Com voz tranquila e simpática, Slash atendeu ao telefonema para uma entrevista exclusiva ao Verso, algumas semanas antes da data marcada para desembarcar em Fortaleza, nesta segunda-feira (3), quando faz apresentação ao lado de "Myles Kennedy & The Conspirators", no Centro de Eventos do Ceará. Expectativas à parte, para uma fã do trabalho feito pelo guitarrista no Guns N' Roses como eu, essa não podia ser oportunidade melhor. E o artista correspondeu: comentou sobre o show e de como avalia a indústria musical atualmente.
A Capital cearense não é a única a receber a apresentação. Ao todo, foram oito cidades escolhidas para o projeto, encabeçado por ele e por Myles Kennedy, atual vocalista da banda Alter Bridge. A parceria, inclusive, firmada entre os dois, ainda em 2010, surgiu para a gravação de uma participação no primeiro disco solo de Slash e foi o fator decisivo para o início das turnês junto ao novo grupo.
Do outro lado da linha, logo no início da conversa, Slash não hesitou ao ressaltar a importância do som produzido em parceria com Kennedy ao longo destes anos. Entre os elogios ao cantor, ele comentou como os dois começaram a trabalhar juntos.
"Basicamente, em 2010, eu fiz uma gravação solo com convidados e o Myles cantou duas músicas nesse disco. Essa foi a vez que o conheci e também a primeira vez que o ouvi cantar. Nessa época eu já pensei que a voz dele era incrível", comentou. A partir daí, seguiriam-se as conversas, os tempos compondo e a afirmativa de que o músico e compositor embarcaria na ideia de começar algo paralelo.
Dessa forma, surgiu o "Apocalyptic Love". Lançado em 2012, o álbum marcou o início ao lado do The Conspirators, também composto pelo guitarrista Frank Sidoris; Todd Kerns, no baixo e vocais de apoio; e o baterista Brent Fitz. Desde então, são quase dez anos entre estradas, palcos e mais dois álbuns, "World on Fire" (2014) e "Living the Dream" (2018), para chegar ao que Slash define como "um ótimo momento".
Muito som
Hoje, com 53 anos, a vida corrida entre uma apresentação e outra, ainda continua sendo o desejo do astro por bastante tempo. E ele faz questão de comentar como isso funciona diante do esquema de lançamento de discos, shows e aparições. Junto ao Conspirators, por exemplo, tudo acontece em meio ao "caos". "Muitas das músicas que lançamos são escritas enquanto ainda estamos na estrada. Então, quando a turnê está finalizada, a gente consegue unir todas essas produções, ideias, coisas que temos e, você sabe, começamos a arrumar tudo para transformar essas músicas", explica.
Segundo ele, nesse período a inspiração pode até ser grande, mas nem tudo chega aos ouvidos dos fãs. "Normalmente, nós não desenvolvemos uma música se não acreditarmos na qualidade real dela. O que acontece é que, geralmente, aproveitamos cerca de 70% ou 80% do que pensamos e escrevemos", reforça. Se várias canções, solos de guitarra e outras sonoridades são produzidas em meio aos shows do Conspirators, quais os materiais decorrentes de outros projetos? A dica é: muita coisa. Slash não dá sinais de querer parar e conta, sem especificar, que algumas novidades ainda estão por vir.
Diferente
Para quem acompanha a cena, é impossível não recordar do Guns n' Roses. Junto de Axl Rose, Duff McKagan, Steven Adler e Izzy Stradlin, foram mais de 100 milhões de cópias em todo o mundo e cerca de 43 milhões apenas nos Estados Unidos. As brigas com Axl e processos na justiça o levaram a deixar o grupo, para o qual retornaria em 2016. Na época, afirmou que fazer as pazes com o vocalista era prioridade e, agora, com a volta da formação original, o grupo já anuncia o início das gravações de um novo disco. Por enquanto, nesta turnê o guitarrista só insere uma canção da banda de hard rock no setlist: "Nightrain", lançada em 1987, uma das 12 faixas do famoso "Appetite for Destruction", a estreia do Guns em gravações.
No entanto, o cenário agora é outro e Slash sabe muito bem disso. Questionado sobre o status do rock, ele enfatiza sempre ter acreditado no poder do gênero de estar além dos holofotes. "Quando comecei na música, o rock não estava em alta, não era do mainstream". Eu acredito que presenciei esse momento quando o Guns N' Roses alcançou um público bem maior, na época entre o início e a metade dos anos 1990. Mas eu digo sempre: nunca cheguei a esperar que a nossa banda se tornasse parte desse grupo dito importante". Para ele, o estilo sempre esteve às margens da indústria.
E se cabe falar desse aspecto, também é necessário comentar como as atuais tecnologias inserem questões no mundo da música. Disso, o guitarrista aponta questões positivas e negativas. "Percebo que esse novos modelos têm afetado a produção musical. E não só isso, eles mudaram toda a indústria atualmente, inclusive desde os anos 1990. Muito disso acarreta coisas negativas, claro, mas ao mesmo tempo o streaming tem desenvolvido finalmente uma plataforma mais disponível e fácil de ser utilizada pelas massas. Porém, eu acho que foi uma estrada difícil até chegar nesse ponto", reflete.
Primeira vez
A pergunta sobre Fortaleza e o show não pareceram tão clichê nesse caso, já que é a primeira vez do britânico por aqui. Conforme ele, os fãs ficarão surpresos na plateia. "Eles já estão familiarizados com nossa forma de mostrar música, mesmo assim vamos trazer muito material novo", contou aos risos, revelando-se animado para o final da passagem pelo Brasil. Em turnê pelo menos até meados de agosto, o astro encerrou a entrevista lançando expectativas. "Vou estar bem ocupado depois desta fase".