Saiba o que é o ‘quiet luxury’, tendência que viralizou com a série ‘Succession’

Fenômeno do streaming HBO Max, a série retrata as disputas de uma família milionária pelo conglomerado de empresas

Discreto, formal e sóbrio. Se fosse para descrever de forma simplificada, assim seria com o ‘quiet luxury’, uma tendência que viralizou e ganhou força nas redes sociais nos últimos meses com a série ‘Succession’, da HBO Max, em que o núcleo principal consiste numa família milionária de herdeiros de um conglomerado de empresas.  

Em tradução livre do inglês, o conceito quer dizer luxo discreto, ou seja, usar peças de roupa de marcas de luxo, mas sem deixar isso aparente por logotipos, estampas, etc. Apesar de estar atrelado diretamente à moda, a consultora de estilo Elaine Quinderé explica que o ‘quiet luxury’ se trata, na verdade, de um estilo de vida.   

“Nada mais é que pessoas ricas, muito ricas usando marcas igualmente muito caras, mas não fazendo disso uma grande importância”, pontua Elaine. A consultora acrescenta que isso se dá como quase uma oposição ao movimento da logomania.  

"Foi muito usado nos últimos 15 anos, especialmente nos anos 2000 e 2010, quando se pôde ter mais acesso a marcas e o logotipo virou uma forma de status, então o ‘quiet luxury’ se opõe um pouco a essa ideia de mostrar pra sociedade que se tem status”.   

Caimento e tecido 

O caimento e o tecido das peças de roupa são supervalorizados também nesse conceito, conforme explica Elaine. “Não é um tecido de algodão, é O algodão, não é uma calça de linho, é A calça de linho”.  

O quiet luxury inclui, principalmente, peças de alfaiataria conferindo esse tom formal do conceito. Cores neutras, tons de bege, marrom, preto, cinza, branco são as mais utilizadas, além de padronagens discretas e com poucos contrastes como o xadrez risca de giz.  

“É uma aura de inacessibilidade muito grande. Acessórios minimalistas, caimentos tradicionais sem volume. Percebo também que há uma demarcação de códigos de gênero, a mulher não tem espaço pra sensualidade e é um nível de formalidade muito alto”.  
Elaine Quinderé
consultora de estilo

Porém, há um flerte com um estilo mais esportivo, caracterizado pelo uso de colete, jaqueta puffer, boné ou touca sem logo aparente, sem muita informação em uma estética bem clean.   

Fenômeno pop 

Muito embora o conceito tenha se popularizado agora, ele sempre existiu. “É uma estética muito ligada a uma pequena parte da população que tem acesso a marcas muitos caras e que não são populares como Versace, Gucci, Louis Vitton, Prada”.  

Elaine aponta que algumas séries têm um fator de influência para a pulverização dessa tendência, como Succession, porém, no universo da moda, já se fala sobre isso há bastante tempo por causa de figuras como Mark Zuckerberg e Steve Jobs que não se vestem para chamar atenção, mas são roupas caras e luxuosas. “Passam um nível de aproximação, mas não são possíveis pra pessoas comuns”.  

“Nas redes sociais, isso vem se desenrolando desde o ano passado por causa de outros fatores, como a estética clean girl e old money. Porém, o old money tem espaço pra não ser luxuoso, tem uma pegada mais anos 80, vintage, já o quiet luxury é algo restrito, porque tem que fazer parte dessa patota privilegiada. As duas coisas convergem pro mesmo ponto”, destaca.  

O pós-pandemia é outro fator, para a consultora de estilo, já que, quando as medidas de isolamento começaram a afrouxar por causa da vacina, houve uma onda de maximalismo no vestir. Assim, essa estética vem se contrapondo.  

De acordo com Elaine, há ainda uma questão política que envolve o conceito, diante de uma “onda muito conservadora e tradicional”. “Esse pensamento puxa também essa estética mais tradicional, os símbolos visuais. As peças de roupa que remetem ao quiet luxury são as que se dizem básicas, mas não são, porque é uma camiseta que custa R$ 6 mil”.  

Estética restrita   

Diante disso, fica claro que essa é uma estética bastante restrita. Não só aparentar “ter cara de rico” e usar todos os símbolos visuais relacionados ao conceito. “É uma forma de se separar dessas pessoas que passaram a ter acesso a algumas marcas, o ‘quiet luxury’ dá a impressão de ser um clube exclusivo”, afirma Elaine.  

Esse lado político também traz uma ideia de armadura, porque essas peças com refinamento e polidez separam quem tem a possibilidade de consumir e estar nesse estilo e quem não está.  

Por isso, não é possível aderir a esse estilo se você não tem muito dinheiro, ainda que esteticamente se consiga alcançar isso. Elaine diz que isso seria considerado mais como um estilo elegante, sóbrio, neutro, mas não é ‘quiet luxury’ se não se usa marcas de luxo. 

“Não é uma tendência, não é uma coisa só estética, é um estilo de vida que preza por ideias muito conservadoras e vai na contramão do que a gente tem visto nos últimos anos. Não é só sobre passar discreto, despercebido, é sobre distinção social, privilégio branco, eu acho que o ‘quiet luxury’ deveria estar só quieto mesmo”, finaliza Elaine.