Novo filme de Almodóvar, 'O Quarto ao Lado' estreia nos cinemas com reflexão sobre morte e vida

Drama premiado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza chega ao Brasil na próxima quinta-feira (24)

Duas amigas de longa data se reencontram depois de anos distantes a partir de uma conexão específica com a qual precisam lidar: a morte iminente de uma delas. É a partir desse mote que o filme “O Quarto ao Lado” — que tem estreia marcada para o dia 24 de outubro no Brasil — acompanha reflexões sobre sobre finitude, laços afetivos e humanidade.

Novo filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar e primeiro dele em inglês, a produção é protagonizada por Julianne Moore e Tilda Swinton e tem roteiro baseado no livro “O que você está enfrentando”, da norte-americana Sigrid Nunez.

Sobre o que fala o filme 'O Quarto ao Lado'

Aspectos reconhecíveis e marcantes da carreira do cineasta como as cores, as paixões e as relações afetivas intrincadas estão presentes na obra, mas — somando-se a uma tendência das obras mais recente de Almodóvar — é possível sentir uma abordagem mais comedida e reflexiva no longa.

O reencontro entre Martha (Swinton) e Ingrid (Moore) é quase fortuito, uma vez que as duas se afastaram há alguns anos por conta dos diferentes caminhos seguidos nas trajetórias profissionais. 

Jornalistas na juventude, elas seguiram na escrita, mas em vertentes distintas: enquanto Martha tornou-se correspondente de guerra e passou a viajar pelo mundo para reportar conflitos, Ingrid migrou para a literatura, encontrou reconhecimento na autoficção e se mudou para a Europa.

Em Nova Iorque, na ocasião do lançamento do novo livro de Ingrid — no qual a autora elabora sobre a própria dificuldade de aceitar a ideia geral da morte —, ela encontra uma conhecida que a informa sobre o delicado estado de saúde da antiga amiga, internada em um hospital da cidade.

A partir daí, Martha e Ingrid se reconectam em meio a uma situação complexa, na qual a primeira varia entre a aceitação e a negação da própria morte, enquanto a segunda se vê assumindo um complexo papel de acompanhante ativa do processo emocional e físico da amiga.

Há nesse reencontro certo didatismo, apoiado em especial no fato de que as duas passaram anos sem se ver — o que busca “justificar”, em alguma medida, os diálogos mais expositivos e contextualizadores que a primeira porção do longa traz. 

Neles, por exemplo, sabemos da relação difícil e distante de Martha com a filha ou de amantes partilhados entre as duas amigas. Apesar de, nesses momentos, o longa se abrir para outras personagens e situações, ele melhor funciona justamente ao se concentrar no microcosmo ocupado pelo trio Ingrid-Martha-morte.

De certa forma, “O Quarto ao Lado” pode ser compreendido como obra-irmã de “Dor e Glória”, drama de Almodóvar lançado em 2019. A obra de então, protagonizada por Antonio Banderas, traz caráter autobiográfico e é exemplo da abordagem mais reflexiva para a qual o cineasta rumou com a idade — o espanhol completou 75 anos no fim de setembro.

Se em “Dor e Glória” as reflexões do protagonista pareciam, naturalmente, mais íntimas e específicas sobre o próprio diretor, “O Quarto ao Lado” se estabelece, de certa maneira, como um veículo para o cineasta tecer comentários não só sobre finitude, em especial, mas também sobre o “estado das coisas”.

Isso porque a situação de saúde de Martha e a relação dela com a ideia de morrer espelham, em algum nível, um olhar sobre a situação geral do mundo. Discursos sobre aceitar ou não o próprio destino pessoal se somam, por exemplo, a outros sobre mudanças climáticas, neoliberalismo e a ascensão da extrema-direita

Paralelos entre guerras externas e internas, “apocalipses” globais e íntimos, são evidenciados em — mais — diálogos expositivos sobre os temas — é como se o cineasta quisesse ter certeza que está se fazendo entender.

Seja do ponto de vista interior ou daquele mais coletivo, “O Quarto ao Lado” foge de maniqueísmos e dicotomias, apostando em fazer-nos ver que há tanto morte na vida quanto vida na morte. Com o filme, Almodóvar parece tentar — e nos convidar a — acreditar que é possível, então, encontrar modos de navegar entre o niilismo e o otimismo.

O Quarto ao Lado

  • De Pedro Almodóvar. Com Tilda Swinton e Julianne Moore. 107 min.
  • Quando: estreia nos cinemas na quinta-feira, 24
  • Mais informações de sessões e locais: em breve no Ingresso.com