'A gente paga para carregar o Brasil'

Os caminhoneiros se submetem a várias situações para seguir viagem e ter o mínimo de conforto nas estradas

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
Legenda: Problemas deixam as viagens mais longas e geram atraso nas entregas
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

A rotina desgastante dos caminhoneiros brasileiros poderia ser bem mais leve caso as rodovias do País fossem modernizadas. Além de potencializar os riscos ligados à saúde e à segurança desses profissionais, a malha viária inadequada também causa prejuízos financeiros à categoria. "A gente paga para carregar o Brasil nas costas", reclama o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes.

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Estradas com irregularidades no pavimento, buracos e trechos destruídos representam um atraso econômico para o País e prejudicam toda a sociedade. No caso dos caminhoneiros, segundo Fonseca, os problemas deixam as viagens mais longas e perigosas, geram atraso na entrega das cargas e quebram os veículos constantemente.

"Se um caminhoneiro contrata um frete por R$ 4 mil e perde um pneu por conta das condições precárias de uma rodovia, o prejuízo dele é de, no mínimo, 40% do valor. Isso porque um pneu de caminhão custa atualmente R$ 1.600. Há casos em que, entre o dinheiro desembolsado para comprar ou consertar a peça e pagar a mão de obra, o lucro vai embora e se transforma em prejuízo", exemplifica.

A qualidade da pista é um dos principais fatores que influenciam no preço do frete, que também é composto em função das despesas com combustível, alimentação, manutenção do caminhão e pedágios, por exemplo.

De acordo com Feitosa, dependendo da condição da estrada, o valor do serviço pode ficar até quatro vezes mais caro. "Ou seja, se o preço do frete custar R$ 2,50 por quilômetro rodado numa estrada boa, numa rodovia precária pode chegar a R$ 10", exemplifica.

Dificuldades

O presidente da Abcam lembra que, no Brasil, os caminhoneiros se submetem a várias situações para seguir viagem e ter o mínimo de conforto durante as pausas para descanso. São obrigados, por exemplo, a pagar mais caro pelos serviços mecânicos, em caso de problema no veículo, e a abastecer nos postos de combustíveis onde param.

"Existem postos onde os trabalhadores não podem passar a noite se não abastecer o caminhão. E ainda pagam para utilizar os banheiros. Para tomar um banho de cinco minutos, precisam gastar de R$ 5 a R$ 8. Às vezes, não dá tempo nem de tirar o sabão do corpo. Os preços dos serviços de mão de obra nas rodovias também são desproporcionais. Precisamos pagar para não deixar de cumprir nossos compromissos", acrescenta.

Lei dos Caminhoneiros

Fonseca apoia a Lei 13.103/2015, a chamada Lei dos Caminhoneiros, que alterou normas sobre a atividade dos motoristas profissionais e entrou em vigor no último mês de abril.

Entre as principais mudanças estão a exigência de exames toxicológicos na admissão e demissão dos funcionários, uma jornada de trabalho de até 12 horas, a criação de mais pontos de descanso pelo governo federal e a isenção de pedágio nas rodovias federais para cada eixo suspenso de veículos que circularem vazios.

O líder classista torce para que as novas regras sejam colocadas em prática. No que se refere aos pontos de apoio, o poder público tem a obrigação de publicar uma relação com locais de descanso e adotar medidas, em até cinco anos, para ampliar a disponibilidade desses espaços.

Número de caminhoneiros

"Os caminhoneiros não podem continuar sendo prejudicados pela escassez de lugares para descansar. A luta para que o nosso setor tivesse uma regulamentação começou há muitos anos. Conseguimos avançar, mas de nada adianta ter lei se ela não puder ser efetivamente cumprida", destaca.

Conforme dados citados pelo presidente do Abcam, existem no Brasil mais de 2 milhões de caminhoneiros atualmente, sendo que, de todo esse pessoal, cerca de 900 mil são autônomos cadastrados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). (RS)

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