Paixão à distância moveu Bruno Rafael em novo single e clipe

O compositor cearense lança "Meu amor não é meu" neste sábado (30), nas plataformas digitais. Músico é o "irmão do meio" de uma família de três irmãos artistas; conheça a história

Dar título a uma canção parece "esgotar" uma ideia criativa, mas este nome pode se expandir para vários sentidos além do que o criador pensou. "Meu amor não é meu", novo single do músico cearense Bruno Rafael, é sobre a expectativa de uma paixão. No entanto, um olhar para a carga ancestral dos irmãos Lima Saraiva - ou seja, dele, de Raisa Christina e João Emannuel, também artistas - revela como o amor pela arte não é uma posse dessa tríade fraterna. Toca na memória de um pai apreciador de livros e músicas; e na genialidade de uma avó que, apesar de pintar e tocar, foi silenciada e nunca pôde se assumir como artista em seu tempo.  

Mais um capítulo da trajetória dos Lima Saraiva está marcado para este sábado (30), com o lançamento do clipe e do áudio de "Meu amor não é meu" nas plataformas digitais. Compositor e guitarrista, Bruno já tinha lançado seu primeiro single, "Superlua", em 2019. E agora traz uma prévia de um futuro EP, intitulado "Um dia de cada vez", com o registro de Igor Caracas (bateria e percussão), Klaus Sena (baixo), João Leão (teclados) e Márcio Resende (sax) na gravação. A produção ficou a cargo do próprio autor, que ainda gravou voz e guitarra. 

"É uma música que fala de paixão à distância, desejo, 'romance de pandemia' (risos). É foda, mas é mais ou menos isso. Dediquei essa música pra Ana, com quem eu venho conversando, se conhecendo, virtualmente", revela Bruno. Ana veio pra Fortaleza em agosto passado e, ciente da canção, até participou das gravações do clipe, dirigido por Danilo Carvalho. Há imagens dela em São Paulo, onde mora, e registros do músico em Fortaleza e Senador Pompeu, no Sertão Central cearense - quando ele e a família estiveram isolados durante os primeiros meses da pandemia.

Gravado por outros artistas como Lorena Nunes, Soledad Brandão e Vitor Colares, Bruno conta que, da criação de uma composição a "fazer a função" de guitarrista com o trabalho de outros autores, tudo lhe gratifica na música. "Não teria como elencar a mais gratificante, mas tem uma que tenho mais me dedicado, que é a coisa de interpretar, cantar minhas próprias músicas. Ano passado, foi com o projeto Tristeza Tropical (ao lado de Vitor Colares e Guilherme Mendonça). Daí venho no processo de experimentar minha voz, esse instrumento vivo", detalha. 

Natural de Quixeramobim (CE), Bruno Rafael (31) morou em Quixadá, ainda na infância e juventude, e hoje vive em Fortaleza com os irmãos. Raisa Christina (33), a mais velha dos três, é artista visual e escritora. E o caçula, João Emannuel (28), fez como o irmão do meio e virou músico - compondo e tocando contrabaixo. Dentre os pais, José Maria e Maria José, a influência artística veio do lado paterno, apreciador de livros e dos discos de nomes como Elvis, Beatles e Raul Seixas.

"Essas músicas do EP novo, por exemplo, eles (Raisa e João) acompanharam quando fui fazendo. Então a gente passou esse momento super junto, na mesma casa, num processo bem íntimo. Do mesmo jeito com eles, eu acompanho as produções do João. Temos parcerias. Claro que cada um tem seu espaço, e às vezes abre pra conversar", conta Bruno. 

Raízes

Raisa Christina é quem resgata a história de como o trio de irmãos tornou-se artístico. Lembra que o pai não toca, mas sempre adorou música e tinha vontade de aprender instrumentos. Também gostava de colher relatos, histórias populares, e a filha lhe acompanhava - atenta às memórias. "Me amarrava nisso, de poder ouvir e olhar a pessoa de perto. E hoje eu trabalho com ilustração, sempre partindo de uma referência do real", observa ela. 

A irmã recorda que os mais novos começaram a tocar muito cedo. Bruno aos 8, 9 anos. E João, "bem novinho", já compunha e criava letras, mesmo sem ainda tocar nada. "A gente, morando junto, gera um ambiente de criação. Tem a ver com esse clima, e de partilha em casa. Adoro estar na companhia deles, acompanhar a produção um do outro. Acho muito especial testemunhar uma composição, acho esse processo da música tão mágico e difícil", elogia Raisa. 

A artista rememora uma das histórias que atravessam a aptidão artística do trio: a avó paterna, Cristina Pessoa, falecida antes de conhecer os netos, bordou, pintou, desenhou, fez crochê e ainda tocava bandolim em Quixadá. Professora e diretora de escola pública, Cristina não teve a produção artística reconhecida em vida ou sequer a chance de se assumir como uma artista independente.

"Meu avô era um agricultor, uma pessoa muito simples, vivendo naquele ambiente machista e não gostava que ela pegasse no bandolim. Então muita coisa que minha vó fez não foi preservada. Então quando tivemos noção disso, eu trouxe muito essa história pra mim, de muita renúncia. Tendo vontade de criar, não conseguia imaginar anulando isso em mim. E isso mexeu muito com o Bruno também, em relação à música", conta Raisa.

Chancela

Mais econômico nas palavras, em relação aos irmãos, João Emannuel fala sobre a chancela dos pais para toda essa geração artística. "Eles sempre apoiaram a gente nas nossas escolhas. Mas existe uma preocupação, por ser um caminho não tão estável financeiramente", pondera o caçula.

Contrabaixista da banda Nossa Praia, ele foi instrumentista e compositor de outros dois projetos: o duo eletrônico "Preto Neon" e a banda "Fera Neném". E situa que, por influência do pai, começou a tocar violão com 6 anos de idade. "Comecei a estudar música junto com o Bruno, na mesma época. Mas eu também sempre gostei de desenhar, pintar, e já cursei Arquitetura durante um tempo, por isso. Ter meus irmãos artistas, na verdade, sempre foi um grande exemplo, ao invés de uma cobrança", endossa João.