E se existisse uma alternativa para aquele pedaço de bife no prato, que atendesse a todas as necessidades nutricionais, que fosse saboroso e, ainda, contribuísse para a diminuição dos impactos ambientais? Ela existe e já é tendência global. A chamada "carne vegetal" visa manter o prazer e o apelo visual de ter uma proteína no prato, utilizando menos recursos do planeta e promovendo qualidade de vida.
Afinal, o que é essa carne vegetal? Segundo o nutricionista Roberto Duarte, "não há uma definição clara, mas nada mais é do que um alimento que vai representar a carne tradicional no prato. Pode ser produzida, principalmente de leguminosas, como grão-de-bico, lentilha, ervilha, feijão e soja", descreve.
Oferecidas em diversas versões e formatos, naturais ou industrializadas, elas imitam hambúrguer, franco, mortadela, linguiça e salsicha. Algumas delas trazem a proposta de imitar até mesmo a textura e o sabor da carne bovina. Este é um dos pontos que mais faz surtir a curiosidade e o interesse de consumo, especialmente daquelas pessoas que têm maior dificuldade em diminuir a proteína animal da rotina alimentar.
Entretanto, Roberto afirma que estas não são as ideais, apesar de serem significantes na questão ambiental. "Podemos ter uma carne vegetal já pronta, mas que pode ser gordurosa, rica em óleos, com conservantes. Então, acaba não sendo um alimento saudável. Nós podemos e devemos colocar a mão na massa e fazer uma opção que vai ser muito melhor", diz.
Com alta taxa de nutrientes, as comidas feitas a partir das leguminosas são ricas em carboidratos complexos, fibras, proteínas, cálcio, magnésio, zinco, ferro e ômega-3. "Eu poderia dizer que elas são alguns dos alimentos mais saudáveis que existem. Sempre lembramos do feijão, mas acabamos comendo pouca lentilha, grão-de-bico, ervilha, mas todos são poderosíssimos. Caso elas componham a carne vegetal como fonte principal, por consequência, este vai ser um alimento muito rico", explica o nutricionista. Ele indica ainda a adição de temperos naturais para elevar o potencial nutritivo, a exemplo da pimenta-do-reino, orégano, cúrcuma, ervas finas, alho e cebola.
Bem-estar e saúde
Muitos são os motivos para escolhê-la. A preservação do meio ambiente, a redução da emissão de gás metano, economia de água e outros recursos naturais são algumas das soluções buscadas. Contudo, o consumo também está associado à qualidade de vida, prevenção e tratamento de doenças crônicas. Isso se dá pelo fato de não conterem os componentes mais prejudiciais da carne animal, como a gordura saturada, o colesterol e alta quantidade de proteína, já que esta em excesso também pode ser nociva para o organismo.
O profissional é enfático: "Comparando os alimentos, os vegetais sempre vão ganhar no sentido nutricional", sugere como melhor opção de alimentação variada e rica em plantas. Porém, para quem não abre mão da carne animal, é preciso se manter atento às quantidades ingeridas, visto que doenças como a diabetes, a obesidade, a hipertensão, a anemia e o câncer podem estar associadas ao consumo de carnes e derivados. Para isso, é recomendado uma rotina equilibrada, dando sempre preferências aos produtos naturais.
"Quando falamos de diminuição do risco, quanto maior for o percentual, maior será o fator protetor. Então, quem não come carne tem um risco diminuído de hipertensão, por exemplo, de 75%. Para doenças cardiovasculares, são 54%. Fora que é uma alimentação mais rica em fibras e antioxidantes e menos densa em calorias", explica.
Além da nutrição
"Não comemos somente pelo sabor ou pela nutrição, comer é mais complexo do que isso", suscita Roberto. Uma refeição completa nutricionalmente pode ser composta apenas por grãos, legumes e verduras. Entretanto, a possibilidade das carnes vegetais é uma grande aliada para quem está em transição para uma dieta reduzida em proteína animal. O apelo é, antes de tudo, visual. Considerando a cultura vigente de se ter uma fonte clara de proteína no prato, a presença de um hambúrguer de soja, por exemplo, pode facilitar o processo de fazer o indivíduo sentir e compreender que não tem nenhuma carência nutricional.
Apesar de não ser necessário um substituto direto ao bife ou ao frango no prato, como reitera o nutricionista, essa é a principal maneira de inserir esses formatos de alimentos na rotina. Substituir o ovo pelo tofu mexido, fazer um sanduíche de lentilha em vez de frango ou peixe, utilizar a soja para fazer um molho para massas são algumas das dicas sugeridas para iniciar esse costume.
A multiplicidade de alimentos, que vem em conjunto com essa nova proposta de produzir receitas alternativas às tradicionais, conduz uma exigência muito básica do corpo humano: "Consumir uma determinada quantidade de vitaminas e minerais por dia para que nosso corpo continue alinhado. E também para que a saúde óssea, a produção hormonal e todos os outros sistemas, que funcionam concomitantemente, sejam regulados. Não é algo exclusivo da carne vegetal, porque todos os vegetais terão esses nutrientes. Este é só um dos meios", esclarece o especialista.
Independentemente da motivação, equilíbrio é primordial. Não é recomendável consumir nenhum alimento em excesso, seja a carne vegetal, seja a animal. O que é mais recomendado realmente é um plano alimentar repleto de legumes, verduras, frutas, grãos e castanhas - e tudo minimamente processado.