Trocar ideias, experiências e notas musicais é princípio substancial do Encontro de Cordas Flausino Valle (ECFV). Em sua quarta edição, o propósito se mantém o mesmo. Entretanto, o festival adotou um formato inédito já que, como grande parte dos eventos culturais durante o período de distanciamento social, também teve de ser adaptado para o ambiente virtual.
Com apresentações, oficinas e discussões acerca dos instrumentos e performance de cordas friccionadas, o encontro dá início à sua programação a partir deste sábado (5) e segue até o próximo domingo, dia 12 de setembro. As atrações abertas ao público poderão ser conferidas no canal oficial do ECFV no YouTube.
Originado em 2017, o evento é fruto de uma parceria entre os projetos de extensão das universidades federais do Acre e do Ceará, coordenados pelos professores Leonardo Feichas (UFAC), Liu Man Ying (UFC) e Dora Utermohl de Queiroz (UFC). Após edições sediadas em ambas as instituições, além da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, o festival chega à quarta montagem com um recorde inesperado pelos organizadores: a oportunidade de reunir representantes de 22 universidades federais, estaduais e internacionais, além de mais de 700 participantes inscritos.
Para Dora Utermohl, violoncelista e coordenadora artística do projeto, a principal potencialidade do virtual é o intercâmbio cultural amplificado. “O formato foi uma obrigação dos tempos que a gente está vivendo, da pandemia, mas graças a ele foi possível unir tantos profissionais. O mais interessante é que ele encurta as distâncias e permite essa pluralidade. Eu acredito que, se fôssemos fazer o evento presencial, nós não conseguiríamos reunir tantas pessoas”, afirma a coordenadora.
De forma a cumprir com o objetivo de fomentar o aperfeiçoamento, a pesquisa e a contemplação das sonoridades das cordas - dentre elas, o violino, a viola, o violoncelo e o contrabaixo acústico -, o evento oferece recitais públicos noturnos, comentados e interativos. Já durante as manhãs, a II Conferência do ECFV conta com apresentações de palestras, mesas redondas, comunicações de artigos científicos. As masterclasses e o ensino coletivo de cordas, regência e orquestração serão reservados para os membros inscritos.
Modificações
A nova configuração do Encontro exigiu que as atividades fossem bastante repensadas, de modo que os concertos continuassem sendo transmitidos, apesar das limitações existentes do meio. Em 2018, os recitais movimentaram Fortaleza em espaços como o Theatro José de Alencar e o Centro Cultural Belchior, na Praia de Iracema. Neste ano, o palco será o YouTube e seus potenciais de tecnologia e acessibilidade.
“É complexo, porque as pessoas desse ramo das artes performáticas saíram muito prejudicadas com tudo isso que está acontecendo. Mas vemos muita gente se adaptando ao formato on-line, com atividades remotas, e não poderíamos ficar também limitados. Essa é uma parte sempre muito importante, pois os artistas e professores têm esse momento dos concertos, que serão comentados, então o público pode fazer perguntas relacionadas à peça, à carreira. Com isso, nós queremos não só que os músicos, mas que todo o Ceará possa assistir”, declara Dora.
Dentre os convidados, se apresentam publicamente Cláudia Amaral e Lourenço Budó, Vana Bock, Emerson de Biaggi, Cláudio Cruz, Djavan Caetano, Sofia Leandro, Bruno Santos, Diego Paixão, Eli Cavalcante, Omar Guey, João Paulo Machado, Paulo Calligopoulos, Fabio Presgrave, Adriana Holtz e Luiz Amato, Helena Piccazio, Bruna Piccazio, Priscila Rato, Érika Ribeiro, Fredi Gerling e Sampa Hot Jazz com Israel Fogaça.
Com as viabilidades que o universo digital proporciona, porém, também surgem algumas barreiras, como sustenta a professora: “Para nós, uma das limitações é que não podemos tocar juntos, remotamente. A internet que temos em casa não permite que toquemos ao mesmo tempo. Até existe um software que permite isso, mas ele precisa de um equipamento específico. A outra tem relação com a qualidade do áudio. Mas eu, como pesquisadora da área de ensino e aprendizagem on-line, posso dizer que muita coisa é possível para o aprendizado de instrumentos nesse formato”.
Ação
Após três anos seguidos de realização do evento, a ideia para 2020 era não fazê-lo, com a intenção de tornar o encontro bienal. O motivo era o trabalho intenso que envolve toda a organização, pois os professores e convidados são voluntários e oferecem tempo e recursos próprios, já que o festival é realizado sem subsídios, nem apoio financeiro de entidade ou órgão de fomento.
Entretanto, com a necessidade de distanciamento, a saudade pesou e a motivação se tornou inversa: continuar resistindo e interpretando melodias. “Decidimos fazer porque estávamos com saudade de nos reencontrar, de falar de música, de discutir esses tempos”, completa Dora.
As palestras e mesas-redondas presentes na programação, dentre tantos assuntos abordados, visam também discutir a situação vivida pelas orquestras, que tanto foram impactadas. Na segunda (7), Nadilson Gama, Priscila Rato, Giovanny Conte e Eduardo Swerts debatem “O Músico de Orquestra no Brasil: perspectivas antes, durante e pós-pandemia”. Já na sexta (11), “O ensino coletivo de cordas friccionadas: desafios e perspectivas para a atualidade” é comentado por Liu Man Ying, Enaldo Oliveira, Prof. Oliver Yatsugafu e Cássio Martins.
Para cobrir custos com plataformas digitais pagas para melhor transmissão de vídeo e áudio, entre outras despesas, o festival também aceita contribuições financeiras. Os interessados em colaborar podem doar qualquer quantia para contas no Banco do Brasil (Ag: 5110-1/Cc: 143-0/Gustavo Cymrot) ou Caixa Econômica Federal (Ag: 1922/Cc: 14.600-0/Op: 023/Silvio Henrique Cordeiro Oliveira). Todas as informações estão disponíveis no edital do evento.
Serviço
IV Encontro de Cordas Flausino Valle
De 5 a 12 de setembro, no YouTube “Encontro de Cordas Flausino Valle”
Instagram: @encontroflausinovalle
Edital disponível no site: https://encontroflausino.wixsite.com/flausinovalle