Festival Choro Jazz educa jovens cearenses e se firma como um dos grandes palcos da música no País

Iniciativa cultural gratuita e democrática celebrou 10 edições. Atuando na formação de músicos em Jericoacoara e localidades vizinhas, evento se destaca enquanto espaço de união entre grandes nomes da cultura nacional

A música foi responsável pela inédita visita a Jijoca de Jericoacoara. Aquele paradisíaco pedaço de chão cearense, praia almejada por gente de todos os cantos do mundo também reserva um encontro profundo com as artes.

Após circular por Fortaleza entre os dias 28 e 30 de novembro, o Festival Choro Jazz continuou a celebração dos 10 anos em casa. De terça-feira (3) a domingo (8), a praça principal de Jericoacoara foi novamente palco do evento reconhecido por transformar vidas e permitir o acesso da população às expressões musicais brasileiras das mais ricas e essenciais.

A união de grandes nomes do gênero instrumental, com oficinas formativas e concertos gratuitos começou com a Orquestra Jeri. Segundo relatos do fiel público e de artistas participantes, tratou-se de noite das mais emocionantes.

Cerca de 60 jovens músicos oriundos do Município e localidades vizinhas tocaram obras do imortal Pixinguinha (1897-1973). A aplaudida apresentação sedimentou o histórico inclusivo e democrático de uma iniciativa generosa e atuante fora dos grandes centros do Brasil.

Pais e parentes das crianças formadas no projeto de educação musical, mantido pelo festival, lotaram o espaço. A regência dos maestros W. Coala e Lucas Vasconcelos, também músicos atuantes na região, demarcou a realização de um verdadeiro sonho para o diretor do Festival Choro Jazz, Antônio Ivan Capucho: oferecer cultura e novas perspectivas a quem normalmente nunca teria uma chance dessas na vida. A edição 2019 é fruto do importante edital "Petrobras Cultural - Música em Movimento".

A estreia contou com shows do violonista paraense Sebastião Tapajós e do grupo paulistano Trio Corrente, vencedor de dois prêmios Grammy, com Fábio Torres ao piano, Paulo Paulelli no contrabaixo e Edu Ribeiro na bateria. Na quarta-feira (4), o pianista Cristóvão Bastos apresentou toda a categoria que possui no instrumento.

Outro atrativo foi as participações de Jota P & Carol Panesi Quinteto (SP). Jota P (saxofone e flautas) e Carol Panesi (violino e teclados) garantiram riqueza de timbres e temas. Panesi (que também cuidou da oficina de cordas populares) foi pura inspiração para muitas meninas e garotas presentes na plateia.

Na quinta-feira (5), o clima em Jeri era de total contato com as raízes da sonoridade brasileira. Rodas de choro e samba iluminavam bares e barracas. O vaivém de visitantes com algum instrumento debaixo do braço era apenas o indício de uma localidade abençoada pela força transformadora da cultura. Respira-se som quase 24 horas. Um panorama do jazz nacional e internacional une-se ao cancioneiro popular e à música regional.

Dividindo a arte

O terceiro dia do Choro Jazz foi agitado com o show de Jaques Morelembaum. O mestre do violoncelo trouxe o projeto Cellosam3atrio, realizado na feliz companhia de Lula Galvão (violão) e Rafael Barata (bateria).

No palco, três caras alimentam um som repleto de curtição, quando tocar significa unir o sublime ao aconchego da amizade. Quem puxa o bonde é Morelembaum, cujo domínio do instrumento advém de profunda alma.

Se a experiência nas quatro cordas ambienta o jogo dramático das composições, ao violão, Lula demonstra excepcional cuidado e Barata retribui como se tocasse (sozinho) todo um bloco de carnaval.

"Vai passar" bota todo mundo de pé e anuncia o futuro de um Brasil mais feliz. O público responde. A criançada brinca feliz e um canto certo é o espaço de percussão cuidado por Zé Benedito.

O grupo Época de Ouro faz o espetáculo que fecha a quinta-feira. Fundado em 1964, por Jacob do Bandolim (1918-1969), o grupo seguiu atuante ao longo das décadas, com Ronaldo do Bandolim na direção do leme.

O sexteto conduz o choro na maciota. O evento prossegue no signo da alegria coletiva, essencial à rua, à praça, onde o povo deve estar: sorvendo cultura. Ter 100 festivais como esse acontecendo ao mesmo tempo por todo o Ceará ainda seria muito pouco.

De Minas Gerais, Toninho Horta trouxe pura explosão ao centro do Choro Jazz. Munido da guitarra japonesa não parou. Elogiou a lua mandando "Moon River" de Henry Mancini (1924-1994). Clube da Esquina, improvisos e um clima de total liberdade dominam as situações. O concerto inclui as presenças do elogiado guitarrista Pedro Martins e do baixista Michael Pipoquinha.

Vale lembrar que a dupla vai entregar um disco de parceria em 2020. O encontro nasceu em Jeri, na edição 2017 e ganhou o mundo. Outro nome apresentado é o multi-instrumentista Lucas Arruda.

Passada a saraivada de solos foi a vez dos cariocas do Samba de Fato entregarem uma apresentação impecável. O show demarcou um dos pontos altos de 2019 que é a homenagem ao poeta e compositor Paulo César Pinheiro. A noite rara trouxe as participações de Sérgio Santos, Julião Rabello e Ana Rabello (filhos do homenageado).

No sábado (7) foi vez de aplaudir o capixaba Zé Renato e o paulistano Renato Braz. Filó Machado Sexteto trouxe som, jazz e afetuosidade ao festival. O domingo foi encerrado com Arismar do Espírito Santo (ao lado da Orquestra das Areias), Forró do Zé Pitoco e a cantora paulistana Luciana Alves.

O Choro Jazz explicou toda a importância e força de sua trajetória. Segue essencial e único.

* O repórter viajou a convite do festival