Unifor abre as comemorações dos 50 anos com exposição que destaca as mulheres nas artes plásticas

Mostra comemorativa questiona e reflete sobre questões de gênero a partir de um recorte poderoso de artistas e obras

A Universidade de Fortaleza inicia as comemorações dos 50 anos homenageando os principais nomes da arte brasileira no feminino. Nesta quinta-feira (16) foi aberta a exposição “Elas, de Musas a Autoras”, que traz trabalhos de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Lygia Clark, Adriana Varejão, dentre outras. A mostra fica em cartaz no Espaço Cultural Unifor até 10 de dezembro, com entrada gratuita. 

A presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz Rocha, destacou o compromisso e missão da instituição em fomentar as artes no País. Para o ano de aniversário, além das atividades acadêmicas celebrativas que se extenderão até dezembro, há espaço de destaque para a cultura.

Teremos um ano todo de comemorações, com vasta programação. No campo das artes realizaremos o Prêmio de Literatura, o Festival Eleazar de Carvalho, a Unifor Plástica e uma homenagem especial ao meu irmão, Airton Queiroz, que foi chanceler da Universidade durante 35 anos, a quem nós devemos essa preciosidade que temos em relação às artes". 
Lenise Queiroz
Presidente da Fundação Edson Queiroz

Na noite de abertura das comemorações, foi realizado no auditório da Biblioteca Central a  apresentação da nova marca da Unifor, além de homenagens para colabores importantes nesses meio século de história.

Os ex-Reitores Carlos Alberto Batista Mendes de Sousa e Fátima Maria Fernandes Veras,o professor José Antônio Carlos Otaviano David Morano, o egresso José Maria Martins e à ex-colaboradora Nair Silva de Castro receberam menção honronsa pelos trabalhos na instituição de ensino.  

Também foram lançados o livro “Ver e Viver Unifor” e a exposição "Legado — Mostra Fotográfica 50 Anos Unifor", no hall da Biblioteca Central. 

O papel da mulher nas artes 

A exposição "Elas" ocupa três pavimentos do Espaço Cultural Unifor e tem curadoria de Denise Mattar – premiado nome no setor, responsável por outras três mostras de sucesso da Universidade. A mostra se propõe gerar reflexões sobre diversos aspectos da questão de gênero a partir das obras. 

"Me chamou muita atenção que a coleção de arte da Fundação Edson Queiroz tem uma participação feminina muito grande. Mas as mulheres nas artes plásticas só começam a aparecer com o modernismo, mas tem também um segundo grupo das musas, as mulheres vistas pelos homens", explica Mattar.  

A primeira ala da exposição é destinada às Musas, com obras de artistas homens que elegeram a mulher como tema. São 63 obras de 30 criadores, cada uma datando do início do período colonial e se estendendo até a contemporaneidade.

Grande parte dos autores apresentados teve a mulher como tema ao longo da carreira. Di Cavalcanti (1897-1976) e Portinari (1903-1962) são os exemplos mais notáveis, introduzindo em nossa arte rostos e corpos negros e mestiços.

Aqui cabe um adendo: a expansão do abstracionismo, na década de 1950, levou um progressivo abandono da figuração, incluindo a representação da mulher. Nas décadas de 1970 e 1980, há alguma retomada da figura, e artistas como Siron Franco, João Câmara e, posteriormente, Vik Muniz se debruçam sobre a figura da mulher, porém não mais vistas como musas, contudo por meio de um olhar crítico e atento à sociedade.

Mais adiante, a seção intitulada Autoras revoluciona: ela conta com peças somente de artistas mulheres devidamente reconhecidas no meio. No total, são 83 obras. O recorte temporal tem início na década de 1920 – momento no qual a introdução do modernismo traz uma maior integração das mulheres ao circuito de arte. 

Embora menos contundente do que nos anos 1920, a produção de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral se estende até os anos 1950, quando o abstracionismo revela a figura ímpar de Judith Lauand. A artista, recentemente falecida, foi a única mulher a integrar o Grupo Concretista de São Paulo. Já no Rio de Janeiro, são personagens importantes Lygia Clark e Lygia Pape.

Por sinal, a abstração lírica é muito bem representada pelas mulheres. Além da pioneira Maria Helena Vieira da Silva – portuguesa que viveu no Brasil nos anos 1940 – a exposição contempla Tomie Ohtake, Maria Leontina, Yolanda Mohalyi, Ione Saldanha, bem como artistas com trajetórias muito particulares, a exemplo de Mira Schendel e Heloísa Juaçaba.

Anna Maria Maiolino, Wanda Pimentel e Iole de Freitas também ganham espaço. Elas participaram ativamente da revolução de costumes dos anos 1970, abrindo caminho para a Geração 80, com expoentes como Adriana Varejão e Beatriz Milhazes. O núcleo alcança a contemporaneidade com nomes como Mariana Palma, Gabriela Machado e Waléria Américo.

A exposição tem patrocínio do Banco Santander e apoio da Nacional Gás, através da Lei de Incentivo à Cultura, Lei Rouanet.  “Elas, de Musas a Autoras”, conecta beleza e urgência entre telas, peles e cores. Para festejar e reivindicar o feminino em nós. Uma exposição necessária.

Conversas para aprofundar

Além de todo esse rico percurso visual, haverá na mostra o espaço Diálogo, voltado para debates, intervenções e ativações, sobretudo de interação entre cursos da Unifor e a exposição. Bate-papos da comunidade acadêmica e público externo com convidados também são a tônica desse setor. 

Cada jornada celebra o meio século de atuação da Universidade de Fortaleza, completados em 21 de março deste ano. Nessa travessia, a instituição formou mais de 100 mil profissionais em todas as áreas do conhecimento, tendo como um dos pilares o desenvolvimento de projetos que abracem a arte e a cultura, a exemplo da nova exposição.

Curadora da obra de Tarsila do Amaral, a sobrinha-neta e homônima da artista, conhecida por Tarsilinha, esteve na abertura da exposição fará ainda uma participação na palestra de Denise Mattar. O bate-papo acontece nesta sexta-feira (17), às 9h30, no Auditório da Biblioteca da Unifor. 

Tarsilinha do Amaral compartilhará curiosidades sobre os oito anos de convivência com a tia-avó, além do trabalho que realiza há decadas para difundir a história da pintora. 

Legado — Mostra Fotográfica

Na noite desta quinta-feira também foi inaugurada a “Mostra fotográfica Legado — Unifor 50 anos”. Com 44 imagens, sendo 22 da origem da instituição, das décadas de 1970 e 1980, e 22 imagens atuais, a exposição retrata o sonho do industrial Edson Queiroz que se consolidou em uma instituição de excelência no ensino superior.

A visitação está aberta de segunda a sexta-feira, das 7h às 21h55, e aos sábados, das 8h às 16h25, no hall da Biblioteca da Unifor.

Serviço

Exposição Elas – De Musas a Autoras, Unifor 50 anos
Exibição: 17 de março a 10 de dezembro de 2023, no Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz).
Visitação gratuita: terças a sextas, 9h às 19h; sábados e domingos, 12h às 18h.

Palestra curadora Denise Mattar
Participação especial: Tarsila do Amaral, sobrinha-neta da artista​
Data: 17 de março de 2023
Horário: 9h30
Local: Auditório da Biblioteca da Unifor