Especialistas apresentam propriedades e benefícios da canela para a saúde

Antibacteriana, antifúngica, antioxidante e com poder anti-inflamatório, a especiaria também é aliada no combate ao Diabetes Tipo 2, conforme estudo recente

Tempero para diferentes sobremesas incorporadas ao cardápio dos brasileiros, a canela é uma importante aliada nutricional, com propriedades e benefícios para a saúde diariamente reforçados pelas pesquisas científicas. A mais recente delas, sobre a sua eficácia no controle glicêmico, foi apresentada recentemente pelo Doutor em Enfermagem em Promoção da Saúde pela Universidade Federal do Ceará e professor da Universidade Federal do Piauí, José Cláudio Lira.

Ciente das dificuldades que os pacientes com diabetes têm no dia a dia, no controle da glicemia, na compra de medicamentos, e na mudança da dieta, o pesquisador começou a investigar mais sobre produtos fitoterápicos e viu-se atraído pelas atividades hipoglicemiantes, ainda pouco exploradas, da canela. 

A inquietação levou-o a conduzir um ensaio clínico randomizado, triplo cego e controlado por placebo, na cidade de Parnaíba, litoral do estado do Piauí**. Conforme o pesquisador, os participantes que tomaram a canela, de modo adjuvante aos antidiabéticos orais prescritos pelos médicos tiveram redução significativa nas faixas de glicemia de jejum, hemoglobina glicada, e reduziram o índice de resistência insulínica. Esse grupo também conseguiu reduzir o peso e o índice de massa corpórea. “Acreditamos que, a longo prazo, os pacientes possam ter um melhor gerenciamento dos níveis glicêmicos”, evidencia José Cláudio Lira.

“Faz-se importante ressaltar que, estamos oferecendo apenas uma possibilidade para que o paciente com diabetes tipo 2 possa utilizar no seu regime terapêutico. Igualmente, reforçamos as orientações de que a adição de canela não trará, isoladamente, a garantia de bons resultados ao tratamento do diabetes e, portanto, é preciso que o paciente faça uso das medicações e mantenha um estilo de vida saudável, com auxílio de uma equipe multidisciplinar”, orienta o pesquisador.

Propriedades

Entre nutricionistas, o consumo da canela como aliada numa dieta funcional é consenso. Cinthia Queiroga, por exemplo, destaca que a especiaria é conhecida por suas propriedades medicinais: antibacteriana, antifúngica, hipoglicemiante e antioxidante. A especialista também faz referência aos muitos estudos realizados com a canela relacionando-a com a diminuição da glicemia. 

“Os principais mecanismos para esta ação hipoglicemiante podem ser a devido a redução no tempo de esvaziamento gástrico, inibição das enzimas alfa-glicosidase e alfa-amilase pancreática, redução da gliconeogênese e ativação dos receptores de insulina”, avalia.

Cinthia cita ainda um estudo de Zanardo et al, de 2014, que demonstrou a eficácia da canela na modulação dos componentes da Síndrome Metabólica, como a redução da circunferência da cintura, diminuição da pressão arterial sistólica e diastólica, diminuição da glicemia de jejum, redução dos níveis de triglicerídios e de outros fatores de risco cardiovascular (redução dos níveis de LDL-colesterol e de colesterol total, da glicemia pósprandial, de hemoglobina glicada, redução do índice de massa corporal e da gordura corporal), e, também, o aumento da massa magra. 

O único componente da Síndrome Metabólica que não sofreu alteração com a utilização da canela, segundo a nutricionista, foi o HDL-colesterol. “Sobre sua ação no combate aos radicais livres, a fração polifenólica (composto antioxidante) da canela Ceilão parece apresentar atividade anti-inflamatória e antiartrítica”, complementa.

Consumo

A canela é obtida de várias árvores da espécie Cinnamomum família Lauraceae, e em grego significa “madeira doce”. Desde a antiguidade, como lembra Cinthia, ela é aproveitada para a fabricação de óleos voláteis e da parte interna da casca da madeira é tirada a parte que usamos como especiaria, para o uso em decocção (chá), e como tempero. 

Existem aproximadamente 250 espécies dessa especiaria, que estão mais distribuídas na China, Índia e Austrália. Os tipos mais usados para o consumo humano são a Canela do Ceilão (Cinnamomum verum) e a Canela da China (Cinnamomum cássia), como explica a nutricionista. “A Canela do Ceilão possui aroma intenso e sabor picante e adocicado; sua casca seca contém, no mínimo, 1,2% de óleo volátil, contendo, no mínimo, 60% de trans-cinamaldeído. Já a Canela da China, possui odor aromático característico e seu sabor é menos doce, levemente mucilaginoso e menos aromático que o da canela-do-ceilão (Cinnamomum verum)”.

