Léa Garcia, de 90 anos, morreu nesta terça-feira (15). A atriz estava em Gramado, onde seria homenageada pelo Festival de Cinema com o troféu Oscarito. A informação foi confirmada pelos familiares da de Léa nas redes sociais. Estrela do cinema, teatro e televisão, Léa sofreu um infarto agudo do miocárdio.
"É com pesar que nós familiares informamos o Falecimento agora na cidade de Gramado no @festivaldecinemadegramado da nossa amada Léa Garcia", escreveram.
A 51ª edição iniciou no último sábado (12) e Léa estava na cidade gaúcha desde então. Nas redes sociais, ela postou uma foto ao lado do troféu Kikito.
O troféu Oscarito será agora dado ao filho da atriz, Marcelo Garcia. A atriz Laura Cardoso também receberia a honraria ao lado de Léa. Contudo, o troféu de Laura será entregue na sexta-feira (18).
Na TV Globo, Léa esteve no elenco de novelas como "Selva de pedra", de Janete Clair, exibida em 1972, e "Escrava Isaura", de 1976. Na obra de Bernardo Guimarães, adaptada por Gilberto Braga, a atriz viveu a primeira vilã e sofreu ameaças nas ruas.
"Escrava Isaura é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa (personagem de Léa) acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou", contou a atriz ao "Memória Globo".
Léa deixa três filhos, três netos, dois bisnetos e uma tataraneta.
Infarto agudo do miocárdio foi causa da morte, diz Festival
Festival de Cinema de Gramado informou a causa da morte da atriz. Segundo informou o Hospital Arcanjo São Miguel ao Festival, a causa da morte foi um infarto agudo do miocárdio. Nas redes sociais, a organização do Festival lamentou a morte da atriz.
"É com imenso pesar que a organização do Festival de Cinema de Gramado informa que a atriz Léa Garcia faleceu na madrugada de hoje (15), em Gramado. A atriz receberia o troféu Oscarito na noite de hoje, ao lado de Laura Cardoso", iniciou a nota.
Programação do Festival alterada
Haverá uma solenidade na abertura da sessão em homenagem à atriz, no Festival. O Festival, inclusive, alterou a programação nesta terça.
"De mesmo modo, a homenagem que seria entregue às duas será reagendada dentro da programação. A exibição dos filmes 'Ela mora logo ali', de Fabiano Barros e Rafael Rogante, 'O barulho da noite', de Eva Pereira, 'Remendo', de Roger Ghil e 'Da porta pra fora', de Thiago Foresti, seguem mantidas", informa o texto enviado pela assessoria à revista Quem.
Dona Léa havia chegado no Festival acompanhada do filho, Marcelo. Durante o tapete vermelho, a atriz afirmou ao portal Acontece Gramado que era “um enorme prazer em estar mais uma vez em Gramado. Esse calor, essa receptividade com a qual a cidade nos recebe. Aqui tem um leve sabor de chocolate no ar. Obrigado a todos que fazem o festival, que participam e que concorrem. Aqui me sinto sempre prestigiada".
Laura Cardoso lamenta morte da atriz
Também homenageada no Festival de Gramado ao lado de Léa Garcia, a atriz Laura Cardoso lamentou a morte no Instagram, nesta terça-feira.
"Ainda sem compreender o que houve. Estávamos juntas todos esses dias em Gramado, sorrindo e se divertindo, como nos velhos tempos.... Fique com Deus minha eterna colega. Fique com Deus..."
A dupla recebeu o troféu Oscarito na 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado, no Rio Grande do Sul. Essa foi a primeira vez uma dupla foi homenageada com a honraria.
Encontro com Abdias
Léa Lucas Garcia de Aguiar estreou a carreira com 19 anos, na peça "Rapsódia Negra", de Abdias do Nascimento, criador do Teatro Experimental do Negro (TEN). Foi Abdias que descobriu a carioca na praia de Botafogo.
"Estava indo buscar minha avó para levá-la ao cinema quando uma pessoa veio ao meu encontro e perguntou: ‘Você não gostaria de fazer teatro?’", disse Léa sobre o encontro à revista ELA, do GLOBO.
"Trocamos telefone. Acabei indo ao teatro com ele e começamos a namorar. Ficamos juntos por quatro anos e tivemos dois filhos. Não vi necessidade de nos casarmos. Minha carreira começou no TEN (Teatro Experimental do Negro) e, depois, segui sozinha. Por meio dos projetos de Abdias, encontrei muitas respostas", disse na época.
Léa e Abdias juntos tiveram dois filhos, Henrique Christovão Garcia do Nascimento e Abdias do Nascimento Filho.
Carreira no Teatro e TV
Em 1956, Léa esteve na peça "Orfeu da Conceição", de Vinícius de Moraes. No ano seguinte, foi indicada ao prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por sua personagem em "Orfeu Negro".
Léa participou de programas como "Grande Teatro", da TV Tupi, e "Vendem-se Terrenos no Céu". A primeira aparição da atriz em novelas foi em 1969, em "Acorrentados", na Record.
Atuou também em "Dona Beija", em de 1986, da Manchete, de Wilson Aguiar Filho, "Tocaia grande", de Duca Rachid baseado na obra de Jorge Amado, de 1995, e "Xica da Silva", de 1996, escrita por Walcyr Carrasco.
Também atuou em 2002, na novela "O Clone", de Glória Perez. Em 2009 esteve na Record, no elenco de "A Lei e o Crime", de Marcílio Moraes.
"Vizinhos", que foi ao ar dia 25 de agosto no Canal Brasil, foi um dos últimos trabalhos da atriz. Ela estava cotada para o elenco de "Renascer", de Bruno Luperi, baseada na obra de Benedito Ruy Barbosa, próxima novela das 21h, da TV Globo.
Carreira no cinema
A atriz possui mais de 30 participações em filmes, entre curtas e longas-metragens. Léa possui prêmios nacionais e internacionais.
A carioca foi eleita melhor atriz pelo júri popular, do Festival de Gramado por "Filhas do vento" (2005), de Joel Zito Araújo, me 2006. Em 2013, ela foi novamente eleita como atriz de curta-metragem por "Acalanto" (2012), Arturo Saboia, baseado num conto de Mia Couto.
A adaptação do livro de Mia Couto a rendeu também o prêmio de melhor atriz no Brazilian Film Festival of Toronto, no Canadá.
Nos streamings, Léa esteve no elenco da série "Assédio", de 2018, escrita por Maria Camargo, da Globoplay. O último filme de Léa Garcia foi "Barba, Cabelo & Bigode" (2022), da Netflix.