As gravações da série mexicana "Chaves" terminaram em 1980, mas a história do menino órfão que morrava dentro de um barril permaneceu viva nos lares de até 91 milhões de latino-americanos por mais de 35 anos. No entanto, na última segunda-feira (3), as gerações que cresceram assistindo o programa amanheceram com a notícia do cancelamento da exibição da série por "problemas contratuais".
O fim da transmissão global no último fim de semana veio acompanhado da anúncio de que havia uma falta de acordo entre a rede Televisiva e os herdeiros de Gómez Bolaños - Chaves - pelos direitos de reprodução. Em entrevista à uma rádio, Edgar Vivar - Senhor Barriga - contou que os direitos da empresa expiraram no dia 31 de julho e não houve um consenso entre as partes para renovar o contrato. “A Televisa se recusou a pagar”, disse o ator.
'Chaves' proporcionou 1,7 bilhão de dólares à rede Televisiva entre 1995 e 2012, graças aos direitos de trasmissão, segundo a Revista Forbes.
O pesquisador David González Hernández, do Departamento de Estudos Socioculturais do ITESO-Universidade Jesuíta de Guadalajara, afirmou que a série mexicana sintetizava as referências a pobreza dos bairros urbanos, compartilhada em todos os países latinos.
“O programa conseguiu estabelecer as condições de uma espécie de matriz cultural para a identificação mexicana e latino-americana. Uma vila que serve de cadinho para falar sobre os arquétipos da condição de pobreza: o desempregado (Don Ramón, Seu Madruga, no Brasil), o proprietário que o persegue para cobrar seu aluguel (Senhor Barriga), o menino de rua adotada por um grupo (Chaves). Não é surpresa que alguns digam que o programa se situa em uma narrativa de ‘irmandade’ latino-americana dos anos setenta.”, resume.
A atriz Florinda Meza, viúva de Gómez Bolaños e a 'Dona Florinda' em Chaves, publicou uma série de tuítes lamentando o fim da transmissão. “É triste ver como em sua própria casa, à qual você deu milhões de dólares, é onde menos te valorizam”, disse. “Chaves é um programa de culto. Faz parte do DNA dos latinos.”, acrescentou.