomate vale em média R$ 7. Isso representa um acréscimo de 180% em relação ao preço praticado pelos produtores. O produto poderia ser 30% (R$ 4,90) mais barato se o transporte fosse feito em estradas boas", acrescenta o analista de mercado.

Inflação

Em Fortaleza, o tomate tem sido a mercadoria que mais sofre aumento a cada mês, segundo o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O valor já registra inflação de 118% desde janeiro, de acordo com Odálio Girão. Somente entre 1º e 15 de maio de 2015, o item ficou 47% mais caro. Como consequência, as vendas da mercadoria na Ceasa caíram 32% desde o início do ano.

"Hoje, o tomate vem principalmente de São Paulo e do Espírito Santo. A elevação no preço se dá em consequência da falta de chuvas, mas, independentemente das condições climáticas, os problemas logísticos contribuem muito com a inflação", complementa Odálio.

Competitividade

Conforme analisa o economista Alex Araújo, a grande dependência brasileira do modal rodoviário, por si só, já contribui para diminuir a competitividade do País e aumentar os custos com logística. Ele também defende um maior equilíbrio em nossa matriz de transportes para amenizar a inflação sobre mercadorias que hoje são transportadas exclusivamente por estradas.

"Isso porque os modais de maior escala, como as ferrovias, têm um custo de frete bem mais baixo em comparação às rodovias. No caso da nossa malha rodoviária, não há como escapar dos gastos adicionais", afirma.

Alex reforça que o consumidor brasileiro poderia ter à disposição produtos mais baratos e, em alguns casos, de melhor qualidade. "É um problema que também reflete na disponibilidade de mercadorias no mercado, como nos supermercados". (RS)

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