Espalhadas pela periferia de Fortaleza, 12 bibliotecas comunitárias estão articuladas em uma campanha nas redes sociais, com um objetivo comum: a implementação de políticas públicas para manutenção desses espaços culturais de iniciativa popular.
Por meio do perfil no Instagram @bibliotecanazaria, representantes desses equipamentos reivindicam ações urgentes que deem conta de financiar as atividades e garantir a existência dos locais, muitos deles alugados ou funcionando nas casas dos coordenadores.
“Nos últimos anos, as bibliotecas têm ganhado destaque e nosso número vem aumentando, o que evidencia o desejo que muitas pessoas têm de políticas públicas relacionadas à leitura e a aceitação em relação às bibliotecas”, introduz Raphael Montag, 38 anos, um dos idealizadores da Biblioteca Viva, em atividade no Barroso há cinco anos.
Além dela, integram o movimento a Biblioteca Adianto, na Barra do Ceará; a Okupação, no Antônio Bezerra; a Livro Livre Curió, no Curió; a Filó, no Santa Filomena; a Cia. Bate Palmas, no Conjunto Palmeiras; a Papoco de Ideias, no Pici; a Quintal Cultural, no Bom Jardim; a Coisa de Preto, no José Walter; a Viva a Palavra, na Serrinha; a Midiateca, no Jangurussu; e a Periferia Que Lê, na Granja Lisboa.
Nossa demanda é que as bibliotecas sejam inseridas e financiadas pela cidade de Fortaleza. Estamos em um cenário de incertezas e fragilidade e temos muita relevância. Prestamos um serviço, nascemos espontaneamente e somos a evidência de que Fortaleza é uma cidade que anseia pelo direito à leitura”, reforça.
A campanha, segundo ele, se direciona a todos que acompanham e àqueles que ainda não conhecem o trabalho das bibliotecas, mas principalmente ao poder público.
“Nós pretendemos que os planejamentos orçamentários da cidade incluam esses espaços, como o PPA (Planejamento Plurianual)”, sinaliza o representante, explicando que já foram realizados alguns encontros com vereadores visando este propósito.
Desafios
Antes da pandemia, a Biblioteca Viva atendia cerca de 400 pessoas por mês, mas, segundo Raphael, alguns espaços registram números ainda maiores. Os visitantes são, na maioria, crianças e adolescentes.
“Nós também podemos dizer que uma parte de nosso público dos primeiros anos já são adultos, o que demonstra nossa relevância na formação de novos leitores”, observa.
Em média, os acervos desses equipamentos contam com 2 mil livros, com poucas diferenças para mais ou para menos.
“Já chegamos a emprestar em média mais de 600 livros por mês antes da pandemia. Hoje, é bem reduzido por conta das dificuldades impostas pelo coronavírus. Emprestamos algo em torno de 100 livros, mas já fazemos planos para retornar, pois algumas pessoas já estão tomando a primeira dose da vacina”, explica Raphael sobre a situação da Biblioteca Viva.
Oficinas de escrita, curso de astronomia, observação do céu com telescópio, curso de desenho e contação de histórias para crianças são algumas das atividades que o equipamento do Barroso realizava pré-pandemia.
Mensalmente, os investimentos do projeto giram em torno de R$ 1.700,00, mas, segundo Raphael, isso não representa ainda o que ele precisa de fato.
Os custos para manter um espaço como o nosso, para que ele possa atender o público de maneira mais satisfatória, pode chegar a algo em torno de R$ 5 mil. E isso pode variar de espaço a espaço”, analisa.
Parcerias
Enquanto a demanda não é atendida, os representantes se fortalecem em parcerias que já existem afetivamente há algum tempo. “Quando uma biblioteca nova nasce, geralmente se deve à influência ou à ajuda de outras. Nós também nos visitamos e nos ajudamos com frequência. Nosso público também é constituído de pessoas que visitam vários de nossos espaços, então essa articulação já é resultado de um longo processo”, enfatiza Raphael.
Segundo ele, interessados em ajudar podem contribuir curtindo a página da campanha no Instagram @bibliotecanazaria e compartilhando-a com o maior número de pessoas possível. Além disso, as bibliotecas que ainda não assinaram a campanha podem entrar em contato pelo mesmo perfil na rede social.
Consultada sobre o número de bibliotecas comunitárias cadastradas na Capital, as ações da pasta para apoiar essas iniciativas antes e durante a pandemia e a análise da viabilidade da campanha em andamento, a assessoria da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta reportagem.