Especialistas apontam formas de alimentação saudável durante a quarentena

Nutricionista e psicóloga falam ainda a respeito de transtornos alimentares desencadeados nesse período

O isolamento social transferiu os trabalhadores do ambiente das empresas para escritórios improvisados em casa. E, claro, mudanças bruscas como essas geram turbilhões de expectativas, medos e incertezas. Mas o que fazer para amenizar o estresse e a ansiedade sem ter que descontar na comida? Especialistas esclarecem pontos fundamentais para enfrentar a pandemia da Covid-19.

Neste momento de crise, a nutricionista Cinthia Queiroga alerta para os cuidados com a alimentação e ressalta a importância de não confundir a ansiedade com fome ou vontade de comer. O primeiro conselho é: “Na hora de se alimentar, coma com atenção plena, se desligue dos aparelhos eletrônicos e mastigue bem os alimentos. São atitudes simples, mas que melhoram a percepção de saciedade”, aconselha. 

A psicóloga Renally Lima explica que o ato de se alimentar é vital, necessário, prazeroso e constante. Entretanto, neste momento de pandemia, é comum direcionar as necessidades emocionais para a comida como forma de ajustamento em meio à problemática para se obter prazer de imediato. 

O comer, muitas vezes, se configura em “engolir” as próprias emoções, a fim de escondê-las, porém, elas existem para serem sentidas e ressignificadas.

“Por isto, é importante nos darmos conta desse movimento disfuncional e da necessidade desse sentir para que possamos quebrar esse ciclo e que tenhamos uma nova postura frente às nossas emoções e às reais necessidades do nosso corpo”, destaca a psicóloga. 

A nutricionista ressalta que as “as emoções podem impactar diretamente no funcionamento do trato gastrointestinal, já que esse sistema também é revestido por células nervosas. Por isso, é tão comum relatos de dor no estômago, diarreia ou náuseas em pessoas que estão mais ansiosas ou passando por períodos de estresse. 

Para evitar problemas gástricos desagradáveis durante a atuação home office, a profissional recomenda organizar os horários das principais refeições e ter opções de lanches intercalados. A ideia é não ficar “beliscando” ao longo do dia ou sentir fome a ponto de comer além do normal. Enfim, o momento pede mais equilíbrio e, manter a saúde, envolve comer bem, em boa quantidade e, principalmente, com qualidade, ressalta. 

Alimentos 

Nos quadros de ansiedade, Cinthia diz que aumenta a procura por doces, bem como a necessidade por alimentos ou preparações que remetem à sensação de conforto, prazer ou boas recordações, o chamado “confort food”.

“Isto se deve à ligação entre as emoções e o comportamento alimentar, que pode ter raízes na infância, quando muitos foram educados a receber um doce ou um chocolate como recompensa, deixando a mensagem de ‘eu fiz algo muito difícil, por isto mereço comer esses doces’ ”, compara. 

Na concepção da profissional, adotar uma alimentação saudável, composta de boas fontes de carboidratos (cereais, raízes, tubérculos, frutas) e proteínas é essencial para o bom funcionamento do organismo como um todo.

Essas substâncias podem ser encontradas em leguminosas, grãos, sementes, peixes, carnes, ovos, gorduras, azeite, abacate, coco e oleaginosas, a exemplo de castanhas, amêndoas e nozes. 

Além das vitaminas e minerais presentes em frutas e verduras, e dos compostos bioativos (substâncias antioxidantes encontradas em chás e especiarias), que são de fundamental importância para o organismo, também fornecerem energia para o corpo e fortalecem a saúde neurológica, com destaque para as boas fontes de gorduras.

Indicações 

Nos casos de ansiedade, os alimentos ultraprocessados e industrializados devem ser evitados, tais como embutidos, refrigerantes, temperos artificiais, balas, doces coloridos, conservas, doces em calda, biscoitos recheados.

Conforme Cinthia, esses produtos, de um modo geral, apresentam conservantes e corantes artificiais, elevada quantidade de açúcar e glutamato monossódico, que são um gatilho para os sintomas de ansiedade. Eles provocam alterações na microbiota intestinal e podem levar à excitação na atividade neurológica. 

“O ideal é substituir doces refinados por opções adocicadas, mas saudáveis, a exemplo do chocolate amargo (comece fazendo a transição para um com 50% até que o paladar se acostume com o 70% ou mais de concentração de cacau)”, complementa.

As receitas produzidas com açúcar mascavo, de coco, demerara ou mesmo incluir frutas na rotina, isto pode ajudar na transição do paladar para o doce natural.

Outras indicações saudáveis são: investir em banana, uva, manga e frutas desidratadas, como uvas-passas, tâmaras e ameixa, que podem inclusive substituir o açúcar em receitas de bolos e tortas. O mel de abelha é uma boa opção para adoçar salada, suco ou chá, além de saboroso, confere benefícios para o sistema imunológico. 

O principal segredo em tempos de pandemia e de home office é manter o equilíbrio.

“Temos que compreender o momento, respeitar nossas limitações, mas sem esquecer que, mais do que nunca, precisamos sim de uma alimentação equilibrada e supernutritiva para que nosso organismo possa estar forte e saudável”, completa a nutricionista.