Gastos com logística corroem 11% da receita das empresas

Atualmente, 85,6% das companhias brasileiras possuem um alto nível de dependência das rodovias para operar

Escrito por Redação ,
Legenda: O transporte de longa distância é o fator mais representativo na estrutura do custo logístico das empresas, seguido pela armazenagem de produtos e distribuição urbana/curtas distâncias
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Os gastos com logística no País consomem 11,19% da receita das empresas, sendo a infraestrutura inadequada o principal gargalo. A qualidade das rodovias, por exemplo, é considerada muito ruim ou ruim por 69,1% dos empresários. Os dados constam na pesquisa Custos Logísticos no Brasil 2014, realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC). O estudo foi feito com 111 companhias, que faturam o equivale a 17% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.

>Estado precisaria de R$ 25,4 bi para modernizar setor de logística
>Ceará tem a pior malha viária de todo o Nordeste
>Carga se estraga, qualidade cai e os preços sobem
>'A gente paga para carregar o Brasil'
>Iniciativa privada é mais eficiente nas operações
>Programa de concessão faz 20 anos

Ao passo que sofrem com a infraestrutura precária das estradas, 85,6% das empresas possuem um alto nível de dependência das rodovias para operar, sendo praticamente impossível fugir do problema. A ampliação e qualificação da malha rodoviária brasileira é apontada por 36,7% dos entrevistados como prioridade nos investimentos do setor público.

O transporte é o item que mais impacta no preço final dos produtos, conforme relevam 48,6% dos entrevistados. Em seguida, aparecem a energia para produção (43,2%) e a armazenagem das mercadorias (30,6%).

Com 43,8%, o transporte de longa distância é o fator mais representativo na estrutura do custo logístico das empresas, seguido pela armazenagem (19%) e distribuição urbana/curtas distâncias (17,7%).

"As empresas têm duas alternativas. Ou transferem os custos para os preços finais dos produtos ou, quando não conseguem por uma questão de concorrência, lucram menos. Consequentemente, perdem competitividade no mercado, deixando de gerar mais emprego e renda. A infraestrutura logística do País deixou de ser apenas um problema econômico e passou a ser uma questão social", afirma o coordenador do Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende.

Modal predominante

Segundo o estudo, o modal rodoviário é expressivamente predominante nas empresas, representando 81,7% dos transportes de insumos e produtos. Depois, vêm as ferrovias (14,6%) e as hidrovias (5,6%).

Por isso, para 40% dos entrevistados, a melhoria das condições das rodovias é um fator importante para reduzir os gastos das companhias com logística.

Mão de obra

A pesquisa também mostra relevantes gastos não previstos pelas empresas na composição do custo logístico. Para 62,4% das companhias, a formação de mão de obra tem um impacto muito alto ou alto no aumento extra.

Para amenizar os impactos, 70% dos empresários estão terceirizando a frota e os serviços logísticos. Outras alternativas são a redução do número de entregas rápidas e a alteração de operações no frete.

As empresas destacam que uma maior eficiência logística permitirá, entre diversas vantagens, a redução do custo de transporte na distribuição (83,6%), mais velocidade (70,6%) e consistência (58,2%) na entrega dos produtos.

A infraestrutura das regiões Norte e Nordeste foram classificadas com um baixo nível de satisfação por 90% e 80%, respectivamente, dos entrevistados. No Centro-Oeste, o índice representa 60,2%, sendo 15,7% no Sul e 13,9% no Sudeste.

Iniciativa privada

De acordo com a pesquisa, a participação da iniciativa privada é vista como crucial para o desenvolvimento dos projetos de infraestrutura no Brasil, com destaque para a concessão rodoviária (77,3% consideram a participação privada bastante ou extremamente necessária), concessão ferroviária (83,7%), administração portuária (82,7%) e gestão de aeroportos (85,2%).

Eficiência e participação

No que se refere à eficiência e real participação do setor privado, 68,2% afirmam que nas rodovias concessionadas a atuação é muito significativa ou significativa, concessão ferroviária (49,1%), administração portuária (49,6%) e gestão de aeroportos (53,6%).

Para os entrevistados, o nível de serviço é a maior vantagem do setor privado em relação ao setor público, somando 41,1% das respostas. Em seguida, aparecem os investimentos permanentes (16,8%) e o padrão de governança (15,9%).

Corrupção

O empresariado acredita que a corrupção é o maior impasse para o cumprimento das obras de infraestrutura no Brasil, respondendo por 75,5%. Depois, figuram a burocracia (60%) e a influência política (12,7%).

As respostas também indicam que a infraestrutura inadequada (45,5%), os impostos (31,8%) e a corrupção (20%) são os principais gargalos para a competitividade no País. (RS)

OPINIÃO

Modernização para a retomada do crescimento

A logística de transportes do País vem sofrendo. No entanto, existem regiões onde o impacto é bem maior, como o Norte e o Nordeste. Um caminhão que sai do Sudeste em direção ao Norte demora muito a chegar ao destino em função de uma malha muito precária. A situação fica pior quando chove, atrasando ainda mais as cargas. Nossos produtos e serviços já são muito caros devido a uma altíssima carga tributária. Acredito que a modernização das nossas rodovias é um dos fatores para o Brasil retomar o crescimento econômico. Por outro lado, o País precisa equilibrar sua matriz de transportes. No que se refere ao Ceará, o setor atacadista distribuidor enfrenta mais dificuldades nas rodovias federais. A Abad defende uma aproximação maior do governo e da iniciativa privada para melhorar a infraestrutura brasileira e, consequentemente, beneficiar toda a sociedade.

José do Egito
Presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad)

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.