Importante veículo de oposição à ditadura militar brasileira, o jornal "O Pasquim" tem todas as edições disponibilizadas no site da Fundação Biblioteca Nacional de forma gratuita.
A iniciativa se iniciou em 2019, no âmbito do aniversário de 50 anos da publicação, responsável pela criação de memoráveis histórias e personagens e famosa pela irreverência em tom de crítica ao sistema.
No total, o público poderá conferir as 1.072 edições que integram a trajetória do periódico, com possibilidade de busca por palavras no conteúdo digitalizado.
O trabalho contou com o apoio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do cartunista Ziraldo, que cederam exemplares para completar a coleção da Biblioteca Nacional.
Os arquivos estão disponíveis no portal de periódicos da instituição – a Hemeroteca Digital Brasileira – e passam a integrar um acervo de mais de sete mil títulos de jornais históricos em formato digital.
Entre memórias
Além das edições digitalizadas, o site também conta com uma seção de “memórias”, onde estão reunidos textos produzidos por colaboradores do semanário. Não à toa, há índices para busca desses conteúdos dos associados e das próprias seções do veículo.
O objetivo da ação é trazer aos usuários uma nova experiência de leitura. Para se ter uma ideia, foram identificados mais de quatro mil colaboradores e mais de 200 seções ao longo dos 22 anos em que o Pasquim circulou.
Entre os nomes mais célebres que escreveram para a publicação, estão o já mencionado Ziraldo, Chico Buarque, Millôr Fernandes (1923-2012), Laerte, Martha Alencar, Luiz Carlos Maciel (1938-2017) e Sérgio Noronha (1932-2020).
Em texto do jornalista e escritor Sérgio Augusto, intitulado "O marginal que deu certo", é possível ler as seguintes linhas sobre o veículo:
"Há quem diga — e nós não temos por que duvidar — que os três maiores fenômenos da imprensa brasileira foram, por ordem de entrada em cena, as revistas semanais O Cruzeiro (1928-1985) e Veja (1968). Não eram três? Eram. O Pasquim foi o terceiro fenômeno".
Humor como arma
Fruto do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o Pasquim lança-se na imprensa alternativa nacional em 22 de junho de 1969, ano em que o general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985) chega à presidência do País por meio de eleição indireta.
Tendo como mascote o ratinho Sid - criado pelo cartunista Jaguar, editor de humor e principal nome do projeto - o periódico tornou comuns, na boca dos brasileiros, expressões como "duca" e "putz".
Referência da charge no Brasil, prezava pelo humor textual e gráfico, com capas que agregavam chamadas e ilustrações. "Jaguar ensina: como fazer sexo sem prazer" é um dos exemplos de manchete do Pasquim, publicada em uma das edições de junho de 1984.
Concebido para circular semanalmente em Ipanema, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, o jornal rapidamente ganhou o País com as tiradas inteligentes e crítica afiada. Tais elementos eram distribuídos por entre uma variação de gêneros, contemplando assuntos como futebol, amenidades, música, cinema, teatro e cotidiano.
Durante sua existência, o veículo teve os nove nomes à frente do projeto presos. O fato ocorreu em novembro de 1970, um ano e meio após o seu lançamento. As edições continuaram circulando durante esse período, contudo, por meio de colaboradores, que se uniram ao time primeiro para prosseguir com o trabalho.
A última edição do semanário foi publicada em 11 de novembro de 1991. No mesmo texto já anteriormente referenciado, Sérgio Augusto comenta:
"Apesar dos pesares, foi muito bom enquanto durou. Para mim durou só até setembro de 1979. Se pudesse, começaria tudo outra vez. Mesmo sem saber se uma farsa, quando se repete, vira história".