No que diz respeito à ingestão, Lívia Araripe, nutricionista pós-graduada em nutrição aplicada à gastronomia, lembra que a especiaria é extremamente versátil, combinando com pratos doces e salgados.

“Na culinária árabe e indiana, ela é um das principais especiarias envolvida no preparo de  proteína animal. Também imagino que uma das memórias gustativas que pode vir na sua cabeça é uma combinação que casa maravilhosamente bem. Na minha opinião, um bolo de banana  chama por canela**”, sugere.

Cinthia Queiroga, por sua vez, afirma que ela pode ser usada em bebidas, vitaminas, sucos, chás, cafés, chocolates, cappuccinos, canjicas, arroz doce, aves, etc. A nutricionista também dá a dica para o preparo de chá, decocção de canela em pau: “colocar 2 ramos em 400ml de água e deixar ferver por 10 minutos”, simplifica.

Sobre a quantidade ideal de consumo, Cinthia observa que, de acordo com estudos, a toxicidade da canela é baixa e as doses usuais (pó ou extrato seco) podem variar de 500mg a 6g/dia, considerando uso seguro por até 4 meses. Lívia Araripe entende que para usufruir dos benefícios que a especiaria propõe, o ideal é que haja o consumo diário de pelo menos 1 colher de chá de canela em pó.

“Ela pode ser consumida por qualquer faixa etária, sendo contraindicada apenas para mulheres gestantes ou tentantes,  pois a  aumenta as contrações uterinas, podendo ocasionar aborto”, ressalta Lívia.

Cinthia também alerta pessoas com sensibilidade ou que apresentem qualquer sintoma de mal estar relacionados ao aroma da especiaria. “Quem tem doença renal deve consultar o médico e/ou nutricionista para uso em maiores doses”, conclui.

*Mais detalhes da pesquisa sobre canela e Diabetes Tipo 2

No estudo conduzido por José Cláudio Lira, orientado pela Profa. Dra. Marta Damasceno, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, e financiado pelo CNPq, foram recrutados pacientes com Diabetes tipo 2, não insulinodependentes, em diferentes Unidades Básicas de Saúde. Após feita uma triagem para incluir aqueles que podiam e tinham interesse em participar da pesquisa, contabilizou-se 140 voluntários, com idade entre 18 e 80 anos e há, pelo menos, dois anos com diagnóstico de diabetes, e com dificuldades de controle dos níveis glicêmicos.

De início, levantou-se diferentes dados sobre características socioeconômicas, clínicas, antropométricas e de estilo de vida, e também, foram feitos exames laboratoriais (glicemia de jejum, hemoglobina glicada, níveis de insulina e colesteróis). Após essa etapa, deu-se início à intervenção, onde metade dos participantes começou a inserir cápsulas contendo 3g de canela (Cinnamomum verum) ao seu tratamento para diabetes, e a outra metade recebeu cápsulas de placebo. A decisão dos participantes por recebe canela ou placebo foi feita de modo aleatório. A intervenção durou três meses, e ao final, repetiu-se todos os exames realizados antes do início do estudo.

O pesquisador não recomenda o consumo de canela a pacientes que possuem alergia ao produto ou que tenham alterações gastrointestinais importantes. Dar continuidade às investigações de produtos naturais possíveis para serem inseridos no cotidiano de pessoas com diabetes, bem como, ampliar os ensaios a outras regiões do país estão nos planos de José Cláudio Lira. “Já estudamos o gengibre, a cúrcuma, a farinha da casca do maracujá amarelo, o café e temos em mente desenvolver outras investigações com o caju, por exemplo”.

** Receita do Bolo de Banana com Canela

Por: Lívia Araripe, nutricionista

INGREDIENTES:

4 unidades de banana prata BEM MADURAS e amassadas (dica especial)
4 ovos de galinha (em temperatura ambiente)
200g de farinha de aveia ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ 
1 col de sobremesa de canela em pó ⠀⠀⠀⠀
1 col de café de noz moscada ⠀⠀⠀⠀
1 col de chá de fermento em pó para bolos⠀⠀⠀⠀⠀⠀

MODO DE PREPARO:

Em uma batedeira ou com o auxílio de um batedor manual, bata os ovos até espumar e dobrar de volume. Adicione as bananas, a farinha, a canela e a noz moscada. Bata até virar uma massa homogênea. Com o auxílio de uma espátula, adicione o fermento. Unte a forma com um pouco de azeite ou manteiga ghee e farinha de aveia com uma pitada generosa de canela  (fica espetacular!). Leve ao forno pré-aquecido à 180°c por aproximadamente 30 minutos ou até o palito sair limpinho. Só mais uma dica! Esse bolinho  fica de textura mais cremosa, então  comer ele quentinho com um café adoçado com canela é uma maravilha!