Silvero Pereira lança EP com músicas de Belchior e participações de Ivete Sangalo e Braúlio Bessa

Fruto de projeto que começou com shows, "Silvero Interpreta Belchior" está disponível nas plataformas digitais a partir desta quinta (25)

Um rapaz sem dinheiro no banco, parentes importantes e vindo do interior. Esse é um resumo da história cantada por Belchior (1946-2017) em “Apenas Um Rapaz Latino Americano”, mas também funciona como descrição de parte da trajetória do ator e cantor Silvero Pereira.

Nascido em Mombaça, o artista disponibiliza nesta quinta-feira (25) o EP “Silvero Interpreta Belchior”, fruto da série de shows que ele vem realizando desde 2021 com o repertório do cantor e compositor sobralense. Produzida no Ceará, a obra tem participações da cantora baiana Ivete Sangalo e do poeta cearense Bráulio Bessa.

“Belchior como dramaturgia”

“Conheço Belchior desde pequeno. Meu pai me fazia ouvi-lo, Waldick Soriano, Reginaldo Rossi. Na minha infância, não fazia muita noção do que esses homens cantavam, mas uns sete anos atrás revisitei a obra do Belchior e fui me identificando em muita coisa”, compartilha Silvero em entrevista por telefone ao Verso

A partir dessa nova relação com as canções do conterrâneo, ele estruturou o projeto “Silvero Interpreta Belchior”, que começou enquanto um show com repertório do artista sobralense que circulou pelo Brasil nos últimos três anos. 

A escolha pelo verbo “interpreta” no lugar de “canta” não é por acaso. Reconhecido principalmente como ator, Silvero atesta: “Tenho Belchior como dramaturgia”. “Quero trazer esse universo através da palavra usando da minha potência enquanto ator. Uum ator, intérprete e cantor”, avança.

Tanto nos palcos quanto, agora, no EP, a intenção é de contar histórias — a do homenageado, a própria, a de tantos e tantas que se identificam com a poética do repertório escolhido.

“Decidi cantar o Belchior como quem canta a própria história. Esse canto é da interpretação. Quero que as palavras sejam de fato ouvidas e refletidas por quem me escuta, que as pessoas façam uma reflexão sobre tudo que esse homem fala sobre sociedade, amor, luta, arte, política, desilusões, ilusões”
Silvero Pereira
artista

Um EP de “Silvero Interpreta Belchior” não estava previsto, mas o desejo surgiu no processo.

“A gente foi produzindo o show inicialmente com arranjos muito parecidos com os originais, mas foi entendendo que não era só reproduzir o que o Belchior já fez — isso ele já faz muito bem. Com o diretor musical, Caio Castelo, a gente se coloca na posição de ‘onde a gente pode criar?’, (de trazer) nossas referências”, explica Silvero.

Somando batuques de maracatu, sonoridades tradicionais e outras contemporâneas, o show foi se singularizando. “Como a gente faria para as pessoas continuarem ouvindo essas versões, esses novos arranjos que a gente construiu? Fazendo o EP”, aponta.

Equipe cearense e convidados de peso

O novo fruto do projeto foi concretizado com equipe majoritariamente cearense e feminina. A produção executiva foi da Peixe-Mulher, produção musical e arranjos de Caio Castelo e direção vocal de Thiago Nunes.

Na banda, além de Caio (guitarra, violão e backing) e Thiago (backing), estão Joana Lima (piano, teclado, sintetizador e backing), Dândara Marquês (baixo e backing), Vladya Mendes (bateria e backing), Alex Costa (percussão), Fernando Lélis (flauta e saxofone), Yanna Torres (violino) e Natália Bezerra (violoncelo).

Valorizando as raízes nordestinas, o projeto conta com a participação de dois convidados especiais que dividem faixas com o intérprete: a baiana Ivete Sangalo e o também cearense Bráulio Bessa.

O poeta, define Silvero, “é uma das grandes referências que a gente tem, hoje, de nome, hoje que avança para o mundo com a poesia”. A faixa que os dois gravaram juntos foi “Princesa do Meu Lugar”, que conta com um poema escrito por Bráulio especialmente para ela. “Ele compõe junto com o Belchior e com a gente”, metaforiza.

Já Ivete é uma “nordestina icônica”, nas palavras de Silvero. Os dois dividem os vocais em “Divina Comédia Humana”. “Quando eu levo o produto e ela escuta o arranjo, diz: ‘tá lindo isso, amo Belchior, não cantei Belchior ainda, então a gente vai fazer esse registro’. Vira um ponto histórico”, celebra o cearense.

“É um orgulho não só meu, como de toda minha equipe, poder ter uma produção cearense com esse ícone que nos abraçou, que gostou do nosso projeto, acreditou e quis colocar sua voz”, avança.

EP ressalta nordestinidade

Completam o repertório do EP versões de "Comentário a respeito de John", "Na Hora do Almoço" e "Paralelas". “O que mais me guiou (na escolha das canções) foi o fato de que eu queria contar a história do Sertão, o Nordeste, mas também as músicas românticas”, explica Silvero.

“Belchior não era só político, um cara de extremo conhecimento científico, social, político. Também era um cara de amor e a gente traz canções para também mostrar essa outra faceta desse grande compositor”, segue.

As escolhas espelham temas e vivências, também, do próprio Silvero, que se identifica com a posição de Belchior enquanto cearense e nordestino no Sudeste. “Ele chega e fala ‘vim para contar minha história, quem sou. Cheguei aqui sendo um cantor cearense falando sobre o meu lugar’. É esse o movimento que tenho feito, com a felicidade de continuar morando no Ceará”, afirma.

“Quando ele chega no Sudeste, se depara com xenofobia, e eu também. O artista nordestino, na maioria das vezes não é tão bem visto, benquisto. A gente tem que enfrentar muito as barreiras do sotaque, da nossa cultura, da nossa maneira de ser, de agir, de tocar o outro, mas a gente não pode baixar a cabeça”, sustenta.

Novo show, retorno à TV e mais

Após o lançamento do EP, o show “Silvero Interpreta Belchior” tem agenda prevista em cidades do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul no segundo semestre. O ator e cantor adianta que pretende circular mais com a apresentação ao vivo e, até, gravar novos EPs no projeto.

“O principal objetivo do EP é para que as pessoas e o mercado musical saibam que o Silvero está entrando nele como produtor musical, de show. Temos o objetivo de produzir mais músicas e mais shows”, reforça.

No entanto, as iniciativas terão que encontrar espaço entre os compromissos já firmados para os próximos meses do cearense, que incluem outras iniciativas musicais, volta à TV e trabalhos no cinema. 

“Além do Belchior e de ‘O Canto do Bode Rei’, o show que veio depois do (‘The) Masked (Singer)’, a gente está iniciando uma pesquisa e um repertório para um show em homenagem ao Ney Matogrosso para 2025”, adianta Silvero.

“Vou gravar filme no Piauí, estou voltando para a televisão com novos projetos, tem estreias de filmes para acontecer, estou com uma peça de teatro em cartaz.Não sei como vou dar conta de tudo isso”, ri-se.

Silvero Interpreta Belchior