Sorveteria de SP faz sucesso ao vender apenas sabores do Nordeste: ‘Pessoas provam e se emocionam'

Nascida em 2022, a Cangote Sorvetes tem como foco investir na brasilidade a partir da intensidade do Nordeste; de cajá a mangaba, são mais de 35 sabores cuja força reside na ternura

Chorar enquanto toma sorvete: não é raro na Rua Aureliano Coutinho, 278. O endereço, localizado em São Paulo, abriga a Cangote, uma micro-sorveteria que de pequena tem apenas a estrutura.

Com foco em sabores apenas do Nordeste, o empreendimento tem feito sucesso ao proporcionar experiências de contato e reconexão com gostos genuinamente nossos. Para quem é daqui e vai para lá, a emoção é garantida.

O Verso conheceu de perto o negócio e, de fato, atesta não apenas a qualidade do produto como a vibração diferente dele. Muito desse espírito vem de Anderson Boeira, 43. Criador e proprietário da casa, ele saiu de Feira de Santana (BA) e foi para São Paulo em 2012 a fim de trabalhar com Tecnologia da Informação.

Em 2017, contudo, pensou em mudar de ofício – muito em face do prazer de cozinhar para amigos. Dito e feito. Abriu um restaurante e, após o ponto não vingar devido à pandemia de Covid-19, rumou para o segmento de sorveteria. “Era uma falta que sempre senti em São Paulo, de não achar um sorvete típico nordestino, à base de frutas comuns da nossa terra e que fazem falta quando a gente vem pra cá”.

Ele confessa que algumas sorveterias já possuíam abordagem parecida na cidade, embora em escala bem menor – o máximo que vendiam era o sabor de cajá, por exemplo. A Cangote, não à toa, é considerada pioneira no quesito brasilidade no ato de tomar sorvete, e o faz de forma radical: só entra para o cardápio algo que seja 100% nacional.

Mangaba, acerola, siriguela, coco verde e o já citado cajá são alguns dos carros-chefe. Por sua vez, à base de leite, você encontra sorvete de bolo de rolo, de queijo coalho e de doce de leite. “Pistache e chocolate belga são alguns dos sabores que não passam nem na porta”, gargalha o proprietário. “A gente só abraça o que é nosso mesmo”.

Saber o que está vendendo

O diferencial é esse conhecimento do que se está ofertando. Nesse ponto da conversa, Anderson recorre à memória. Lembra de, quando criança, ir à praia com os primos e avistar de longe o homem do picolé. “A garotada saía barbarizando de dentro do mar para ver quem chegava primeiro até ele”, conta.

“Até hoje sinto aquele calor e aquele gosto de sal junto ao sabor cítrico e agridoce do cajá. Isso sem falar no sorvete de amendoim”. Este último igualmente integra a paisagem interna do baiano. Faz lembrá-lo do sorvete de Capelinha, bastante comum na terra natal dele, vendido na praia e feito com pasta de amendoim.

“Busquei essas referências para incluir esse mesmo sabor no cardápio do Cangote. É interessante vender algo com uma história tão específica para as pessoas de São Paulo”. O público responde com entusiasmo. Para quem nunca havia experimentado nada parecido, fica a curiosidade: “Como isso não tem na feira?”.

Já para quem saiu do Nordeste há muito tempo e hoje reside em São Paulo, lágrimas são inevitáveis. Muitos comentam que, ao provar o sorvete de mangaba, se conectam ao quintal da casa da avó. Outros estacionam o carro em frente à sorveteria apenas para comprar uma casquinha de cajá e entregá-la a um parente que há décadas não aprecia o sabor.

Além de movida a carinho, a Cangote não descuida do esmero. São quase 40 sabores feitos de modo artesanal – sem conservantes, corantes, emulsificantes, saborizantes e gordura vegetal. A casquinha também é preparada no próprio estabelecimento e acomoda delícias como caju, tamarindo, graviola, tapioca, nata-goiaba, bananada e chocolate da Bahia.

O sorvete de uma bola custa R$12; o de duas, R$18. A casquinha tem o adicional de R$3 e, se a opção for por levar para casa, há o potinho de viagem de 400ml, a R$34. “Aqui a fruta é a real protagonista. Dificilmente a misturamos com leite, pra não ficar uma coisa pasteurizada. Elas mandam no nosso cardápio, elas que trilham nosso caminho”.

Chegar a mais gente

Existe a possibilidade de abrir mais lojas no futuro. Mas Anderson descarta a transformação do negócio em franquia. “Isso pode comprometer a qualidade do produto. Somos muito críticos com relação a isso, e temos que ser. Afinal, estamos vendendo experiência”.

Como recomendação para quem está chegando agora na loja, ele indica o sabor de amendoim – vide a textura e conexão com a Bahia que carrega – além, claro, de todos aqueles de fruta. Assim, a possibilidade de intercâmbio direto com o Norte e Nordeste do País se agiganta.

Por fim, convida para que ninguém deixe de passar por lá e explica o porquê de ter intitulado a sorveteria de Cangote. “É aquele lugar carinhoso, quentinho, de mais intimidade. Espaço de troca e de conforto. O nome vem daí, por ser pequeno e confortável. E continuará assim”.

 

Serviço
Cangote Sorvetes
Rua Aureliano Coutinho, 278 - Loja 02 - Vila Buarque, São Paulo. Funcionamento diário – de segunda a sexta, de 12h às 18h30; aos fins de semana, de 11h30 às 18h. Mais informações nas redes sociais da sorveteria