A partir desta terça-feira (2), quem adentrar os salões da OMA Galeria, no Jardim Paulista, em São Paulo, poderá ter acesso a parte da produção artística contemporânea do Ceará, em suas mais diversas vozes. Com curadoria da crítica de arte Lucas Dilacerda e obras de 39 artistas do Estado, a exposição coletiva “Vórtex” fica em cartaz até 4 de maio e integra o Circuito SP-Arte, considerada a mais importante semana de arte da América Latina.
A ideia da mostra surgiu quando o diretor da galeria, Thomaz Pacheco, convidou Lucas para pensar em um recorte que representasse o que tem sido feito na arte contemporânea cearense. Em apenas um mês, a curadora chegou a uma lista com artistas de 14 municípios do Ceará, que abordam temáticas variadas, como ancestralidade, religiosidade, negritude, direito à moradia, questões ambientais e de gênero, entre outras.
“Minha missão era mostrar que a arte cearense é múltipla, tanto nas linguagens quanto em corpos, gêneros, raças e poéticas. Porque há um desafio quando você vai expor em São Paulo, que é que as pessoas já esperam algo da produção artística cearense; então, também tive a missão de tentar desmistificar esses estereótipos”, explica Dilacerda.
Ainda segundo a pesquisadora, a exposição é uma chance de mostrar, a especialistas de todo o País – já que a SP-Arte movimenta a cena artística a nível nacional e internacional – que o Ceará tem discutido “todas as questões que atravessam a arte contemporânea” de maneira intensa e diversa.
Essa pluralidade, para Lucas, é resultado de quem tem produzido cultura no Ceará. A curadora destaca que a mostra buscou trazer representatividade em diversas facetas. “Há boa representatividade de mulheres, travestis, transmasculinos, pessoas não-binárias, indígenas, negras”, pontua.
Houve também preocupação de reunir artistas mais jovens, que estão expondo fora do Ceará pela primeira vez, e artistas já experientes – que, para o eixo artístico sudestino, tristemente são lidos como “novos”, lembra Lucas Dilacerda.
“Como ainda há muito etarismo na arte, buscamos, inclusive, aproximar obras de artistas mais jovens e mais velhos, para mostrar como existem conexões entre elas”, completa.
O efeito imediato da exposição é certo: se fazer presente na semana mais aquecida do mercado latino-americano de arte contemporânea, sendo conhecido e visto por especialistas e entusiastas, é conquista de grande relevância; mas Lucas Dilacerda acredita que a mostra terá efeitos ainda mais duradouros.
“A médio prazo, essa exposição vai ter grandes efeitos. Tenho certeza que, depois dela, vários artistas cearenses vão voltar para outras exposições, ganhar oportunidades, além de voltar para o Ceará com novos conhecimentos e difundi-los”, reforça.
Um olhar sobre a retomada indígena no CE
Foi ainda na adolescência, em Quixelô, cidade do Centro Sul cearense, que o historiador e artista visual Ruy Relbquy, hoje com 36 anos, começou a se interessar e trabalhar com pintura. Participou da primeira exposição em 2007 e, desde então, esteve em eventos de grande relevância em estados como Paraíba, Goiás e São Paulo.
Mesmo com os mais de 20 anos de experiência, Ruy entende que a oportunidade de expor durante a SP-Arte é única, já que o evento é “um dos mais prestigiados no mundo das artes visuais”.
O artista irá expor o tríptico Mulher Indígena Kixelô Kariri dos Kixelô do Ceará, que visa resgatar a história e cultura dos povos Kixelô Kariri. Ruy, assim como diversos outros descendentes de povos originários, viu na sua própria jornada de retomada indígena a possibilidade de debater, por meio da arte, a relevante luta dos Kixelô cearenses contra o apagamento de sua história.
"Estou empolgado com a oportunidade de compartilhar minha arte com um público tão diversificado e qualificado", celebra.
Corpos em transformação
Nascida na capital cearense, a artista plástica Darks Miranda, 38, tem uma trajetória artística baseada na experimentação. Aos 17, foi para o Rio de Janeiro estudar e trabalhar com cinema; depois, migrou para as artes plásticas, onde se encantou pela possibilidade de testar várias mídias e suportes. Hoje, se dedica especialmente à escultura, investigando diferentes materiais.
A curiosidade pelo novo – mas também pela memória – foi força motriz durante o trabalho que originou a peça A Primeira Pele, exposta na OMA Galeria a partir desta terça (2). A obra, um molde feito em látex líquido e fundido em bronze, estimula uma reflexão sobre cascas, peles e a ação do tempo.
"É um trabalho que pensa esses corpos híbridos, corpos que estão entre uma coisa e outra, entre uma matéria e outra, uma forma e outra", pontua Miranda. "É uma pele enrugada, com várias protuberâncias, que parece uma geografia também".
Por ter saído do Ceará ainda jovem, Darks conta que é a primeira vez em que irá expor em uma mostra totalmente dedicada à arte do Estado. Entusiasmada com o ineditismo, a artista celebra a possibilidade de estar junto aos conterrâneos. "Estou muito feliz de poder compartilhar desse espaço com outros criadores, outros artistas cearenses, e poder perceber que a produção de artes no Ceará está muito fervilhante", conclui.
Serviço
Exposição coletiva “Vórtex”, com curadoria de Lucas Dilacerda
Quando: De 2 de abril a 4 de maio de 2024
Onde: OMA Galeria (rua Pamplona, 1197, Casa 4 - Jardim Paulista – São Paulo)
Horário de visitação: Quarta-feira a sexta-feira, das 12h às 19h, e aos sábados, das 10h às 17h
Com obras de: Alexia Ferreira, Alice Dote, Amanda Nunes, Anderson Morais, Arivanio, Arthur Siebra, Artur Bombonato, Azuhli, Beatrice Arraes, bento ben leite, Blecaute, Celeste, Céu Vasconcelos, Charles Lessa, Darks Miranda, Diego de Santos, Dinha Ribeiro, Ferrerin, FluxoMarginal, Francisco de Almeida, Gerson Ipirajá, Jane Batista, Jonas Van, Juno B, kulumym-açu, Linga Acácio, M.Dias Preto, Marina de Botas, Merremii Karão Jaguaribaras, Negrosoousa, Nicolas Gondim, plantomorpho, Rodrigo Lopes, Ruy Relbquy, Sérgio Gurgel, Sy Gomes, VORS e Zé Tarcísio
Mais informações: @omagaleria