Em noite especial para a arte cearense, fomos ao Rio de Janeiro desvendar o sucesso 'Cine Holliúdy'

Uma das franquias mais queridas do cinema brasileiro retorna com a segunda temporada no Globoplay. Assistimos o primeiro episódio com o elenco e descobrimos como a série trabalha a nostalgia como resgate da cultura brasileira

Noite de quinta-feira no Rio de Janeiro. Na esquina da Avenida Ataulfo de Paiva com a Rua Carlos Gois, o recém inaugurado Kinoplex Leblon Globoplay estende tapete vermelho para “Cine Holliúdy”. Elenco, roteiristas, equipe, produção... As mentes criativas por detrás deste sucesso cearense se unem para celebrar o lançamento da segunda temporada. 

Como uma grande família em festa, estes artistas dividem abraços carinhosos. A clássica vaia cearense tempera o espaço e o saguão do cinema erguido em 1951 é tomado pela energia da trupe. Além da coletiva de imprensa, o evento teve exibição exclusiva do primeiro episódio.  

Marco no audiovisual do Ceará, “Cine Holliúdy” nasceu como curta-metragem em 2004. Após muita labuta, o diretor Halder Gomes ampliou este universo com os filmes "Cine Holliúdy" (2013) e "Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral". Hoje, a franquia segue fazendo história na TV e streaming com assinatura Globo. 

Com 11 episódios, "Cine Holliúdy" chega nessa terça-feira (23) ao catálogo da Globoplay. A promessa é de novas e hilariantes presepadas. E lá se vai o herói Francisgleydisson (Edmilson Filho) seguir a peleja de salvar o seu amado cinema da concorrência televisiva.  

A sessão vai começar

Minutos antes de o projetor ser ligado no Leblon, Stepan Nercessian aproveita para um cigarro lá fora. Nascido em Goiás, de mãe cearense, o ator explica que participar do projeto é uma alegria sem igual. Ele assume o papel como "Governador do Ceará" e deve agitar o clima político de Pitombas.

Leão de carteirinha, Halder Gomes não assistiu à partida entre Fortaleza e Fluminense ocorrida na noite anterior. Como as filmagens da terceira temporada de "Cine Holliúdy" ainda acontecem, foi impossível acompanhar o clube do coração em terras cariocas. A emoção de ver a cria chegar à segunda temporada é motivo de orgulho.

É uma alegria medonha vermos o Ceará ocupando esse espaço de tela em horário nobre, com a qualidade de 'Cine Holliúdy'. Não é uma representação isolada de um personagem ou outro. É o Ceará como nunca esteve. Representado por seus arquétipos, nossos sotaques, nossos mugangos"
Halder Gomes
Cineasta
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O intenso contato entre os artistas presentes nos traz uma pequena mostra de como deve ser o clima das filmagens. Heloísa Périssé e Matheus Narchtergaele chegam ao espaço e reforçam a união daquele grupo. Haroldo Guimarães é alegria e generosidade com o público e jornalistas.

"Cine Holliúdy" consegue unir profissionais de excelência em diferentes expressões como o teatro, TV e cinema. As atrizes Lorena Comparato, Luisa Arraes e Nanda Costa se divertem comentando sobre suas personagens. Frank Menezes, Cacá Carvalho e Flávio Bauraqui marcam presença. A noite também é luminosa para Solange Teixeira e Carri Costa. As luzes se apagam e os letreiros da série irradiam na sala. 

O que achamos de Cine Holliúdy

Sem revelar muito da trama, acompanhamos a missão de Socorro (Heloísa Périssé), agora prefeita de Pitombas, de trazer um novo tempo para o município. É claro que Olegário (Matheus Narchtergaele) não aceita ser o coadjuvante da esposa. A guerra está lançada.

Dessa vez, Francisgleydisson (Edmilson Filho)  não terá o apoio de Marylin (Letícia Collin), a musa inspiradora da primeira temporada. Com o cinema prestes a fechar as portas, resta ao "cinemista" encontrar a nova protagonista de seus filmes. Ele conta com o apoio do fiel amigo Munízio (Haroldo Guimarães).

O parceiro de aventuras arrasta "uma asa" para Formosa (Lorena Comparato), a filha de Lindoso (Carri Costa) e Belinha (Solange Teixeira). Tudo muda quando Francisca (Luisa Arraes) desembarca na rodoviária da cidade. A jovem chega à região para desvendar a identidade do verdadeiro pai.

Quando a música tema da série anuncia o fim da exibição, a comoção da equipe é contagiante. A julgar pelo episódio apresentado, a expectativa é de que temporada está nos trinques. O elenco e seus núcleos estão mais afiados do que nunca.

A dinâmica dos diálogos e o entrosamento das atuações ampliam o humor em cena. O rico universo de Pitombas é construído a partir de uma fotografia e figurinos caprichados. A aura dos anos 1970 no interior do Ceará retorna com qualidade de cinema e uma identidade visual particular. 

Referências pop e nostalgia

Filmes, novelas, Copa do Mundo, roupas, discoteca e festas regionais. Inúmeras referências de época formam o universo de “Cine Holliúdy”. Reunir tantos elementos nostálgicos é uma forma de conectar o público. Ao reunir memórias tão afetivas é possível debater acerca do Brasil dos dias atuais, aponta o elenco durante coletiva de imprensa. 

A partir da fictícia Pitombas, toda uma identidade, não só dos cearenses, como brasileira, chega aos lares do País.  Para Luisa Arraes, "Cine Holliúdy" pede espaço como representante de uma cultura brasileira que teima existir a duras penas. "É uma nostalgia, talvez, do valor de uma cultura brasileira que tentam acabar, mas resiste igual ao Francisgleydisson por aquele cinema", descreve.  

Matheus Narchtergaele destaca a reunião de artistas tão incríveis, oriundos de várias regiões do País. "Estamos brincando juntos de voltar a gostar do Brasil. "Claro que tem o nostálgico dos anos 1970 e algumas temáticas parecem antigas...Mas é um presente do Brasil", avalia. 

"O Brasil é um grande curral onde o machismo persiste, o político fisiológico ainda existe... Mas, um herói mantém o sonho de um cinema autóctone, um cinema brasileiro, tupiniquim. Eu sinto uma grande alegria em ter sido chamado para estar nesse circo com esses comediantes e essa equipe. Para fazermos uma série brincante sobre gostar novamente de nós como a gente é, com as nossas virtudes e os nossos defeitos", finaliza Matheus Narchtergaele

Além dos queridos personagens da agitada Pitombas, a série traz participações especiais de Luiza Tomé, Gero Camilo, Lucas Veloso, Nanda Costa, Eduardo Sterblitch e o já citado Stepan Nercessian. As entrevistas terminam. O cinema vai fechando as portas para um novo dia. Do outro lado da rua, num típico boteco carioca, elenco, roteiristas, produção e diretores aproveita para um último encontro. "Cine Holliúdy" é uma imensa família.